segunda-feira, 5 de abril de 2021

RISO CONTIDO

Com o recrudescimento da pandemia, calou-se o riso. Após um ano de confinamento domiciliar, sinto falta de nosso Clube do Riso, que acontecia eventualmente nos fins de semana, na Mata Atlântica. Alguns sitiantes vizinhos confluíam para nosso sítio com a finalidade de, como se diz popularmente, “desopilar o fígado”, ou “rir a bandeiras desfraldadas”. Isso afastava, mesmo que momentaneamente, todo e qualquer tipo de preocupações, tensões e problemas. Eram bons momentos de alegria e de convivialidade. A condição para participar dos encontros era a de contar anedotas, piadas ou casos engraçados, reais ou fictícios.

A meu ver, as reuniões para rir são mais saudáveis que aquelas para se encharcar de bebida alcoólica, para falar da vida alheia, para ouvir latumias de hipocondríacos, discutir política ou assuntos profissionais.

Essa ideia não surgiu do nada. Durante cinco anos, graças a diversas leituras feitas sobre a teoria dos mecanismos do riso, para uma pesquisa acadêmica, acabei descobrindo diversas curiosidades culturais concernentes à derrisão. Vejamos algumas delas:

Entre os chineses, quando alguém é convidado a jantar em casa de amigos, é de bom tom levar consigo canções e histórias cômicas ou anedotas, para provocar o riso.   Na China, há a crendice de que a pessoa deve rir fragorosamente 12 vezes por dia, para atingir a sabedoria.

Na chegada da primavera, os esquimós se reúnem para contar casos. Segundo consta, tais relatos devem provocar boas gargalhadas. Acredita-se que eles riem para esquecer o frio e a grande solidão da noite polar. O ritual do riso nessa época do ano está seguramente vinculado aos rituais antigos concernentes à fecundação da terra.  Outro dado interessante é que o riso é usado entre eles para resolver conflitos pessoais dentro de suas comunidades, por meio de simulação de lutas cômicas. Serve também para incitar ao amor. Entre os esquimós, a expressão "rir juntos" significa "fazer amor".

Em regiões da Índia e da África, a hilaridade é signo de liberação e de sabedoria. Alguns povos contam anedotas ou farsas e selecionam na plateia, segundo a reação de cada um, os discípulos que merecem receber ensinamentos. Há espectadores que gargalham antes dos outros pelo fato de captarem mais rapidamente a comicidade da cena.

O riso é reconhecidamente contagiante. Muitas vezes ele é provocado pela gargalhada do vizinho e não pela cena. O contágio do riso coletivo é notório. Normalmente, uma pessoa sozinha lendo um livro ou vendo televisão não ri escandalosamente, nem aplaude calorosamente. 

Existem lendas referentes ao riso, como a da bela princesa que nunca ria. O rei teria oferecido sua mão àquele que a fizesse rir.

No Paquistão, acredita-se que há um tipo de veneno muito raro. Se alguém o ingerir está arriscado a morrer de rir.

Na primeira metade do século XVI, a escola de medicina de Montpellier, França, empenhava-se na virtude curativa do riso. Faziam-se estudos sobre a importância do "médico alegre" no tratamento das doenças e sobre o relacionamento entre médicos e pacientes.  Estudava-se a possibilidade de usar o riso para melhorar a qualidade de vida e de amenizar o sofrimento.

No Brasil, uma ONG chamada “Doutores do Riso”, formada por pessoas fantasiadas de palhaço, treinadas em oficinas de clowns, atua em hospitais, asilos, orfanatos e instituições afins, com essa mesma finalidade.

Dizem que os ocidentais riem menos que os orientais. Acredita-se que a cultura ocidental tende a privilegiar o hemisfério esquerdo do cérebro, responsável pela lógica e pela razão. Mas isso varia de país para país. Os povos de língua latina, por exemplo, são considerados mais alegres que os de língua anglo-saxônica ou germânica. Os europeus são unânimes em considerar o brasileiro um povo alegre e descontraído.

