sábado, 5 de outubro de 2019

SOMOS APENAS PASSANTES


Uma “soirée” inesquecível, na Biblioteca Pública Estadual de Vitória, reuniu recentemente muita gente elegante, inteligente e estudiosa, em comemoração aos 70 anos da AFESL (Academia Feminina Espírito-Santense de Letras). Houve homenagens, entrega de medalhas, declamação de poemas, boa música, e um coquetel de confraternização que alimentou mais a alma que o corpo.

O encontro festivo das imortais me remeteu a reflexões sobre efemeridade e a finitude da existência humana. Dentro de uma década, na festa dos 80 anos, certamente algumas nós não estarão mais aqui. Talvez eu seja uma delas. Com certeza, na festa dos cem anos, quase todas as quarenta cadeiras terão com novas ocupantes, que darão continuidade ao nosso labor literário. Não sei se isso me deixa alegre, pelo fato de existir, ou triste, pelo fato de ter que partir.

Não há como lutar contra as leis da natureza. Somos apenas passantes. No entanto insistimos em deixar nossos traços, por meio da escrita. Trata-se, de certa forma, de uma doce vingança contra a inexorabilidade da morte. Nossos escritos permanecerão mais tempo que nós, mas eles também terão sua finitude. Tudo depende das condições atmosféricas. Estas dependem do sistema solar. O Sol, como toda estrela, um dia se apagará, apagando juntamente com ele nossos sonhos e nossos traços.

Jô Drumond – 2019

Ocupante da cadeira nº 10