sábado, 2 de outubro de 2021

ESPECULAÇÕES “LIMPACULATIVAS”

Outro dia, conversando com a quase centenária Teodora, que viveu na zona rural, na primeira metade do século XX, tive ciência de como era desconfortável viver sem os hábitos atuais de higiene. Em sua morada não havia sala de banhos, nem ducha, nem WC. O banho de bacia era tomado em qualquer cômodo da casa. As necessidades fisiológicas eram feitas ao ar livre, aqui, ali, acolá, onde houvesse moita disponível. No entanto devia-se escolher uma moita que não tivesse sido usada recentemente, por motivos óbvios.

Quando criança, Teodora gostava da brincadeira de fazer cocô assentada em galho de árvore. Essa brincadeira acabou após um nefasto incidente. Aquilo que deveria cair no chão caiu na cabeça de seu pai, que casualmente passava por ali. Isso lhe valeu algumas chibatadas e muita bronca. Segundo ela, o que mais a aborrecia era encontrar o melhor meio de se limpar. Papel higiênico não existia. Jornais, nem pensar. Livros, somente os didáticos. Como sua mãe era costureira, ela guardava retalhos, para essa finalidade. Por precaução, mantinha um balde repleto de sabugos de milho na despensa. Quando se esquecia de pegar um sabugo, usava eventualmente alguma pedra roliça, gravetos ou folhas. Passou a evitar essa última opção desde o dia em que teve uma erupção nos “países baixos” causada por alergia ao tipo de folha. Como não sabia distinguir a folha má da boa, preferia outros procedimentos menos arriscados.

Esse relato me remeteu imediatamente a um livro de Rabelais (1494/1553), intitulado Gargantua. A temática escatológica era bastante insólita, pelo fato de ser oriunda da pena de um escritor sério. Rabelais era frade, médico e literato erudito, especialista em Direito romano e nas Literaturas grega e romana. O objetivo aparente do livro é fazer rir, mas o real objetivo ia muito além da derrisão e da sátira. O autor denuncia, por exemplo, os métodos de ensino da escolástica medieval. O pai de Gargantua o coloca nas mãos dos grandes doutores que incutem nele a sabedoria escolástica, o que o torna “idiota, palerma, distraído e bobo”. O pai percebe que o filho estava sendo prejudicado pela educação antiga e resolve que ele seria educado dentro dos preceitos modernos das nascentes ideias humanistas.

No prólogo, o autor adverte:

 

“É preciso abrir o livro e pesar cuidadosamente o que expõe. Certificar-vos-eis, então, de que a droga dentro contida é de valor bem diverso do que o promete o rótulo, isto é, de que as matérias tratadas não são tão néscias como o pretende o título [...] tomando a coisa à letra, encontrareis assuntos bem jocosos [...] mas é preciso interpretar em sentido mais elevado o que porventura julgardes dito com intenção de fazer pilhéria” (pp.42/43)

 

Vejamos uma passagem de Gargântua, na qual o autor critica a falta de brilhantismo escolar do filho:

 

 “Só se limpa o cu quando ele está sujo; ora, ele só está sujo quando se caga; logo, para limpar o cu é preciso cagar.

− OH! Que lógica tem você, meu pimpolho! Juro que vou mandá-lo para Sorbonne, pois você tem mais raciocínio do que idade. E agora continue a descrição limpaculativa, vamos!” (p.95)

 

A mordaz admiração do pai pela grande lógica do filho é hílare, quando este apresenta seu silogismo científico, com premissas que não admitem refutação: O pai Grandgosier conheceu o espírito maravilhoso do filho Gargantua na descoberta, segundo ele, do “meio de limpar o cu, o mais real, mais senhoril, mais excelente e mais expediente que já se viu” (pg.92). Tentou variados tipos de tecido, folhas diversas, palha, feno, crina, lã, tripa de boi... todos apresentavam algum tipo de problema. Limpou-se também com galináceos, com pele de veado, com pássaros e outras opções estapafúrdias. Finalmente concluiu:

 

“Digo e afirmo que não há melhor limpa-cu do que um ganso com bastante pena, desde que se ponha a cabeça dele entre as pernas (...) devido à maciez da penugem e ao calor do ganso.”  (pg. 96)

 

Gargantua decorava livros de trás pra frente, sem atentar para o conteúdo, assistia a trinta missas por dia sem prestar atenção em nenhuma, perdia tempo com jogos estúpidos e inúteis.  Como se vê, aparentemente, o objetivo de Rabelais era fazer pilhéria, mas ia muito além. Criticava o ensino “emburrecedor” da escolástica, com assimilação meramente decorativa. Apesar de ser frade franciscano, criticava também o obscurantismo religioso e a ritualização do catolicismo dogmático. Por conseguinte, chegou a ser perseguido pelos intolerantes. Como médico, empenhou-se na terapia curativa por meio do riso. Escrevia seus livros para serem lidos ou ouvidos pelos pacientes, para tornar menos amarga a dor de existir, numa época em que a medicina dispunha de poucos recursos.

A derrisão rabelaisiana, vivificadora e salutar, marca o ápice da história do riso. O teórico Bakhtin, afirma que o apogeu da história do riso teve como ponto culminante, a obra de François Rabelais.

A escola de medicina de Montpellier, onde Rabelais estudou, empenhava-se na virtude curativa do riso. Faziam-se estudos sobre a importância do "médico alegre" no tratamento das doenças e sobre o relacionamento entre médicos e pacientes.  Estudava-se a possibilidade de melhorar a qualidade de vida e de amenizar o sofrimento e a espera da morte. O riso era visto como um dom de Deus, concedido apenas aos seres humanos, uma espécie de privilégio espiritual inacessível às outras criaturas.

Retomando o fio da meada, partimos da primeira metade do século XX, retrocedemos até o final da Idade Média e percebemos que, durante séculos, quiçá milênios, as dificuldades “limpaculativas” sempre existiram, antes do advento do papel higiênico. Atualmente, rimos desses procederes citados porque eles não nos atingem. Vemos a situação friamente, imparcialmente. Para quem viveu a situação, ela certamente não é nada cômica. Trata-se daquela velha história: se alguém cai e não se machuca, todos riem; se alguém cai e se machuca, ninguém ri. O riso é incompatível com a emoção. Segundo o teórico do riso, Bergson, ele se encontra, grosso modo, no automatismo, na inflexibilidade, na distração e na insociabilidade do espectador. A velha máxima continua prevalecendo: “rir é o melhor remédio”.

Jô Drumond

 

Referências:

BACHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento. Trad. Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec; Brasília: Ed. Da Univ. de Brasília, 1987, 419 p.

BERGSON, Henri. Le rire. Paris : Quadrige/ Presse Univesitaire de France, 1991, 197 p.