A exemplo disso, os restaurantes e bares franceses são silenciosos. Todos falam em voz baixa. Sabe-se que na França não é de bom tom falar em voz alta, em público. Não se ouvem falatórios ou gargalhadas em bares, em restaurantes, nem nos meios de transporte. Certa vez ouvi de um francês que, quando se vê um grupo falar alto e rir fragorosamente em um ambiente desse tipo, automaticamente os demais sussurram com ares de reprovação: sûrement, ce sont des brésiliens. (com certeza, são brasileiros)

Talvez a alegria latente do brasileiro seja a razão do sucesso de nosso Clube do Riso. Lamentamos sua desativação temporária, durante a pandemia. Se não houvesse o distanciamento social compulsório, esse tipo de encontro seria muito salutar nesse longo e tenebroso período de sofrimento, de tristeza, de luto e de choro, que estamos atravessando.  As estatísticas desse início de abril computam mais de 330.000 mortes no Brasil e quase três milhões em todo o mundo. Como a vacina tarda a chegar e como ainda não há remédio contra o vírus corona, continua valendo o ditado popular: “rir é o melhor remédio”.

Jô Drumond

04.04.2021


RETORNO DOS LEITORES 

 

M. AVANI B. ROYSTER - SÃO PAULO

Jô, por alguma razão não consigo fazer o comentário direto no blog, então faço para vc, aqui.  Parabéns, mais uma vez. Vc fez um ótimo expoente do que vivemos no momento. Vc, pessoalmente, teve razões imperiosas para derramar as lágrimas de março, abril, maio... mas deu a volta por cima e continua a compartilhar suas crônicas que expressam também os sentimentos de muitos nesses tempos tenebrosos de pandemia. Admiro sua coragem. Continue assim. Quem sabe conseguimos continuar a enganar a morte e voltar aos tempos de risos que estão ainda escondidos no futuro?

 

GILSON NUNES TEIXEIRA – UBERABA - MG

Nesses tempos difíceis, ainda que o número de mortes seja tão alto, sinto-me privilegiado por pertencer a esta nação que faz o riso contagiar. Nunca o riso fez tanta falta como agora. O riso continua essencial para a vida e lamento ser “o melhor remédio”.

 

TEREZINHA NUNES SILVEIRA – UBERLÂNDIA _ MG

Muito bem. Infelizmente nesse tempo de pandemia o riso está contido, enquanto a tristeza se expande.

Abração.

 

MARIA DA PENHA FRANZOTTI DONADELLO  – MATHILDE - ES

Adorei a crônica sobre o riso. Eu não sabia que, em certos países, as pessoas se reúnem para rir. Sempre pensei em reunir amigos em minha casa, para rirmos juntos, a partir de piadas. Achei genial. Depois, gostaria de conversar pessoalmente com você sobre isso.

Você tem essas crônicas em livro? Gostaria de tê-las em mãos. É melhor que ler na telinha do celular

 

JÚLIA MARIA RIBEIRO DE CARVALHO – VITÓRIA - ES

Jô, muito querida, mais uma vez você nos presenteia nessa fase de tanta dor, com um tema tão bem colocado, que a saudade e a espera por um riso solto se tornam mais leves.

Somando, meu lado cultural está ficando vaidoso.

 

REGINA MENEZES – VITÓRIA - ES

Rir, desopilar o fígado para chegar à sabedoria.

Sabe, amiga! Adorei o texto. Se fosse possível, poderia dizer que achei até melhor que os outros.

Sabe? Ri até, com as lembranças que tive. Acho mesmo que desopilei o fígado, como dizíamos em nossos encontros fraternos com familiares e amigos.

Sua escrita é agradável e o registro de suas lembranças é feito com maestria. O leitor se envolve no ritmo e na música de sua criatividade.

 

ÍTALO CAMPOS – VITÓRIA - ES

Rir é necessário. Freud tem reflexões sobre o assunto.

 

MARIA JOSÉ NUNES – PATOS DE MINAS - MG

Completando, o riso é o melhor remédio para não chorar.

