JÔ DRUMOND |
A internet é recente, mas
as fake news existem desde a Grécia antiga, porém sem
esse rótulo anglicista da era digital. Com o advento das redes sociais, a
rapidez da disseminação de notícias falsas nas mãos de pessoas inescrupulosas é
realmente preocupante no jogo do “vale tudo” eleitoral.
No dia 22 de julho foi
publicada uma reportagem especial no jornal A Gazeta (ES),
intitulada “Boatos mudaram curso da história brasileira”, na qual se afirma que
criar notícia falsa com interesse político não é novidade em nosso país;
citam-se poderosos boatos que alteraram a história do Brasil. Neste período
pré-eleitoral, é mister conscientizar o eleitor do acontecido e alertá-lo para
o que poderá acontecer. Por isso tomo a liberdade de registrar, sucintamente,
alguns efeitos nefastos da boataria nos rumos da política brasileira,
registrados pela reportagem citada:
Em 1889 a proclamação da
República se deveu à revolta dos militares e, por conseguinte, à deposição do
Imperador, por causa da divulgação da notícia, jamais confirmada, de que ele
mandara prender militares republicanos.
Em 1921, foram publicadas
cartas ofensivas dirigida aos militares e a Nilo Peçanha. Tais cartas eram
falsamente atribuídas a Arthur Bernardes, para prejudicar sua candidatura à
Presidência.
Em 1937 houve um golpe de
Getúlio Vargas, com o intuito de permanecer no poder. Foi veiculada pelo rádio
a descoberta, por parte do governo, de um plano comunista (plano Cohen), que
tornaria reféns tanto os ministros de Estado quanto a Corte Suprema. As
eleições foram suspensas e Getúlio iniciou o Estado Novo.
Em 1945, a falsa notícia
de que o candidato Eduardo Gomes teria dito que dispensava os votos
dos marmiteiros, ou seja, do pessoal de baixa renda, o que ocasionou a vitória
a Gaspar Dutra.
Em 1964, a justificativa
do golpe militar foi a ameaça comunista. O então presidente João Goulart foi
rotulado de comunista a serviço de países considerados inimigos, o que também
não era verdade.
Como se vê, o perigo
das fake news não é falso. Ele paira sobre as próximas
eleições. Por isso foi criado um curso online gratuito, sob a chancela da
Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), para alertar o
público em geral. Tal curso encontra-se à disposição dos interessados no site www.firstdraftnews.org/learn.O facebook acaba de
desativar 196 páginas e 87 contas com o intuito de reprimir perfis enganosos,
que tinham aparentemente o propósito de difundir desinformações, antes das
eleições de outubro.
O desejo do poder muitas
vezes envereda por meios tortuosos: artimanhas, traições, assassinatos,
batalhas e guerras. A expressão popular “os fins justificam os meios”,
atribuída a Maquiavel (1469-1527), também é fake. Maquiavel
não era nenhum santo, mas a leitura apressada e descontextualizada de suas
teorias leva muita gente a lhe atribuir erroneamente a falta de ética de suas
verdades. Seu objetivo, no livro O Príncipe (1513), era
analisar o governo do príncipe Lourenço de Médici e lhe oferecer uma forma de
manter-se permanentemente no poder, sem ser odiado pelo público.
Na era do iluminismo, Rousseau (1712-1778) lançou a teoria do “bon
Sauvage”: “L’homme naît bon; c’est la société qui le corrompt.” (O homem nasce bom; é a
sociedade que o corrompe.) O homem, na ótica de Maquiavel,
seria justamente o contrário: ele nasce egoísta e mau; é a sociedade que o
molda. Qual dos dois estaria certo? Nenhum dos dois? Talvez ambos? A sociedade
tanto pode moldar o homem para o bem, quanto para o mal. O certo é que, como já
foi dito, nos dias de hoje, o perigo do fake não é
falso.
Jô Drumond
26/07/17