DRUMOND, Josina Nunes. As trilhas da derrisão. Vila Velha: Editora Opção, 2012, 180 p.

RABELAIS, François, Gargantua. São Paulo: Editora Hucitec, 1986, 277 p.


RETORNO DOS LEITORES

ESPECULAÇÕES LIMPACULATIVAS

Já que você tocou no assunto, eu me atrevo dizer que a minha primeira escola foi na zona rural, e lá também era carente de tudo. Existia uma moita próxima chamada de CAGADOR. Era ali, o banheiro. E sempre a professora recomendava: - Na hora de se limpar tomem cuidado com às urtigas.

M.G.R.

 

Fiquei com dor de barriga de tanto rir. Dor de barriga? Chiii! ... Péraí que eu vou procurar uma moita ... e por falar em ‘moita’, tem aquela do vegetariano, tão vegetariano, tão vegetariano que levou a mulher pra trás da moita e... comeu a moita!

Credincruz! Isso é lá conversa pra elegantes damas acadêmicas????

Adorei, querida. Só uma perguntinha: não havia água? Ninguém pensou em ir para trás da bananeira levando uma latinha com água? Puxa vida... os ‘fiofós’ sofriam, hein?

Aqui, em minha cidade tem um doidinho – o Manél. No quintal do vizinho, tinha uma touceira de bananeiras.  O Manel não faz distinção de propriedade; faz que nem cachorro quando vê a porta da Igreja aberta... vai entrando. Nós o vimos saindo da touceira no quintal do vizinho – perguntamos? Ô Manel, o que vc está fazendo aí?

E ele – Fui fazê cocô num lugar gostotooooso!.

Tenho dito!

M.S.B.

 

Soube, de uma amiga, que um tio seu guardava sabugos no banheiro e os lavava para serem reutilizados. É mole? Não. É duro!

Não me esqueço de lavar as toalhinhas higiênicas, antes da existência de absorvente higiênico. Era um suplício. As manchas não saíam. Tinham que ser quaradas ao sol, com sabão.

J.N.C.

 

Em uma cidade interiorana, onde moravam uns primos, tinha uma casinha no quintal com um ‘latrina’ e pedaços de jornais cortados em quadrados e pendurados num gancho de arame. Bem rústico. A porta da tal casinha era só meia porta, de modo que a cara da gente ficava olhando tudo. Quando uma criança ia fazer Ô Ô as outras eram convocadas. Sentavam-se em frente à tal portinhola e ficávamos conversando. Eu achava tudo isso uma barato. Inédito para mim. Os tempos mudaram de maneira vertiginosa, né? Mais de mil anos em 100. Já estamos visitando outras galáxias... cos de loco!

M.H.B.

 

Qdo li sua crônica intitulada " Especulações Limpaculativas" não tive mais dúvidas do qto você é  incrívelmente culta, perceptiva por demais, e nos passa sua sabedoria de forma prazeroza aguçando nossa curiosidade e tbm sensibilidade ao olhar as cenas de cotidiano. Você, Jo, é mistura de simplicidade e grandeza

M.P.P.

 

Merci beaucoup pour cette vision scatoloqique très inattendue sous ta

plume qui est le plus souvent poétique et délicate.

En fait tu touches là un sujet sensible et en fouillant un peu au sein

des artistes les plus en vue on s'aperçoit qu'il y a un multiplicité

de cas une grande partie de la correspondance de Mozart, une autre

lecture du sonnet de Rimbaud les voyelles, et tant d'autres.

Chez Rabelais les cas est évident mais il arrive à en faire une alchimie

pour passer au sein de son œuvre de la "materia prima" la

plus ordinaire  l’œuvre au noir, puis l’œuvre au blanc et enfin l’œuvre

au rouge.  Car derrière tout cela, derrière (c'est le cas de dire!)

cette cocomanie on aboutit chez Rabelais à une pensée, une vision du

monde, une forme de quintessence, de philosophie.

Très amicalement

J.L.B

 

 

Na fazenda, usava-se sabugo. E o vaso era um buraco sobre o riacho. Em casa era jornal, cortado em 4 partes cada página preso num arame curvado preso na parede perto do vaso. Quando passeando ou viajando eram folhas de mamona, taioba em geral. Ruim quando por engano pegava urtiga. Varadas apanhei por ter feito as necessidades assentada num galho de biribá. O que estava preso caiu em cima da cabeça do meu irmão, que brincava num balanço. Eu lhe avisei que não estava aguentando e ele não acreditou. Eu ri e ele chorou.

E.A.V.

 

Jo, a sua  capacidade para escrever textos é indescritível.  Com muita  classe,  ao mesmo tempo que relata  essa saga de uma época em que eu jamais gostaria de ter vivenciado.

D.M.

 

Ei Jô! Ri muito desse texto. Mas realmente é bom a gente parar pra pensar nesse passado, antes e depois do papel higiênico e do WC. Hoje vejo até vasos sanitários com jatos de água para lavar o fiofó. São caríssimos, rsrsrs. Quanto conforto! E pensar que ainda existem muitas famílias sem WC e sem rede de esgoto, como naquela época.

L.B.

 

Muito interessante.  Surpreendente até também porque como você mesmo diz é iniciante no escatológico.  E eu gostei porque sua escrita continua bela e correta.

R.M.

 

Um show de narrativa, algo insólita. Me peguei sorrindo à larga, por toda a leitura.

C.S.

 

Prática  muito comum nas fazendas dos meus  tios. Convivi, na infância com essa  situação, nas férias. A pesquisa da Jô me remete aos hábitos de higiene   praticados no interior. Era por isso que cada família tinha uma data para dar remédio de verme aos filhos.

T.B.

 

Na década de 80, vivendo em Londrina no interior do Paraná, encontrei em uma fazenda, uma "casinha" e lá estava uma cesta com  muitas sabugos para uso de quem precisasse. 

Z.M.

 

Remeti-me a minha infância quando na falta do papel higiênico limpávamos o fiofó com sabugo. E quando nos encontrávamos longe da casa, procurávamos uma moita para nos aliviarmos.

S.M.N.

sexta-feira, 30 de julho de 2021

A poética de Jô Drumond

Ester Abreu Vieira de Oliveira

(Presidente da Academia Espírito-santense de Letras)

    


  Há muitos poetas no Espírito Santo. Para esta afirmação atestam diversas obras individuais e antológicas nas várias academias do ES, como a Academia Feminina Espírito-santense de Letras e a Academia Espírito-santense de Letras.

                Dessas duas instituições relatarei em uma síntese a poética de Josina Nunes Drumond (Jô Drumond), Vice Presidente da Academia Feminina Espírito-santense de Letras, 3ª. Vice-Presidente da Diretoria 2019-2021 da AEL, ocupante da cadeira 32, que tem como patrona a poetisa citada na obra de 1934, de José Vitorino, Maria Antonieta Tatagiba, a primeira mulher capixaba a publicar um livro de poema, no RJ.