Certa vez, fui com um dos filhos levar a neta para vacinar. A pobre Ana Clara com seus 5 anos, começou a chorar. Aí, eu comecei a fazer graça diante dela, macaquices. Então, ela começou a rir. Naquele momento a moça inseriu a vacina. Ela sentiu a picada e fez cara de choro. Forcei a risada, ela entrou na brincadeira e acabou a tensão.

 

MARIA DA CONSOLAÇÃO ROSA – PATOS DE MINAS - MG

Mais um artigo de grande relevância, que nos informa e faz rir! Parabéns! seu texto ficou ótimo! E como sempre, enquanto não chega ao final da leitura, a gente não consegue parar de ler! Muito obrigada por mais um artigo!!!

 

BEATRIZ NUNES – PATROCÍNIO - MG

Jô, a pandemia trouxe o medo. As pessoas estão se sentindo tolhidas de liberdade, mas sofrimento não é ter que ficar em casa; é lutar contra um inimigo invisível, possivelmente criado em laboratório chinês, um vírus que está levando embora tanta gente. Abs.

 

VANDA LUÍZA – VITÓRIA - ES

Ótimo texto, Jô! Lembra coisas antigas... confesso que estou sem jeito para rir, me sinto culpada em meio a tanta tristeza. Será que algum poderemos voltar ao normal?

 

MARIA LUCIA TEIXEIRA DE SOUZA - VITÓRIA - ES

Maravilhoso!!! Como sempre. Um grande abraço. 💕

 

MARIA DE LOURDES PEREIRA – BRASÍLIA - DF BSB

É...rir é  realmente o melhor remédio. Chorar de...RIR!

 

DENISE MORAES – VITÓRIA – ES

Jo, li as duas últimas crônicas, estava em falta com a penúltima.

Generalizando o sentido das temáticas, pensei em quem nunca deixo de lembrar, minha mãe.  Ela, apesar de ter apreço por seus bens materiais, não os valorizava quando se tratava em ser solidária com alguém necessitado, e sempre dizia que não se pode ignorar o próximo necessitado, mesmo que seja desconhecido.  Hoje entendo sua filosofia de vida.  Ela vivia em paz consigo mesma e com o coração leve.  Esse isolamento tem me feito lembrar o quanto é importante viver, ter liberdade e paz. 

Quanto aos franceses, minha prima que mora na França, diz que só pode ser “brazuca” (na linguagem dos familiares de seu marido). 

Lamento muito pelas perdas. 

Que Deus nos proteja.

 

JAÇANAN – VITÓRIA - ES

Interessante essa aldeia indígena com esse amor livre, não tinha ouvido falar nada sobre eles.

 

 

segunda-feira, 15 de março de 2021

AS LÁGRIMAS DE MARÇO

  (FRAGILIDADE DA VIDA)

(Mata Atlântica – ES)

O vírus corona não brinca em serviço. Só no Brasil, ele tem deixado, diariamente, mais de duas
mil famílias chorando a perda de entes queridos. No mundo todo já são computados mais de dois milhões e seiscentas mil mortes entre março/2020 e março/2021.

Sabemos que o vírus é afeito a aglomerações e a pessoas mais maduras. Fugir de sua primeira preferência é possível, mas da segunda não há escapatória. Os idosos são mais vulneráveis. O vírus deve conhecer as leis da natureza: frutas maduras caem com maior facilidade que as verdes.

Na impossibilidade de fugirmos da idade cronológica, meu marido e eu nos afastamos de aglomerações. Nosso confinamento já completa um ano, na Mata Atlântica. Há mais aspectos positivos que negativos nesse confinamento rural: friozinho montanhês em pleno verão, caminhadas ecológicas sem uso de máscara, ar puro, cheiro de mato, entorno com mil tons de verde... mas falta gente, falta movimento, falta calor humano.

Fazemos cotidianamente uma caminhada matinal de uma hora, em torno do lago mais próximo. Todos os dias eu observava três frágeis plantinhas que vingaram em ambiente inóspito. Brotaram do nada, num lugar altamente vulnerável, sem condições propícias para seu desenvolvimento. Na boca de escoamento da represa, lá estavam elas, tímidas e insignificantes, diante da magnificência da mata e ao sabor dos ventos.  Todas as manhãs, saudava-as com o olhar benevolente e cúmplice, como se tivéssemos algo em comum. 

