Pela internet, recebe-se todo tipo de mensagens. Algumas nos
despertam para possibilidades até então nunca aventadas. Assisti, por meio de
um vídeo, à entrevista de um ladrão contumaz, preso diversas vezes por
ladroagem. Ele afirma que, aos trinta anos, nunca trabalhou, nunca vai
trabalhar e pretende continuar roubando.
Dessa maneira, ele acredita estar contribuindo para evitar o desemprego
de muitos trabalhadores. Em sua concepção, caso a marginalidade acabe, policiais,
escrivães, delegados, juízes, promotores, carcereiros... poderão ficar
desempregados. O meliante termina sua fala afirmando que está “contribuindo
para o bem de todos”. Por incrível que pareça, sua ideologia canhestra não
deixa de ter certa lógica. Um país sem contravenções prescindiria de diversas
funções do funcionalismo público.
Escritora Jô Drumond |
Outra lógica inusitada, originária também da internet,
partiu de um depoimento a favor do armamento total da população. Apesar de ser
a favor do desarmamento, achei a argumentação muito bem fundamentada. Segundo o
argumentador, cujo nome me escapa, desde que o mundo é mundo, existe a lei do
mais forte. Numa luta corporal, um brigão de 100 quilos certamente subjugará
outro de 40. Em qualquer tipo de contenda, vence o mais forte, o que é uma
grande injustiça contra o mais fraco. No entanto, estando ambos armados,
estarão em termos de igualdade. Um terá que vencer o outro pela persuasão, não
pela força. Em sua concepção, se todos os cidadãos se armarem, vigorará sempre
a força da persuasão, que é bem mais louvável que a força física. Eu nunca
havia pensado nisso. A argumentação, apesar de impactante, não deixa de ser
plausível.
Assim como a lógica do bandido e a lógica do armamento total
da população, há também a lógica da criança, a do louco... até mesmo a lógica polivalente, que pressupõe
mais de dois valores de verdade. Segundo uma das acepções dicionarizadas do
termo, “lógica é uma forma de raciocínio de uma pessoa ou um grupo de pessoas
ligadas por um fato de ordem social, psíquica, geográfica, etc”. Um bom exemplo
desse caso de “pessoas ligadas por um fato de ordem social” encontra-se em uma
interessante análise que o jornalista Carlos Alberto Sardenberg publicou
recentemente (O Globo, 18-01-2018) a respeito da exaltação de radicalistas
partidários, nesta turbulenta época pré-eleitoral que o Brasil está vivendo.
Segundo ele, milhares de profissionais trocaram seu trabalho pela dedicação
exclusiva à atividade política, sobretudo nos sindicatos, no partido e no
próprio governo.
Considerando uma possível troca de governo, na iminência de
perder seus postos, eles se agarram a tábuas de salvação para assegurar seu
naco, na redistribuição de cargos. No afã de se instalar no poder, partem então
para manifestações e intimidações. Grande parte dos manifestantes não está
preocupada com a melhoria das condições de vida de seus concidadãos, nem com a
propalada crise político-econômica, mas consigo própria. A militância,
aparentemente por ideologia político-partidária, na verdade se resume,
infelizmente, na manutenção de cargos e salários, ou seja, na lógica da
subsistência. A meu ver, de certa forma, eles estão certos. Como diz o ditado
popular, “saco vazio não para em pé”. Como poderia um bando de desempregados
lutar por ideais, sem resolver, primeiramente, a questão básica da
sobrevivência?
Não há uma só lógica nem uma só verdade. Finalizo repetindo
um excerto de minha crônica “Questão de ponto de vista”, publicada no livro
Tearte (2010). “Há algum tempo, circulou na internet a notícia de que a
situação socioeconômica de Cuba estava tão desastrosa, que muitas
universitárias estariam se prostituindo para sobreviver. Imediatamente Fidel
Castro teria retrucado dizendo que, ao contrário, a situação de Cuba estava tão
boa que até mesmo as prostitutas eram universitárias.”
Quem está certo? Quem está errado? Como se diz popularmente,
“tudo nessa vida é questão de ponto de vista”.