                Jô Drumond, além de ensaísta e contista, é uma poeta nata. Em 2005, em Charneca, conheci sua arte poética nos 57 poemas de temas diversos, sejam os relacionados com a sua infância, ou os pertinentes à vida familiar na fazenda, ou na região mineira de sua origem.

                O poema “CAPÃO CHATO” (p. 15) dá abertura à Charneca.  Nele renascem: casa, família e entorno, num arquétipo adormecido no fundo do inconsciente: “Com memória lacunar,/ ressuscito tempos idos/[...]”. Em DIVAGAÇÕES (p. 280) o eu poético dirá na introdução do poema “Mergulho em infindos devaneios/ Palmilho do tempo a vastidão/ Àvida por novas sensações”.  Nesse mundo onírico, Jô relembra pessoas e situações e obras literárias. Mas, como vem se dedicando a estudos críticos, ela se preocupa com o fazer poético e, no metapoema AGRURAS DA POESIA (p. 31), questiona em um jogo do não saber: “Por onde começar?/ Como se expressar?/ Lápis em riste/ papel em branco/ Grafite em franco ataque/ Amargura do poeta/ Risca e rabisca o papel/ [...]”. E em ALEGORIA DA CAVERNA (p.71), presta um tributo a Platão: “A caverna é meu mundo/ O prisioneiro sou eu [...] ”.

 Em 2009, Jô publicou Filigranas poéticas/ Filigranes poétique, com 66 poemas de pensamentos filosóficos poéticos, em português e francês. Em curtos poemas a poeta refletirá sobre a dor, o absoluto, as lembranças, o sonho, enfim sobre vários sentimentos humanos. Cito O avarento II, (L´avare II) (“Com manias  de avareza/ chora/ uma lágrima de cada vez/ por precaução/”/ “Ayant des manies d`avarice/ Il pleure/ Une larme à chaque fois/ par précaution”) e “Dédalo (Dédale)” (“No labirinto da vida/ Em cada caminho,/ Um minotauro nos espreita./ Em qualquer direção/ [...]”//  «  Dans le labyrinthe de la vie,/ à chaque chemin,/ un mionotaure nous guête./ dans toutes les directions,/[...] » (pp. 14 e 15). Esses poemas nos oferecem, com uma intertextualidade com o avarento, da obra teatral L`Avaré, de, Jean-Baptiste Poquelin (Molière), a mácula da usura humana, e com Dédalo, o arquiteto do labirinto, o mito do minotauro, acentuado na obra poética de Ovídio, as perigosas surpresas em nosso trilhar. 

                Jô Drumond é Graduada em Letras e Artes Plásticas e Doutora em Comunicação e Semiótica. Em 2021, em plena pandemia, nos presenteia com o livro POÉMÁQUA Poemas e Aquarelas, dividido em três partes: Diversos, Reflexões e Amores. Nessa obra, trinta aquarelas acompanham trinta poemas em português//francês reforçando a mensagem lírica na contemplação da natureza e da vida. Há nos poemas uma estrutura espiritual sem um arcabouço lógico.

                O poema VentaniaLa bourrasque (p. 59-60), que vem depois de uma aquarela, numa paisagem onde se movimentam as palmas de sete palmeiras, predominando o verde, é um exemplo de pulsão poética de Jô. “Observo a ventania/ recriando nuvens em céu varrido/ espalhando incertezas vida adentro/ tecendo dores em meu peito [...]”/  “J´observe la bourrasque/ qui récrée des nuages dans un ciel balayé/ qui répand des incertitudes dans ma vie/ et tisse des douleurs dans ma poitrine [...]”.  As firmes palmeiras com suas palmas balançantes são como nuvens em movimento. Esta comparação leva o eu poético a se descobrir, a ter coragem para enfrentar um oculto temor. “É preciso apagar a luz/ para enxergar as trevas”//Il faut éteindre la lumière/ pour voir les ténèbres”. E no metapoema Caminho literário Chémin littéraire (p. 22-23), antecedido pela aquarela de uma paisagem, cortada por um caminho sinuoso entre árvores, os versos tecem uma biografia poética da autora. As três estrofes são tituladas em negritos pelos versos 1- “Meu caminho é heterodoxo”, 2- “Meu caminho é poético”, 3- “Meu caminho é literário”. A conclusão do poema está nos versos em negrito: “No desvão das entrelinhas/ encontro o sentido da vida”


                 Em POÉMÁQUA... sentimos o escritor diante da realização de sua obra, compartilhamos seus anseios e observamos seus objetivos, enriquecemo-nos com o saber que transmite nas imagens verbais e visuais. Muitos poemas trazem dedicatórias, afirmando a afetividade, a admiração ou o reconhecimento de Jô a poetas franceses, como Rimbaud, ou a escritores brasileiros, como Guimarães Rosa, a obras brasileiras ou estrangeiras como Dom Quixote, e Grande sertão, a amigos como o seu cardiologista, Jorge Elias e, gentilmente, me inclui nas dedicatórias com ERRÂNCIA/ ERRANCE (p. 28-31)depois de uma aquarela, em homenagem a Cervantes com a figura de dois cavaleiros, alegoricamente representando Sancho Panza e Dom Quixote, um no seu burrinho e o outro no seu cavalo o Rocinante, numa paisagem onde se encontram moinhos de vento.

                Heidegger, em a Arte e poesia, afirma que a essência da arte é colocar a verdade do ser e esta é o belo. E em POÉMÁQUA..., a verdade da arte poética de Jô está em ilustrar a mensagem de dois aspectos: o poético da pintura e o do poema. Em cada aquarela encontra-se a essência poética e, nesse jogo, entre a palavra e a imagem, Jô brinca com as letras, colore um mundo de formas e técnicas.  Ler os poemas contidos nessa obra é viajar por um campo cultural rico e sensível.

                Enfim, a arte poética não é só confissão do artista. É onde ele encontra ecos de sinceridade de todos os homens, onde se torna, com sua arte, o porta voz da humanidade nos destaque que dá aos arquétipos humanos. Como o intérprete de cada um de nós, Jô Drumond diz, de uma maneira admirável e autêntica, o que nos falta para a manifestação de nossa emoção, não porque nos quer ensinar nada, mas porque procura apresentar-nos o objeto de sua revelação.

 


segunda-feira, 5 de julho de 2021

RELICÁRIO MUSICAL



É incrível como a música nos faz flutuar no tempo e no espaço.
 Recebi hoje, pelo WhatsApp, um vídeo sobre os bailes dos anos dourados, época em que os enamorados não podiam se tocar. No entanto, socialmente, podiam dançar de rosto colado, sussurrando-se deleitosas juras. Além das imagens dos bailes de outrora, o vídeo tráz legendas explicativas e, o mais importante, um fundo musical impecável para a ocasião: La Mer,1 com Ray Conniff.