Sempre que as observava, refletia sobre a vitalidade e a efemeridade dos viventes, incluindo o reino vegetal. As três plantinhas demonstravam concomitantemente a pujança da vida em ambientes adversos e sua vulnerabilidade diante dos fenômenos da natureza. Houve uma forte tempestade. O rego d’água que bordeja nossa casa se transformou em córrego caudaloso, com sérias pretensões de chegar a rio.  Todo o fluxo aquoso desceu pela vertente rumo ao lago, no fundo do vale. Houve queda de árvores centenárias e, evidentemente, queda de energia elétrica, fato frequente onde a fiação coexiste com árvores frondosas.

 Na manhã seguinte, sob céu azul e tímido sol montanhês, saímos para a habitual caminhada e para um banho de sol. Desolada, constatei que o transbordamento da represa havia levado, de roldão, as persistentes plantinhas, que teimavam em existir. Ontem, lindas e viçosas; hoje, inexistentes. Durante a pandemia, estamos tão vulneráveis quanto elas. A enxurrada do coronavírus tem sido impiedosa. Não podemos fazer planos futuros. Não sabemos se haverá futuro.

Minha irmã Rosária até pouco tempo saudável e venturosa, cercada por filhos e netos, também foi levada de roldão, como aquelas plantinhas, não pelo excesso de H2O (água), mas pela carência de O (oxigênio). Seu caso covídico foi rápido e fulminante. Sentiu os primeiros sintomas numa sexta-feira, foi internada na segunda e nos deixou para sempre, na noite de terça-feira, sem tempo de dizer adeus. Poucos dias antes ela havia perdido dois netos, ainda jovens, que trabalhavam na área da saúde. Poucos dias depois, foi a vez de seu filho caçula fazer companhia (não por solidariedade) aos que haviam partido antes dele. Tenho motivos de sobra para estar enlutada e lacrimosa. Hoje perdi mais uma pessoa da família. É a décima, em cinco meses, ou seja, uma média de novo luto a cada quinzena. A tragédia mundial se estampa o tempo todo na mídia. Evito emissões televisivas, jornais e revistas. A tensão está no ar. As vacinas, até agora, têm chegado a passos de tartaruga, apenas para os mais vulneráveis: idosos acima de 80 anos e trabalhadores da área da saúde. Ainda não se sabe se haverá vacina para todos. Estando os mais idosos vacinados ou mortos, evidentemente o perfil das vítimas vai mudando. Poderá haver carência de vacinas e vírus de sobra.

Há um ano, estamos vivendo o pesadelo de não saber se estaremos vivos dentro de um mês, de uma quinzena ou de uma semana. No entanto, a Mata Atlântica, indiferente às lágrimas “de março fechando o verão” de 2021 e a tudo que se passa com seus habitantes da raça humana, permanece majestosa e esplendorosa. De meu refúgio, admiro sua exuberância em cambiantes matizes verdejantes e fico “matutando”: mais dia, menos dia, pereceremos todos, enquanto ela permanecerá impassível e viçosa. Diferentemente de nós, mesmo destruída pelo fogo ou pelo desmatamento, a Mata é resiliente. Com o tempo, retoma sua forma original e seu lugar ao Sol, malgrado as intempéries, as alterações e os infortúnios.

Jô Drumond

12 de março de 2021


RETORNO DOS LEITORES 

 

JOSÉ HUMBERTO FAGUNDES – PRETÓRIA – AFRICA DO SUL

Li e gostei tanto que me inspirei em “Lágrimas de março”. Pena que meu texto ainda esteja inconcluso. De volta “às lágrimas”, parecia que flutuava pela Mata levado por suas mãos, melhor por sua narrativa, o que resulta no mesmo. Entristeci-me por sua irmã e por todas as perdas da família. O luto tão próximo aos afetados diretamente alcança escala global. A solidariedade, espero, amplia-se também na mesma escala diante da tragédia. O seu texto é um louvor à natureza e à valorização da vida. Para revigorar qualquer um, como se fôssemos tão resilientes quanto a floresta.

