*Jô Drumond
Normalmente,
ao visitar uma cidade desconhecida, o turista começa por um city tour guiado, para ter ideia do
todo. Posteriormente, escolhe os locais a ser revisitados, a seu bel prazer. É
o que sempre faço em minhas andanças mundo afora, e foi o que aconteceu na
cidade Tiradentes (MG), berço do inconfidente Joaquim José da Silva Xavier, fundada
por volta de 1702, quando se descobriu ouro na região.
Em meu primeiro dia nessa
charmosa cidade, ao sair do hotel, situado na principal praça da cidade, fui
abordada, juntamente com meus companheiros de viagem, por um jovem que oferecia
um city tour, numa charrete
cor-de-rosa, de quatro assentos, forrada com tapete artesanal e puxada por um
belo cavalo.
Embarcamos nesse deleite. Outro rapaz juntou-se a nós, tomou as
rédeas e se pôs a repetir como uma matraca, com péssima dicção, o texto que
havia decorado para mostrar a cidade aos turistas. O fato de não articular bem
as palavras dificultava nossa compreensão. Pedíamos em vão, que diminuísse a
velocidade da fala. O que mais nos incomodava nele era um cheiro nauseabundo de
suor que emanava de seu corpo; uma fedentina insuportável capaz de provocar
enxaqueca em turistas de olfato sensível. Ao chegarmos à principal igreja
pudemos descer, pela primeira vez, para visitar o interior o monumento, segundo
ele, o segundo templo mais rico em ouro, do Brasil.
Ao retomarmos os assentos
cor-de-rosa, fomos surpreendidos pela troca de guia. Sentimo-nos aliviados,
livres do mau cheiro, e esperávamos que esse se expressasse mais claramente que
seu colega. Ledo engano! Tinha um dos maiores problemas para alguém que escolhe
esse tipo de trabalho. Era completamente gago. Ao ouvi-lo, olhamo-nos
discretamente uns aos outros com ares de troça. Nada perguntamos, para evitar
constrangimento. Ele pouco falou. Diferentemente do primeiro, batia vigorosamente
no traseiro do animal com uma vara. O guia anterior apenas balançava a rédea,
emitia um ruído com a voz, e era prontamente atendido.
Catinga
e gagueira foram apenas pequenos incidentes de percurso, comparados a algo mais
sério, que merece a atenção da sociedade protetora dos animais. O antigo
calçamento das ruas, feito com pedras irregulares, é impróprio para ferraduras.
O cavalo avançava aos tropeços, escorregando a cada passo e, às vezes, caindo
de joelhos nas descidas escorregadias. Esforçava-se ao máximo puxando a pesada
charrete ladeira acima e freando com o próprio corpo, ladeira abaixo. Além
disso, havia a punição das varadas sobre o lombo, após cada escorregão. Uma
verdadeira tortura.
Não me contive. Sugeri ao “charreteiro” que
colocasse uma proteção de borracha, ou de qualquer outro material
antiderrapante em volta da ferradura, para evitar o sofrimento do animal. Respondeu-me
que seria inviável devido ao rápido desgaste do material em atrito com as
pedras.
Fica
aqui um apelo para que se criem, o mais rapidamente possível, resistentes capas
antiderrapantes para ferraduras de quadrúpedes obrigados a subir e descer
ladeiras carregando peso, naquele tipo de pavimentação.
*Jô Drumond (Josina Nunes Drumond)
Membro de 3
Academias de Letras
(AFEMIL, AEL,
AFESL) e do Instituto Histórico (IHGES