(Uma das três virtudes teologais: Fé, Esperança e Caridade)
Por: Jô Drumond
Tive a oportunidade de acompanhar algumas voluntárias que promovem jogos
de bingo e passa-tempos diversos nos ambulatórios de quimioterapia e de
hemodiálise, de um grande hospital, com o intuito de alegrar os pacientes e
amenizar o peso das horas.
Entramos primeiramente na ala da quimioterapia, onde fomos muito bem
recebidas pelos pacientes. Todos participaram animadamente da brincadeira,
interagiram o tempo todo demonstrando contentamento. Antes de nossa saída, um
deles chegou a fazer um pequeno discurso laudatório enfatizando os benefícios
da presença das voluntárias.
De lá, passamos ao ambulatório de hemodiálise. A recepção foi quase
nula. Poucos quiseram participar da brincadeira. Houve quem recusasse
abertamente, quem demonstrasse desgosto pela nossa presença e houve
também quem fizesse ouvidos moucos, fingindo ignorar o que se passava. Era como
se fôssemos um bando de invasoras saudáveis e alegres apoderando-se
abusivamente de um ambiente doentio e triste. Nossa presença parecia ressaltar
a contraposição entre saúde e doença. Senti-me assaz constrangida, como
indesejável intrusa.
Saí do hospital sem entender a disparidade de acolhimento e de
participação das duas alas. Soube então, por meio de uma voluntária veterana,
que a diferença entre ambas se chama simplesmente ESPERANÇA. Na quimioterapia,
os pacientes se submetem ao tratamento, na expectativa de recuperação e/ou de
cura.
Na hemodiálise, eles têm consciência da impossibilidade da realização de
seus desejos. Terão que se submeter ao tratamento compulsório e vitalício, sem
vislumbre de melhoras. Suas vidas dependem da filtragem do sangue por um rim
artificial, três vezes por semana, num processo que dura cerca de 4 horas.
Segundo Santo Agostinho, “enquanto houver vontade de lutar, haverá
esperança de vencer”. Eu inverteria a sentença: “enquanto houver esperança de
vencer, haverá vontade de lutar”. Os pacientes renais crônicos, cientes da
impossibilidade de cura, às vezes perdem a vontade de lutar e, quiçá, o prazer
de viver.
Para Thomas Hobbes, “o desejo, acompanhado da idéia de satisfazê-lo,
chama-se esperança; despojado de tal idéia, chama-se desespero.” No caso
focalizado não se trata de desespero, mas de apatia. Tais doentes não precisam
de outro remédio senão de esperança. Somente ela lhes trará o pássaro azul da
felicidade. Com o avanço da medicina, espero que um dia ele pouse nesse
ambulatório, traduzindo sonhos em realidade.
*Jô Drumond (Josina Nunes Drumond)
Membro de 3
Academias de Letras
(AFEMIL, AEL,
AFESL) e do Instituto Histórico (IHGES