Um brinde a você e ao “Viveiro do silêncio”!

Saúde, dear Jô!

 

MARIA DAS DORES ARAÚJO (DÔTE) – BELO HORIZONTE - MG

Demorei, mas vivi o encantamento de ler “As lágrimas de março “

Envolvida em cuidados com o marido convalescente, fui adiando. Aliás, para ler suas crônicas, prefiro estar com a alma limpa, mente desocupada, sem risco de ser interrompida.

E assim, saboreio seus deliciosos escritos.

Um beijo grande para vocês dois.

 

EDUARDO BAUNILHA – SERRA - ES

Um relato pessoal recheado de dor e poesia. Um apelo à vida, um drible na morte, com esperanças bem sutis, mas verdadeiras. Você é sempre surpreendente.

 

MARIA DA PENHA – MATHILDE - ES

Muito bom! Só aquele que vive verdadeiramente as nuanças do dia à dia, com empatia em relação a tudo e a todos, é capaz de escrever texto tão sensível e, embora triste, incrivelmente belo. Lamento a perda de seus afetos.

 

REGINA MENEZES – VITÓRIA - ES

Só hoje pude ler novamente AS LÁGRIMAS DE MARÇO. Não consegui comentar no blog e por isto falo por aqui.  Texto bem escrito, denso e muito triste. Sentimos logo no título.

Um dia de sol ou de chuva nem sempre é prenúncio de dias felizes nesse mês das lágrimas, como você retrata muito bem:

“Desolada, constatei que o transbordamento da represa havia levado, de roldão, as persistentes plantinhas, que teimavam em existir.... Durante a pandemia, estamos tão vulneráveis quanto elas”.

Assim é a vida. Uma enxurrada que nos leva impiedosamente em direção a um futuro incerto é desconhecido.

E agora? Não temos vacinas suficientes e os jovens adoecem comprometendo os idosos, mais vulneráveis.

Parabéns pela obra!

Sentimentos pelas perdas sentidas.

 

ADRIANA – VITÓRIA - ES

Como sempre, uma crônica de tirar o fôlego (literalmente).

Realmente são dias sombrios e incertos. Mas somos como a Mata... RESILIENTES.

Meus sentimentos por suas perdas e meu abraço simbólico com muito carinho.

Venceremos... vai dar tudo certo!!!

 

AGDA PIMENTEL – BELO HORIZONTE - MG

As Lágrimas de Março. O inusitado, que jamais pensamos que viveríamos e que seria tão intenso...cada um em sua casa, consigo mesmo...

Parabéns por esse testemunho rico do que está sendo esta quarentena. Grande abraço. Fique com Deus

 

JÚLIA CARVALHO – VITÓRIA - ES

Jô querida. Saudades mil!!!

Apesar da tristeza do momento, senti no fundinho do meu coração um pouco de alegria ao ver de relance, que havia crônica sua pra eu ler. “As Lágrimas de março” é um retrato fiel de nossa caminhada há mais de ano. É colocada de forma natural, a nossa finitude.

Fico também “matutando “de como é prazeroso ler seus escritos, independentemente do tema.

 

DANILO TEIXEIRA – PATOS DE MINAS - MG

amei fazer a leitura dos seus contos, Tia Jô!

Muito obrigado por compartilhar!

Não vejo a hora de podermos reunir toda a família e celebrar a superação dessa fase difícil.

Grande abraço

 

AZIMAR – VITÓRIA - ES

Choramos as mortes e louvamos a Mata Atlântica em seu esplendor, cantada em versos e prosas, e fotos, desta sua admiradora escritora e poeta, Jô Drumond em "As lágrimas de março". 

Parabéns pela milésima vez.

Abraço!

 

GLÓRIA OLIVIERI CAIXETA – BRASÍLIA - DF

Jô querida, você tem mil razões para estar lacrimosa. Estamos! Impossível permanecer indiferente a tudo que vivemos nesse último ano. Uma dor se insinua companheira, difusa, amargando nossos dias.

