Atualmente, as crianças aprendem desde cedo a valorizar e a
proteger o meio ambiente. Fala-se muito em ecologia, em sustentabilidade
ambiental, em combate à poluição, o que é muito louvável. Nos dias de hoje, a
noção de poluição, qualquer que seja, relaciona-se ao way of life da contemporaneidade. No entanto ela não é privilégio dos tempos atuais. Sempre houve muita poluição em grandes
aglomerações humanas.
Por exemplo: a quantidade de chaminés nos telhados de Paris
é tamanha que lembra uma plantação. Os antigos prédios têm em média 5 andares.
Em cada apartamento há, no mínimo, duas lareiras. Nos palacetes elas estão
presentes não apenas na área social, mas em todos os quartos. Há basicamente
uma lareira para cada duas pessoas. A densidade demográfica em Paris é de cerca
de 21.500 habitantes por Km2 o que corresponderia a 10.750 lareiras acesas por
Km2. Como a população atual é de cerca de doze milhões de habitantes, incluindo
a periferia, se todos resolvessem acender suas lareiras ao mesmo tempo, haveria
uma catástrofe gigantesca. Além da poluição do ar, aconteceria um desmatamento
desenfreado para o abastecimento de lenha.
Na atualidade, as lareiras, presentes em todos os lares
parisienses, são peças sobretudo decorativas. Certa época, o governo francês
chegou a cogitar a proibição do uso desse tipo de calefação. Isso não aconteceu simplesmente por ter sido
desnecessário. Elas continuam imponentes, porém desativadas. Apesar do
aconchego de outrora diante das chamas e das brasas, as lareiras foram
preteridas, cedendo espaço à calefação a gás (chauffage), mais prática e menos
poluente.
O “jeitinho” francês tem conseguido manter o charme de
antanho, sem causar os transtornos previstos: a lareira virtual. É idêntica à
tradicional, com brasas, chamas e calor controlados por meio da cibernética. Só
os argutos observadores de pequenos detalhes conseguem perceber alguma
diferença. As chamas variam de intensidade, de altura e de luminosidade, mas
mantêm um ciclo, dificilmente notado pelos usuários. Mesmo ciente do fato, as
pessoas se mantêm incrédulas diante do fogaréu, do calor e do estrépito das
chamas.
Outro fator poluidor de épocas passadas eram os fogões à
lenha ou a carvão. Pode-se viver sem lareira, mas não se pode viver sem
alimento. O primeiro fogão a gás surgiu em 1836. Até então o meio ambiente, o
ar e os pulmões de quem pilotava os fogões eram prejudicados. A causa mortis de
muitas de nossas avós, bisavós, trisavós... era enfisema pulmonar, apesar de
nunca terem fumado. Isso acontecia devido à proximidade do fogão à lenha, do
ferro a brasas, assim como da fumaça dos fumantes com quem elas conviviam.
Após o advento do chauffage e dos fogões modernos, a
tendência teria sido diminuir a poluição, mas surgiu outro complicador. Em
1885, usou-se o primeiro motor à gasolina. Desde então a qualidade do ar ficou
comprometida com o monóxido de carbono expelido pelos canos de descarga. Mas
não se devem condenar os transportes automotivos por isso. Antes da existência
de automóveis, havia outro tipo de poluição, de origem diversa, advinda do
trânsito. Coches, carroças, diligências, carruagens, seges e charretes, de
tração animal, circulavam nas grandes cidades, deixando o ar empesteado com o
nauseabundo odor de urina e com montes de estrume por todo lado.
Antigamente não havia rede de esgotos. Poluía-se o lençol
freático com fossas espalhadas por todo o planeta. Os mananciais de água eram
comprometidos, numa época em que não havia tratamento de água para o consumo da
população. Donde se conclui que a poluição não é um mal atual. Ela sempre
existiu em grandes aglomerações urbanas.
Hoje em dia há maior conscientização de seus efeitos
funestos, e, por conseguinte, o desencadeamento da preservação do meio
ambiente, incluindo a qualidade do ar e da água, fontes naturais de vida. A
prova disso é o aumento da expectativa de vida, a ponto de criar um problema
não cogitado pela seguridade social de décadas passadas: o do envelhecimento da
população e sua respectiva aposentadoria.
Jô Drumond