Isso remeteu-me aos bailes de minha juventude, nos anos 60, em Patos de Minas. Eu gostava de rodopiar nas pistas de dança, ao som da canção La Mer, tanto nas horas dançantes domingueiras quanto nos frequentes bailes da Sociedade Recreativa Patense e do Patos Social Clube.

Na década de 70, quando eu morava em Ouro Preto, havia (ainda há) a famosa “Festa do Doze”, em que se comemora o aniversário da Escola de Minas,2 da Universidade Federal de Ouro Preto.

Naquela época, eram programados bailes, em três dias consecutivos. A cada dia, duas orquestras tocavam simultaneamente em dois grandes salões, na Praça Tiradentes. Uma no térreo, no espaço comumente reservado ao Remop (Restaurante Escola de Minas de Ouro Preto), onde eu fazia minhas refeições diárias; e a outra tocava no piso superior, onde funcionava a Semop (Sociedade dos ex-alunos da Escola de Minas de Ouro Preto).

Durante décadas, mesmo morando fora do Estado, todos os anos eu participava dos três bailes. O 12 de Outubro era sagrado, sobretudo para meu ex-marido, ex-aluno daquela instituição e veterano da república de estudantes chamada Poleiro dos Anjos. Para mim, baile sem La Mer não era baile. Minha preferência por essa canção ainda perdura nos dias de hoje.

Certa vez, quando morávamos no Estado do Rio, deslocamo-nos para tal evento. Pela primeira vez, essa música não fez parte da seleção musical. Saí do baile às quatro horas da manhã, contrariada por não terem tocado minha canção preferida. Ao sairmos do salão de festa, percebemos que o restaurante O Relicário, situado do outro lado da praça, ainda estava aberto. O Relicário, na época, era o restaurante ouro-pretano mais procurado por turistas estrangeiros. Funcionava no local de uma antiga senzala, nos porões de um casarão: local histórico, rústico, acolhedor e gastronômico.  O atendimento era excepcional. O proprietário, Senhor Valdemar, já idoso, tinha que se virar em diversas línguas, para agradar aos fregueses. Durante algum tempo eu lhe ensinei a língua francesa, para que ele se comunicasse melhor com a grande maioria dos turistas, originários de países francófonos. Ao final da aula, ele sempre me oferecia um prato especial, por conta da casa. 

Pois bem, voltemos à madrugada do baile. Ao perceber que o restaurante ainda estava aberto, decidimos comer algo antes voltar ao Poleiro dos Anjos. Passamos pela portinha estreita, quase imperceptível, do restaurante, descemos uma rampa também estreita, até chegarmos à sala de jantar: piso rústico, em pedras; paredes em pedras sobrepostas; porão sombrio, sem arejamento. Imagine-se a situação calamitosa desse local como dormitório de escravos, amontoados no chão, sem conforto algum e sem higiene (não havia WC, nem possibilidade de banhos). Vencidos pelo cansaço da labuta nas minas, certamente dormiam o sono dos extenuados e sonhavam: sonhos, sonhos e mais sonhos. Isso não lhes podia ser negado, nem subtraído.  Era o que lhes restava de bom.

 Naquela noite do baile, excepcionalmente, havia música ao vivo para os comensais. Seu Valdemar nos recebeu, todo solícito, alojou-nos na melhor mesa disponível, afastou-se por alguns segundos, disse algo aos músicos e voltou dizendo que a música seguinte seria oferecida a mim. Por incrível que pareça, tocaram La Mer. Ele não sabia que eu gostava da música, muito menos que eu lastimava o fato de não a ter ouvido naquela noite. Uma feliz coincidência.

Com o tempo, parei de frequentar os bailes do Doze, mas continuei gostando de dançar a mesma música ao som dos bolachões de vinil, com orquestra e coro sob a batuta de Ray Conniff. Decidi que ela seria tocada durante meu funeral. Já que um dia serei obrigada a passar por isso, que seja com música e poesia. “Não quero choro nem vela”, como diz uma canção popular, tampouco tristeza e “rezação”. Escolhi duas músicas para a ocasião: a maviosa Sonata ao Luar de Bethoven, para entrar em sintonia com o cosmos, e La Mer, com Ray Conniff, música apropriada para rodopiar de estrela em estrela, até o infinito. Destarte, essa música que me acompanhou vida adentro, me acompanhará vida afora, além do ponto final.

 

NOTAS

La mer1 :  Música de Charles Trenet, datada de 1943. Reza a lenda que, em 20  minutos, foi composta e registrada em um pedaço de papel higiênico, durante uma viagem de trem feita pelo compositor.

 

Escola de Minas2, da UFOP. Fundada pelo cientista francês Claude Henri Gorceix no dia 12 de outubro de 1876, a Escola de Minas é considerada pioneira em estudos mineralógicos, geológicos e metalúrgicos.

 

Jô Drumond

domingo, 23 de maio de 2021

QUANDO, COMO E ONDE?

                                                                                               Por que nascemos para amar, se vamos morrer?

Por que morrer, se amamos?

Por que falta sentido ao sentido de viver, amar, morrer?

(Carlos Drummond de Andrade)

Côte d"Azur

                                                            - I -

Enquanto não se descobre a fonte da eterna juventude, nós, simples mortais, almejamos vida longa e saudável. Já que a morte é inevitável, que seja mansa, sem dores e sem sofrimentos. Tudo isso foi conseguido por Dominique. Viveu um século gozando de ótima saúde física e mental. Seus filhos se casaram e se multiplicaram. Cada um seguiu sua sina, mundo afora. Apenas ela permaneceu apegada à terra natal, à casa, ao jardim, aos animais de estimação...  Satisfazia-se com clarões de lembranças. Com o tempo, aprendeu a apreciar o silêncio, parceiro constante da solidão. Dia após dia abriam-se as janelas da rotina. Gostava do cantinho escolhido para aguardar o fim de sua existência.  Não era luxuoso, nem grandioso, mas aconchegante e repleto de lembranças. Bastava fechar os olhos e viajar no tempo, para reaver toda a vitalidade e alegria ali reinantes durante décadas. Filhos, netos, bisnetos correndo, subindo e descendo a escadaria, mesa grande e farta, rodeada de olhos cobiçosos, narizes sensíveis e paladares vorazes, prestes a atacar o repasto cotidiano.