Aprecio que você converta seus sentimentos em crônica, é um jeito de se salvar. Bj

 

MARIA INEZ NASCIMENTO  AMORIM – LAGOA SANTA - MG

Jô li seu artigo, bonito e triste ao mesmo tempo. Fiquei pesarosa com tantos lutos em sua família, e esperançosa, com o renascer da natureza, que acontece sempre, apesar de nós, humanos, e nos dá uma lição de resiliência, para enfrentarmos esta crise. Temos que nos esforçar para continuar lembrando que a vida é bela, e que ainda estaremos aqui por um bom tempo. “Esperança” é a palavra-chave. Creio que o fato de escrever a crônica deve ter te ajudado neste momento difícil, e irá te ajudar sempre. Do seu cantinho lindo aí na mata, coisas lindas também vão brotando. Um abraço carinhoso.

 

ÂNGELA XAVIER – OURO PRETO - MG

Jô, muito triste a situação em que estamos. Meus sentimentos pela perda de seus familiares.

Eu tb estou em casa. Entre Ouro Preto e a Caieira, esperando que está situação passe logo.

 

GILSON TEIXEIRA – UBERABA - MG

Linda crônica, verdadeira, mas pesada aos olhos e ao coração. Na verdade, os fatos são assim, chocantes, como descritos em sua crônica. Precisamos estar atentos a eles. Vou aguardar para ler sua próxima crônica com pensamentos positivos e alegres. Será uma boa maneira de amenizar tanta dor.

 

SÔNIA ROSSETO – VITÓRIA - ES

Olá Jô! Meus sentimentos pelas perdas de seus entes queridos. Eu tb ando com o coração apertado, não tanto quanto o seu. Também, em 15 dias, foram dois de volta para a casa Paterna. 

Gosto muito da sua sensibilidade de escrever e de descrever a natureza de uma forma tão delicada. Parabéns! Deus conforte seu coração e de sua família!

 

SOÊMIA – VITÓRIA - ES

Muito lindo este seu texto,  querida amiga 🙏.

Não sabia que você tinha passado por tantas perdas.

Meus sentimentos, querida 💓

Meus parabéns por mais uma de suas belas crônicas.

Sou sua fã de carteirinha😘🌹🙏💕👏👏👏

 

 

WANDA ALKMIN – VITÓRIA - ES

Bom dia, amiga!! Muito linda e sensível, sua crônica.

Meus sentimentos por tantas perdas.

Pra mim, você é uma mistura da plantinha que persiste ao meio da água brava, é árvore frondosa na fértil mata e voo de colibri, leve a voar no azul do céu.

Tenha um dia cheio de luz e paz.

 

ELIANE REIS E SILVA– NATAL - SERGIPE

Jô querida, muito obrigada, adoro tudo que você escreve. Meus sentimentos, pela grande perda dos teus entes queridos. Deus te abençoe. Bjão

 

JAÇANAN -VITÓRIA - ES

Muito triste essa realidade que estamos vivendo. Seu artigo, como sempre, nos faz pensar sobre tudo o que estamos passando. Um abraço.

 

MARIA DO SOCORRO TERTO – TEREZINA - PIAUÍ

Bom dia. Jô querida, só agora, de manhã, pude ler “As lágrimas de março”. Muito bem escrito, mas que muito me abalou, em referência a sua família. Esta peste chegou e massacrou todas as famílias. Realmente vivemos de incertezas em relação a ela. Hoje estamos bem, amanhã já podemos estar atacados. Vamos ter esperança de que Deus dê uma pausa com sua misericórdia divina, e possamos ter força e fé nesta caminhada da vida. Muito bem escrito seu texto,  vc é  uma bela escritora. Bom dia! Bj

 

MARIETA APARECIDA – BELO  HORIZONTE - MG

Meus sentimentos pela perda de mais um membro de sua família! Já virou um pesadelo, essa doença, assim como a falta de visão do ser humano que se expõe à aglomeração e que não acredita no perigo desse momento que estamos todos vivendo!

