Chama-se “anglicismo” ou “galicismo” o
empréstimo de termos das línguas inglesa e francesa, incorporados ao léxico de nosso
idioma, com adaptação gráfica e, às vezes, fônica. Temos, por exemplo, os
termos franceses abajur (abat jour) e
chofer (chauffeur), que ganharam
roupagem própria em português. Chamam-se “estrangeirismos” termos que são adotados por outra língua, sem adaptação. Por exemplo, outdoor, do inglês, e rendez-vous, do francês.
Em
meados do século XX, inventou-se o termo “franglais” (français/anglais) com a publicação do livro do prof. Étiemble
“Parlez-vous franglais?” A invasão de terminologia inglesa naquele país era
tamanha, que o governo houve por bem sancionar a lei Toubon (nº 94-665 de
04/08/1994) para proteger o patrimônio linguístico francês. Tal Lei visava a
garantir a primazia de termos da língua oficial. Os organismos públicos deviam
respeitar o vernáculo local em todas as circunstâncias. Houve até mesmo
punições severas, como no caso da GE Medical System, que foi multada em 570.000
Euros, em 2006, pelo fato de ter transmitido documentos em inglês, sem tradução,
a seus empregados.
No Brasil, a presença de anglicismos
sempre existiu sem incomodar a ninguém.
No país no futebol, usa-se uma forma aportuguesada do inglês “football”.
Para substituir a palavra “futebol”,
Castro Lopes inventou os termos eruditos “ludopédio” e “balípodo”, que felizmente
não foram aceitos pelos falantes do português.
Atualmente, a presença da língua inglesa
em tudo que se refere à tecnologia é praticamente automática no Brasil, visto o
grande fluxo lexical sem correspondentes em nossa língua. Evidentemente, é bem
mais simples adotar um termo estrangeiro que criar um neologismo.
Há pouco tempo, ao me aproximar da
Central de Cópias de uma Universidade Federal do ES, vi uma placa na qual se
lia: copy center. Caso se tratasse de
um curso de idiomas, seria plausível, mas, dentro de uma universidade, não
deixa de haver um pouco de exagero. No mesmo dia, fiquei indignada pela
exarcebação do uso do inglês, ao percorrer um shopping, em Vitória. Deparei com
uma grande placa divulgação imobiliária, na qual mais de 50% das palavras eram
em língua inglesa ou dela oriundas:
“Kit automação. Bike sharing. Wifi nas areas comuns. Lounge office. Home office. Laundrywifi. Fechadura biométrica. Lazer completo na cobertura”.
Por que não usar termos do nosso
vernáculo? Suponhamos que um rico matuto, sem nunca ter tido acesso à língua
inglesa, venha da zona rural para comprar imóveis na capital. A agência
imobiliária certamente não atingirá tal cliente, pelo fato de ele não dominar
aquele código verbal.
Seria muito prático se todos os
terráqueos falassem a mesma língua. Diversas línguas universais foram criadas. O
Esperanto, criado pelo polonês Ludwig Lazar Zamenhof, no final do
século XIX, teve muita repercussão. O esperanto não foi adotado universalmente,
mas ainda é estudado e existem muitos adeptos espalhados pelo mundo, formando
uma espécie de rede esperantista. Tenho um amigo que tem contato contínuo com
falantes dessa língua, originários de diversos países. Em suas viagens
internacionais ele é muito bem recebido e alojado por esperantistas
participantes de tal rede. Destarte, economiza muito em suas andanças mundo
afora.
Segundo
o filólogo e linguista prof. José Augusto Carvalho, o esperanto tem raízes em
várias línguas: polaco, hebraico, alemão, latim, grego, russo e francês, ao
contrário das outras línguas inventadas cujo vocabulário e regras gramaticais
estavam bem próximos da língua nativa ou materna de seus inventores. A seu ver,
o esperanto não vigorou, porque não tem vitalidade, isto é, não há comunidade
que tenha o esperanto como língua oficial, e não tem historicidade, isto é, não
tem lastro cultural.
Durante muito tempo, a língua francesa
foi usada pela diplomacia internacional.
Hoje em dia, há a primazia do inglês. Sabe-se que uma língua de
comunicação internacional se faz necessária. Senti isso na pele, recentemente,
ao visitar a Hungria, cujo idioma é totalmente diferente do nosso. A língua
húngara não tem nenhuma semelhança com as línguas às quais temos acesso mais
frequente: francês, alemão, inglês, espanhol, português, italiano... ela é
totalmente ininteligível para nós, brasileiros. Todas as pessoas abordadas por mim
só falavam o idioma local. Apesar de estar em uma cidade turística, que deveria
primar pelo contato com estrangeiros, encontrei grande dificuldade.
Minha salvação era justamente a
presença, embora tímida, de alguns termos em inglês nas placas do espaço
público. Por meio deles eu podia identificar se se travava de um restaurante,
de uma lanchonete, de um museu ou de uma casa comercial. Minha salvação, na
Hungria, estava, portanto, relacionada ao mesmo motivo de minha indignação,
aqui no Brasil: os anglicismos.