Dominique morava sozinha. Vivia totalmente independente da família. Tinha uma doméstica para as tarefas pesadas, mas era ela própria que pilotava o fogão e os eletrodomésticos. Aos noventa e oito anos, certo dia, estando sozinha, escorregou, desequilibrou-se e caiu. Não houve fratura, mas ela não dispunha de força suficiente para se erguer. As vãs tentativas duraram horas, até que, depois de ter-se arrastado, conseguiu se apoiar num móvel e se aprumar. No dia seguinte, ao receber a empregada, disse-lhe:

Catedral de Notre Dame
- Isabelle, vou morrer daqui a dois dias.

- Como assim, Madame?

- Está decidido. Estou velha. Não quero mais viver.

- Mas a família precisa ser avisada. Façamos um encontro de despedida. A senhora não pode
partir sem dizer adeus aos que a amam.

- Está bem. Então convoque-os.

No final de semana seguinte, a família reunida tentou dissuadi-la do intento, até então, irrevogável. Durante o almoço de domingo, estando à mesa, ela pediu a palavra, agradeceu a presença de todos e explicou o motivo de sua decisão.

- Gostaria de viver eternamente, se possível fosse, rodeada por essa linda família, que tanto amo. No entanto não gostaria, em hipótese alguma, de depender de outras pessoas. Vivo sozinha, nesta casa, desde que vocês se foram. Gosto do cantinho onde ancorei minha solidão. Aqui tenho sossego. Sempre tive boa saúde, mas as restrições da idade são implacáveis. Enquanto tive autonomia para viver sem ajuda de quem quer que fosse, não pensei na morte. Nesta semana, levei uma queda e tive muita dificuldade para me levantar. Qualquer dia desses, pode me acontecer algo pior. Não quero tropeçar na própria sombra, nem me sustentar em bengalas de decrepitude até que uma enfermidade qualquer me leve daqui. A vida é minha. Portanto tenho o direito de acabar com a dor de existir. O tempo não tem pressa, mas eu tenho. Prefiro partir antes da chegada do sofrimento.

- Mas, mamãe, disse Paul, pretendemos fazer uma grande festa, daqui a dois anos, para comemoração do centenário de seu nascimento. Espere pela festa. Será uma cerimônia inesquecível para todos os descendentes. Depois disso, a escolha é sua, já que, mais cedo ou mais tarde, a partida é inexorável. Não discordo de sua decisão. A meu ver, todos deveríamos ter o direito de escolher como, quando e onde vamos dar o último suspiro. Mas, por favor, não encurte seu caminho. Fazemos questão disso.

- Está bem. Já que é importante para vocês...

- Ôba!!!

Todos aplaudiram em sinal de contentamento, fizeram um brinde à sua saúde e partiram contentes.

Place des  Vosges

Cansada de arrastar os chinelos da rotina, poucos dias antes da festa, Dominique decidiu que, doravante, não comeria mais, mas tomaria líquidos, para aguardar o evento. Informados da estranha decisão, os filhos decidiram mantê-la sempre acompanhada, para que não cometesse nenhum desatino. Não poderia lhes fazer a desfeita de partir antes da hora (como se a festa de despedida fosse mais importante que a partida).

A celebração, organizada com pompa e entusiasmo, parecia reunião festiva, sem nuance sombria de despedida ou luto. A anciã, debilitada pela inanição, manteve-se assentada o tempo todo, sem grandes alegrias, nem desassossegos. Seu olhar percorria o amplo salão: os lustres antigos, de cristal, os móveis estilo Luís XVI, a imponente escadaria com corrimão dourado, as paredes decoradas com quadros valiosos de Corot, Delacroix, Renoir..., preciosidades passadas de geração em geração; provável motivo de desavenças, na hora da partilha. Fitava a tudo e a todos longamente, como se fosse pela última vez. Parecia querer levar para a morte as minudências da vida, presas à memória.

A decisão de não a deixar sozinha foi mantida durante a festa. Para surpresa de todos, ao lhe servirem suco de uva, ela exigiu seu champanhe preferido, Veuve Clicquot, chamado afetivamente por ela de “La Grande Dame”. Após tragos e mais tragos, num vislumbre de outrora, chegou a esboçar alguns passinhos de dança. Aplausos entusiásticos. Naquele momento, como centro de todas as atenções, sentia-se radiante. Não queria discurso de despedida. No entanto, ao se ver diante de um microfone e de dezenas de olhares interrogativos, disse:

Panthéon

- Meus queridos! Como lhes disse, há dois anos, se pudesse, eu ficaria eternamente com vocês. No entanto tenho que respeitar as leis naturais. Diz o adágio popular que cada um tem sua vez e sua hora. Agora é minha vez de partir. No futuro, estaremos todos em outra dimensão, dentro da grande incógnita, da qual nada sabemos e de onde não poderemos voltar. Por isso, meu último conselho é que vivam a vida em toda sua plenitude. Não desperdicem tempo com inutilidades nem patifarias. Saúde e vida longa a todos vocês. Tim-Tim!

Aplausos e mais aplausos. A festa transcorreu com visível ansiedade no ar. Ninguém ousava lhe perguntar como nem quando seria a partida. Tratava-se de uma decisão de foro íntimo, pessoal e intransferível.

No dia seguinte, todos se dirigiram à mesa para o desjejum. Somente a vovozinha continuou em sua alcova. Um sono profundo, de conluio com a eternidade, providenciou seu último desejo. Partira no oco da madrugada, naturalmente, sem sofrimento algum (como desejava). Deixou, no aconchego do leito, apenas a carcaça para as devidas exéquias e prováveis prantos.

                                                          -  II  -

Essa história não termina com a morte da protagonista, nem com um ponto final.  Dominique acabou saindo do visor do computador e da folha de papel para fazer parte de meu dia a dia.

Esse conto “Quando, como e onde?”, que nos remete a um tango argentino, foi baseado em fato real, acontecido na região da Côte d’Azur, França. Minha amiga Nicole, nascida e criada no coração de Paris, resolveu passar suas férias no Brasil, mais especificamente no meu sítio, na Mata Atlântica. Estava cansada da megalópole e da lufa-lufa citadina. Ansiava por ares montanheses, caminhadas ecológicas, ar puro, água de nascente e, sobretudo, pelo silêncio da mata, quebrado apenas pelas vozes da natureza. Em uma de nossas caminhadas matinais, ela me contou a história de Dominique, mãe de um grande amigo seu. Gostei da história e escrevi o conto, obviamente criando todos os detalhes que se furtaram ao curto relato original.

Depois de morta, Dominique se transformou em personagem ficcional. Envolvi-me de tal forma com a narrativa que a protagonista ganhou vida. Enquanto me enredava em sua história de vida, criei e fixei em minha mente a imagem de uma idosa magra, de baixa estatura, pele clara, cabelos curtos, sempre elegante e de porte aristocrático.