Respeito, palavra mencionada em todas as plataformas; mas cabe a cada um compreender seu significado em todos os âmbitos. Somente assim, o homem compreenderá a ação necessária para frear a pandemia da ignorância.

 

MARIA LÚCIA – VITÓRIA - ES

Linda crônica. Comovente e triste, nos faz pensar quão frágil é a vida.

Todos nós estamos perdendo pessoas queridas. Que Deus nos ajude a passar por esse furacão. Um grande e saudoso abraço

 

MARIA JOSÉ FONSECA – BRASÍLIA – DF

Muito bom seu artigo, amiga. Mas não resisti. Como você  é  forte! Que bom que Deus lhe deu sabedoria para superar e lhe escondeu do perigo num cantinho maravilhoso! Receba de coração meu abraço solidário.  💋💋💋💋 

terça-feira, 2 de março de 2021

ENGANANDO A MORTE

 

“...cantaremos o medo da morte

e o medo de depois da  morte.
Depois morreremos de medo

e sobre nossos túmulos

nascerão flores amarelas e medrosas.”

Drummond

 

 Desde que se nasce, o primeiro passo já é, inexoravelmente, em direção à morte. Há os que nem chegam a nascer, como foi o caso de meu irmão. Antes de ver a luz, embrenhou-se nas trevas, devido à ignorância daqueles que usaram um produto altamente tóxico para dedetizar a residência, sem atentar para o efeito letal sobre o feto.  Sua causa mortis, ainda dentro do ventre materno, no nono mês de gestação: intoxicação por BHC. Eu era muito pequena, mas retive na memória a nítida imagem de um minúsculo caixão, sobre uma mesa, no centro da sala de visitas. Quando o tiraram para o enterro, eu o abracei, chorei e esperneei para que não levassem minha nova bonequinha. Não tinha entendimento da perda de um irmão, mas senti a desolação da perda da boneca.

Neste mês de março de 2021, a pandemia do coronavírus, atinge o mais alto índice mortífero no Brasil. Computa-se, atualmente, uma morte por minuto. Os gráficos estatísticos não param de subir, enquanto a vacina vem a passos de tartaruga. Cerca de 255.000 brasileiros já se foram. Em todo o mundo, cerca de três milhões de vidas levadas pela mão da “ceifadora”.

É um bom momento para refletirmos sobre a vida e sobretudo sobre o medo da morte. Há um vídeo circulando atualmente na internet e uma clássica película cinematográfica que retratam alegoricamente a morte e criam um desafio entre um vivente e “a indesejada das gentes”. Esta insiste em levá-lo. Aquele, por sua vez, recusa-se a acompanhá-la. Vejamos resumidamente as duas fabulações:

No vídeo, um matuto conhecido vulgarmente como Zé Prequeté, volta de uma festa em plena madrugada. Cavalga sozinho, em noite sem luar, por uma estrada deserta, carregando sua viola dentro de um saco. Na escuridão da noite, vislumbra tênue luminosidade no caminho. Ao se aproximar, percebe velas acesas, em plena encruzilhada. Acha aquilo deveras estranho.  Mais estranha ainda é uma figura toda vestida de preto, como se esperasse alguém. Meio encabulado, decide primar pela cortesia.

− Boas noites. Posso ajudar? O que fazes a essa hora, em tão ermo lugar?

− Estava à tua espera.

− Pois não. Quanta honra!

−Vim para te levar comigo numa viagem sem volta, mas, como aprecio por demais uma viola, proponho um desafio. Vamos ver quem toca melhor. Se eu ganhar, tu vais comigo. Se eu perder, tu ficas.

− Agradeço a gentileza, mas não posso aceitar o desafio. Tenho pressa. Minha patroa está à minha espera.

− Não aceito recusa.

Zé Prequeté olha a figura de cima a baixo. É impossível visualizar a face, parcialmente encoberta por um capuz negro. Poderia ser um de seus amigos querendo lhe pregar uma peça.

Caso não seja um deles – matuta o cavaleiro – quem poderá ser? Talvez um “filho da mãe” qualquer, querendo me assustar ou me assaltar.

