sexta-feira, 5 de maio de 2017

O DIREITO DE IR E VIR

O direito de ir e vir, defendido no século XVIII por Jean Jacques Rousseau, e garantido pelo inciso XV do art.5 de nossa Constituição Federal de 1988, foi acintosamente desrespeitado durante a manifestação política do dia 28 de abril de 2017.

No mesmo dia, durante um jornal televisivo que mostrava os inúmeros transtornos causados pelo movimento grevista em todo o país, tive a surpresa de ouvir de um dos organizadores a afirmação de que é preciso bloquear avenidas e estradas para que o movimento cause maior impacto na população.

O que se viu nessa última manifestação foi um total desrespeito à sociedade. É inconcebível que se bloqueiem estradas e vias arteriais, indispensáveis à normalidade da vida de uma cidade e de um país.

Diretamente atingida por um dos inúmeros transtornos ocorridos, faço aqui um depoimento em nome de todos aqueles que, como eu, ficaram retidos durante cinco horas, numa fila quilométrica, na BR262, sem água, sem comida e sem toalete, numa situação lamentável e constrangedora.

O local estratégico escolhido, o trevo de Realeza, dá acesso a três capitais (Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Vitória). O grande fluxo de veículos, devido ao feriadão de 1º de maio, na segunda-feira, agravou a situação.

Certamente, em momento algum os organizadores pensaram nos transtornos que causariam aos seus semelhantes. Caso tenham pensado e ainda assim insistido, a questão não é apenas grave; é cruel. Muitas famílias com crianças e idosos, tendo dificuldade de locomoção, não puderam fazer o que eu e meu marido ousamos fazer: Abandonamos o carro no acostamento, e seguimos a pé até o trevo para averiguar o que estava acontecendo.
Um grande número de manifestantes, a maioria em vermelho, batucava, tocava tambores e gritava palavras de ordem. Após horas de espera, os automobilistas se exasperaram e promoveram uma buzinação ensurdecedora. Alguns saíam dos veículos e puxavam briga com os manifestantes. A situação ficou muito tensa. Uma viatura policial, estacionada no local, nada podia fazer. Foi preciso receber reforço, para conseguir liberar as pistas.

Eu me perguntava como podia haver tamanha aglomeração fora do perímetro urbano, e como os manifestantes tinham chegado até aquele local. A resposta surgiu, clara como a luz do dia, quando vi cerca de dez ônibus, perfilados, à espera do fim do movimento.
Não sou contra as manifestações. Todo cidadão tem o direito de se manifestar publicamente. Faz parte do processo democrático. Porém todo cidadão tem também o dever de respeitar as normas de convivência social, em nome do bem comum.