Nicole passou cerca de um mês conosco, no Viveiro do Silêncio. Em retribuição à hospedagem, antes de partir, fez questão que meu marido e eu prometêssemos passar  uma temporada chez elle, em Paris, a poucos metros da Praça da Bastilha. Aceitamos de bom grado. Ninguém, em sã consciência, recusaria tal convite. Nicole resolveu reformar o apartamento antes de nos receber. Ao chegarmos a Paris, na data prevista, a reforma não havia sido concluída. Os pedreiros faltaram com a pontualidade da entrega e a deixaram em maus lençóis, sem saber como hospedar seus convidados.

Ao comentar o fato com um amigo, este lhe ofereceu um apartamento mobiliado e inabitado para nos hospedar, gratuitamente, pelo tempo que quiséssemos. Tal apartamento se situava no melhor local do centro histórico parisiense, no Marais, próximo à catedral de Notre-Dame. Instalamo-nos e começamos a viver no melhor dos mundos possíveis, tendo Paris aos nossos pés. Podíamos caminhar por todo o centro histórico. Tínhamos perto de casa*: a catedral de Notre-Dame, a igrejinha Sainte Chapelle, o Panthéon, a Place des Vosges, a bibliothèque Nationale, o centro cultural Georges Pompidou, o Forum des Halles, o Palais-Royal e três museus: Louvre, Picasso e Carnavalet. Muitas outras preciosidades podiam ser revisitadas a pé, dando-nos o privilégio de circular pelas ruelas milenares do Marais, o bairro mais antigo da capital francesa.

Farum des Halles

No primeiro dia, ficamos conhecendo o proprietário do apartamento. Um senhor de meia-idade, muito simpático, que aguardava nossa chegada. Conversa vai, conversa vem, eu quis saber por que ele mantinha fechado um apartamento grande e mobiliado na região onde o metro quadrado possivelmente era um dos mais caros do mundo. Ele me disse que havia recebido esse imóvel de herança e que não havia decidido o que fazer com ele. Passava a metade do ano num chalé nos Alpes suíços, viajava muito, tinha outros imóveis em Paris... enfim, deixou claro que não tinha preocupações nem arrochos financeiros. Foi muito amável e franqueou o apartamento para nós, por tempo indeterminado.

Certo dia, Nicole foi nos visitar. Comentei com ela que o imóvel estava equipado como se fosse habitado, tendo inclusive uma ótima biblioteca repleta de livros à nossa disposição.  Foi então que fiz a grande descoberta. A última pessoa que havia ali residido, fora exatamente Dominique, mãe de Paul, seu amigo. Depois de idosa, ela havia resolvido se instalar em sua casa de veraneio, no Sul da França, onde o inverno é menos rigoroso e onde poderia usufruir das belas praias da Côte d’Azur. Decidira deixar o apartamento montado, para eventuais idas à capital. Soube também que seu pai havia sido o maior colecionador particular de obras de arte da França. Seu acervo constava de raridades valiosíssimas. Era um dos proprietários da Le Printemps, um dos mais importantes centros comerciais de Paris, durante bastante tempo.

Naquele momento, tive uma sensação deveras estranha. Dominique deixou de ser personagem ficcional. Ali estavam seus livros, seus objetos pessoais, seus utensílios domésticos... dei-me conta de que estava dormindo em seu quarto, em sua cama, usando seu banheiro... Senti-me invasora da vida alheia. Tive uma vontade incontrolável de bisbilhotar a biblioteca para descobrir seus autores preferidos, de abelhudar suas preferências musicais, na estante de discos... O tempo todo, passei a imaginar seu dia a dia naquele espaço. Gostaria de saber em qual local da mesa fazia suas refeições, em qual poltrona lia seus jornais, visualizava sua figura arrastando as pantufas da rotina.... enfim, sentia-me verdadeiramente intrusa. Incomodava-me sobremaneira sentir sua presença em todos os cômodos. A confortável hospedagem, aparentemente caída dos céus, tornou-se sinistra.  A partir de então, o espectro de Dominique começou a rondar-me.

Sainte Chapelle

Esse mal-estar durou até o dia em que, dentro dos aposentos da falecida, alojada em seu leito, abri o celular e recebi, por e-mail, a notícia de que meu texto “Quando, como e onde?” havia sido classificado, entre centenas de contos, em um concurso literário de âmbito nacional. Naquele momento, senti uma espécie de proteção do além. Era como se um dedinho de Dominique houvesse indicado meu texto aos jurados do concurso. Desde então, o espectro que antes me causava estranhamento e medo, passou a ser meu amigo, uma espécie de “fantasminha camarada”. Recebi o prêmio como agradecimento da finada pelo registro literário de sua passagem desta para outra vida. Ainsi soit-il.

 

Jô Drumond

Maio de 2021

 

*NOTA:

Catedral de Notre-Dame, o monumento que atrai o maior número visitantes. Trata-se de uma construção medieval iniciada em 1163;

Sainte Chapelle foi construída pelo rei Luís IX, em 1246, para abrigar a coroa de espinhos e outras relíquias da paixão de Cristo. É uma das mais belas igrejas parisienses, considerada obra-prima do estilo gótico;

Panthéon, construído inicialmente para ser uma igreja, hoje abriga os túmulos de grandes celebridades, tais quais Victor Hugo, Voltaire, René Descartes, Alexandre Dumas... Além disso, em seu interior, encontra-se o famoso pêndulo de Foucault, construído para demonstrar o movimento de rotação da terra;  

Place des Vosges, uma das mais belas praças parisienses, construída entre 1605 e 1612,  antigo local onde se instalava a realeza e a aristocracia, antes da construção do Palácio de Versailles;

Bibliothèque Nationale, repositório de tudo que é publicado na França;

Centro Cultural Georges Pompidou, conhecido como Beaubourg, de construção arrojada, é um dos centros culturais mais visitados do mundo;

Forum des Halles,  mercado atacadisca  de meados de 1800, demolido e transformado em charmoso  shopping center;

Palais-Royal, palácio que abriga, em seu adro, as famosas colunas de Büren;

Louvre, museu mais visitado do mundo, cujo acervo contém 380.000 itens; 

Museu d’Orsay, onde se encontra a maior coleção de pinturas impressionistas e pós-impressionistas do mundo;

Museu Picasso, consagrado à obra de Pablo Picasso;

Museu Carnavalet, o mais antigo de Paris, consagrado à história da cidade;


RETORNO DOS LEITORES


DENISE MORAES - VITÓRIA  - ES

 Jo, deleitei-me com  a crônica COMO, QUANDO E ONDE?

Será que foi  coincidência ou um privilégio que já  a aguardava,  nas surpresas inesperadas  da vida.  Quantas visitas e premiações  te aguardavam num concurso.  Tudo conspirou a seu favor.  Você ainda acredita em acasos?

Parabéns pelas conquistas.

 

TEREZINHA BICHARA -VITÓRIA -ES

 Jô,  como sempre  muito encantada e feliz da oportunidade de ler seu conto. Expressa a vida com seu maior enigma : a morte.. como será o  meu fim... A sua personagem foi sábia . Você soube com a  sua mestria usual colocar na história   as diversas sensações que o tema ensejou. O que achei mais empolgante foi a sua comunhão com a  fantasminha .Parabéns pelo prêmio. bjs,  Saudades

 

MARCOS TAVARES

 De início, parabenizo-a pela bem merecida premiação ! É este um conto — e dos melhores ! Mais do que um refletir acerca da existência possibilita ele: transcende esse mundo palpável. E não é à-toa, pois ambientado na terra de Kardec.

Essa tessitura toda só vem confirmar ainda mais o que penso a respeito da vida: ninguém morre completamente , se uma nesga de lembrança ainda restar  na memória dos seus .  Para isso vivemos: para ouvir  história , para  reproduzir  história e  para virar história.

Acredito mesmo que estivesse  a escritora Drumond toda sob o domínio mental de Dominique.  Agnosticismo à parte, creio  nessas possibilidades: algo além das teologias e crendices todas.  Intersecção de mundos paralelos, talvez. 

O seu conto, não bastasse ser bem contado, com a exatidão vocabular que lhe é já característa,  surpreende. Fosse eu um cineasta de suspense, ou  pelo menos um roteirista, esse texto seria um  altamente dramatizável.

Continue narrando: suas histórias enlaçam leitor. E sou um desses: sim, um privilegiado ! 

 

JOSÉ HUMBERTO FAGUNDES – PRETÓRIA – ÁFRICA DO SUL

Que assim seja. Dominique preservou o encanto infantil da descoberta. A inquietude, a mansidão. As agruras permearam o caminho dela, como permeiam o nosso. Conduzi-lo como Dominique requer a sabedoria de se dobrar ao destino inescapável, mas ainda assim moldá-lo à sua própria feição. When, how and where serão sempre as incógnitas neste desafio em que o idioma bretão emoldura o lusitano e desemboca no final feliz.

Je suis Dominique!

 

JEANNE BILICH – VITÓRIA - ES

Seu conto é preciosidade mais que justamente enaltecido e devidamente premiado. Viva! 👏👏👏

Gosto da sua escrita - sempre florescente com o pé plantado no real e os altos ramos beirando o talento da ficção & criatividade, Jô.

E já que falei em real ao saber o nome do seu refúgio mágico “Viveiro do Silencio”...uau! ...fiquei fascinada! Maravilhoso! Um dos meus mais caros fetiches: o silêncio - ou como gosto de dizer e escrever “o veludo do silêncio”.

Qto ao adendo do seu texto original fiquei cá a me lembrar do Mestre Nietzsche: “Não existe fato mas sim interpretação do fato” - e se vc atribuiu à Dominique sua merecida & justíssima premiação, assim É.

E sempre será ... o que nos leva ao querido e sapientíssimo filósofo Schopenhauer: “A vida é vontade e representação.” E nossa “verdade” (ou aletheia) é sempre a representação que nós conferimos aos fatos, circunstâncias ou situações. 

Nossa subjetividade se impõe soberana.

Beijos e agradeço-lhe efusivamente o prazer da leitura somado aos cumprimentos pela bela e cativante escrita. Ah...o estilo! “C’est tout” !

 

MÔNICA VERSÁTIL – BRASÍLIA - DF

Jô. Amei o texto sobre Dominique.

Acho que houve conspirações universais para que você pudesse viver essa magnífica experiência!

Ou, talvez o dedinho de Dominique querendo, lá do além que sua decisão em vida fosse eternizada por suas palavras.

Acho que ela mirou certinho ao escolher você para fazer parte da pós vida dela.

Que texto pitoresco, empolgante e cheio de surpresas!

👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

 

CIBELE MARIE – PARIS / RIO

Quando, como e onde ..... adorável e fascinante !!.  Conheci nas minhas idas chez mon cousin à Cannes, no TGV, uma senhora bem idosa, falante e simpática que me contou que também tinha escolhido sua casa de Antibes e mantido o apartamento de Paris.... lembrei - me dela ao ler teu texto.... à très bientôt chère amie. Quelle chance d’avoir à ta disposition un appartement dans Le marais.  Vontade de conhecer teu refúgio na Mata Atlântica, ES. Bises. Cibele marie

 

FRANCISCA N. CAIXETA – BELO HORIZONTE – MG

Seu excelente e premiado conto, com os desdobramentos da segunda parte, ficou ainda mais especial! A leitura é leve e agradável. Ficção e realidade se misturam de forma tão real e inesperada! Surpreendente! Parabéns!!! Se você se candidatar novamente fará jus a outro prêmio.

 

FRANCISCO BRANT – BELO HORIZONTE - MG

Super legal, Jô! Por que vc não tem, de vez em quando, um "papo" desassombrado com ela, em Paris ou na Mata mesmo, e conta mais estórias da fantástica Dominique, que nunca morreu nem vai morrer? Acho que vão pintar belos contos.

Obrigado pelo envio do texto e abraços!

 

MARIA LÚCIA TEIXEIRA DE SOUZA – VITÓRIA- ES

Querida Jô. Não só o conto é de uma delicadeza e doçura  que nos prende o tempo todo como também o adendo que o completa maravilhosamente. 

Viajei por Paris através da sua descrição, já que não podemos nos dar ao luxo de ir pessoalmente por causa da “tal pandemia “. 

Parabéns querida. Prêmio muito merecido. 

Um grande abraço. 👏🏻👏🏻👏🏻🌺

 

SONY ITHO – VITÓRIA - ES

Gostei muitíssimo...vejo Dominique passeando pela casa enquanto vc e Pádua usufruíam seus móveis, quadros, livros...

 

ANATILDES NUNES – GUIMARÂNIA - MG

Acabo de ler a história de Dominiqe e o adendo também. Achei espetacular! Muita coincidência. Realmente você tem uma maneira agradável e atraente de se expressar. O texto, ou seja, a história de Dominique é muito interessante, assim como os fatos que deram origem a esse adendo, não sei se posso chamar de Providência  ou coincidência. Isso faz qualquer pessoa pensar que a vida não termina com a morte. Isso me fez lembrar do que dizia um sacerdote antigo, já falecido há anos. “A vida é o antegozo do céu “. Cada um pode pensar o que quiser. Eu sempre creio que a vida não termina aqui.

 

IRISLENE MORATO – BELO HORIZONTE - MG

Adorei o texto! 👏👏👏

Dominique foi uma mulher encantadora,  liberta.

 

FLÁVIA MACHADO – CUIABÁ - MT

Delicioso esse texto! Fico imaginando você e o Pádua na casa de Dominique 

🥰 leitura deliciosa!!

 

MARIA DAS GRAÇAS SILVA NEVES – PARIS - FR

Bonjour. Eu li e é incrivelmente fantástico o texto. Vivi as cenas como se tivesse também participado dele. 👏👏👏 😘

 

NEUSA SERRANO – RIBEIRÃO DO CRISTO - ES

Gratidão amiga. Mais um deleite! Vc é excelente com as palavras 😃 Parabéns!!! 

 

SÔNIA  Mª GOMES DE OLIVEIRA RÊGO– BARRAS -  PIAUÍ

Que conto lindo, história de vida invejável!  Jô, você é realmente merecedora de graças,  a riqueza em detalhes leva o leitor a visitar e  viver um pouco a vida de Dominique...Parabéns!

 

LETÍCIA NUNES TEIXEIRA - RIO DE JANEIRO - RJ

Na correria da vida, só agora consegui ler esses últimos dois contos. A vida é uma caixinha de surpresas, não é? Que coincidência vocês acabarem hospedados exatamente na casa de um dos seus personagens. Coincidência ainda maior receber a notícia do prêmio enquanto ainda estava lá.  Adorei ler esses contos! Obrigada por enviá-los!

 

REGINA MENEZES – VITÓRIA - ES

Gostei muito de “QUANDO, COM E ONDE?”

Sua bela narrativa me conquistou e a História ficou quase real para mim. Vivi o momento da suave despedida e o inusitado do reencontro. Parabéns!

Será mesmo que, sendo portadores dos Espíritos do Senhor, das virtudes dos Céus, 

que iluminam nossos caminhos e abrem os olhos aos cegos, podemos mesmo prever o QUANDO, COMO E ONDE?

 

 ÁLVARO SILVA – VITÓRIA - ES

Lindo, Jô. E o melhor foi você dormir no quarto do fantasminha camarada...

Mas o texto também me remeteu a uma lembrança triste: um dia cheguei à casa de mamãe e a encontrei caída na sala, sem conseguir se levantar. Coloquei-a na poltrona com todo carinho. Entendi que ela viveria pouco tempo mais. Efetivamente, dois anos depois ela se tornou meu fantasminha camarada. Bjs.

 

PEDRO NUNES – VITÓRIA - ES

Interessante história de Dominique e de seu encontro póstumo com ela. Alberto Manguel diz, sobre compradores compulsivos de livros, que não devemos nos preocupar se não tivermos tempo para lê-los e morrermos antes. Ele diz que os livros nos lerão, ou seja, darão de nós um retrato para os sobreviventes que entrem em contato com nossas pequenas ou grandes bibliotecas. Obrigado, Jô.

 

GERALDO FERREIRA PAIXÃO – IPATINGA - MG

 Exvelente, Jô. Me impressiona sua capacidade de compor, criar e associar ideias, sempre com aquele requinte de seus contos.

Ainda curto a longevidade de Dominique e sua forma descontraída de encarar a vida. Parabéns por " Quando, como e onde".

 

SÔNIA ROSSETO – VITÓRIA - ES

Muito interessante e glamouroso o seu conto. O viver é muito interessante e surpreendente. A morte é igual para todos. Esse é o mistério maior; ela nos iguala.

 

HELENE PAULINI – BELO HORIZONTE - MG

Muito interessante!Tudo que sai de sua pena é digno de louvor querida Jô.

Amei ler a sua obra. Boa noite

 

SAMUEL MALHEIROS – VITÓRIA - ES

História maravilhosa, maravilhosamente bem escrita, e de incomparável densidade humana.

Jô, estudei durante dois anos e meio em Paris. Morava no Boulevard Saint Germain, 182. O Café de Flore  e o Deux Magots ficavam a trinta metros no No. 152.

Cansei de perambular por todos esses locais que você menciona.  Estudei na Sciences Po a trezentos metros de casa. Atravessava a pé, todo dia, o Jardin du Luxembourg para ir ao IIAP, onde também estudei. Estive lá de 1974 a 1976.

 

ÂNGELA XAVIER – OURO PRETO - MG

Lindo e emocionante tanto a história de Dominique quanto sua surpreendente hospedagem em seu apartamento de Paris.

 

MARIA JOSÉ PEDRUZZI -VILA VELHA - ES

Que texto lindo! Nos faz pensar no amanhã...😟😟😟.

E que coincidência, ir parar justo na casa da Senhora Dominique. 🤨🤨🤨

 

KATIA BOBBIO – VITÓRIA - ES

Que texto magnífico. Adorei Jô. Parabéns de novo.!!!!

 

VALENTEINA IVANOVNA DRUPNOVA– VITÓRIA - ES

Jô.. a sua história quase sobrenatural... Dominique e o nome fictício!

Parabéns pelo conto... me fez refletir sobre a velhice. 

 

GISLENE  HADDAD TAPIAS MEDINA GUIMARÃES- VITÓRIA - ES

 

Nossa!

Adorei tudo

A história

Os sentimentos

O prêmio

Maravilha

Parabéns 👏👏👏

 

ANTÔNIO DE ASSIS ROSA – PATOS DE MINAS - NG

Adorei o texto. Me fez lembrar de minha mãe que partiu na calada da noite, no dia 16/08/2018. Ela, que viveu intensamente pelos filhos, partiu desta vida em silêncio, mesmo estando acompanhada de minhas irmãs.

 

ATTILIO COLNAGO – VITÓRIA - ES

Hola Jô!

Bom falar da morte/do morrer desta forma...

Gostei muito do conto e de seu desdobramento 

Parabéns pela palavras leves e fluidas!!

Bj

 

FRANCISCO EUGENIO REIS E SILVA – TEREZINA - PIAUÍ

Bela estória! Parabéns! Gostei muito. Abraços.

 

LÉA FURTADO – VITÓRIA - ES

Jô, li todos os artigos e me deliciei com textos maravilhosos que dão um prazer enorme da leitura, tamanha a desenvoltura, a clareza e imagens nítidas, por meio de palavras ricas, cheia de cores e adjevações!

Parabéns!

Só não consegui comentar no espaço adequado

 

MARIETA APARECIDA – BELO HORIZONTE - MG

Que história incrível! consegui me transportar para dentro da narrativa,  e fiquei sonhando com Paris. Sonho em um dia visitar estes lugares mágicos, os museus, a catedral de Notre Dame...

 HELCIO GONÇALVES DRUMOND – GUARAPARI - ES

LINDO MARAVILHOSO

ME EMOCIONOU MUITO.

ABRAÇOS. HELCIO

 

IVA DE SOUZA – PATOS DE MINAS - MG

Jô, como você escreve bem numa linguagem simples e clara. Gosto de ler seus contos. Um abraço carinhoso.