− Não estou reconhecendo tua voz. Quem és tu, caro vivente?

− Não sou vivente. Sou Lúcifer, o anjo da luz.

− Todo de preto, não serias anjo das trevas?

Zé Prequeté leva a abordagem na brincadeira, mas, ao olhar detidamente o estranho, percebe que, em lugar das botas, há um par de cascos de bode. Sente um frio na barriga, um frêmito no corpo, mas finge tranquilidade.

− Ô amigo Lúcifer, se quiseres, posso deixar a viola contigo, mas, como disse, tenho pressa de chegar. Toma! Ela é toda tua.

− Pensas que me engambelas? Começo, então, o desafio.

O estranho pega a viola e toca uma música totalmente desconhecida. Depois, Zé toca certa modinha com malabarismos inauditos nas sete cordas. O “de preto” não se dá por vencido.

− Achas que me enganas com essas brincadeirinhas? Quero ver se consegues tocar com a viola nas costas. 

O matuto coloca o instrumento sobre as espáduas, abaixa a cabeça e toca perfeitamente. Destarte, consegue se livrar daquele encosto, pelo menos por ora.

Essa fabulação é muito parecida com a do filme O sétimo selo, obra-prima cinematográfica de 1957, do diretor e roteirista sueco Ingmar Bergman (1918/2007). O tema principal é a questão do medo da morte. Não no contexto de uma pandemia do século XXI, mas de outro similar, da peste negra, na Idade Média. O protagonista, um cavaleiro templário que retorna a casa depois de dez anos, encontra a peste e a morte em sua terra.

No filme, não há encruzilhada, nem velas, como no vídeo. Em uma praia deserta, o protagonista encontra um cavaleiro também de preto, de cara muito pálida. Reconhece imediatamente a figura da Morte que surge para levá-lo. Lembra-se de ter ouvido que a Morte seria uma enxadrista contumaz. Tenta então uma estratégia para escapar de suas garras. Ele a desafia para uma partida de xadrez. Se perdesse, ele se deixaria levar. Se ganhasse continuaria vivo. Ela aceita, porém o adverte:

− Não adianta postergar a partida. Mais cedo ou mais tarde, você virá comigo.

− Eu sei disso, mas não agora. Quero ganhar tempo.

O jogo proposto pelo protagonista seria uma metáfora para levar o espectador a refletir sobre as emoções humanas, os mistérios e a efemeridade da vida. Esse filme, altamente filosófico e simbólico, aborda os questionamentos do ser humano a respeito da morte. Se você a encontrasse, como reagiria? O que faria? Se pudesse dialogar com ela, o que lhe diria?

A partida de xadrez começa na praia. Trata-se de uma das cenas mais célebres do cinema. Como a partida não se conclui, a Morte volta a visitá-lo por diversas vezes para continuarem o jogo. Antonius Block não perde nunca, devido a certas jogadas, de cujo segredo é o único detentor. A “sedutora do além” não se dá por vencida. Ela também tem suas estratégias.

Certo dia, Block decide se confessar. Ajoelha-se diante da treliça de um confessionário e relata ao padre o desafio entre ele e a Morte. O confessor quis saber qual seria a jogada magistral para vencer sempre. Ele lhe revela seu segredo. Nesse momento, a câmera focaliza a cara de contentamento do falso confessor. Era a própria “dama da foice” que ouvia sua confissão. Na partida seguinte, o “homem de preto” dá o xeque-mate. Evidentemente, não há escapatória para Antonius.

Na iminência da morte, a busca de sentido para a vida é uma questão que sempre atormentou a humanidade. Suponho que, justamente a partir dessa questão fulcral, tenham surgido um sem número de religiões e crendices, cada uma tentando, à sua maneira, explicar o inexplicável, com o intuito de trazer conforto espiritual e tranquilidade aos humanos.

Esse ponto de interrogação deixou de me amofinar após ter ouvido de um professor metido a filósofo que o homo sapiens é uma aberração da natureza. Eu nunca havia pensado nisso. É bastante plausível. Nosso grande problema talvez seja a cognição. Se não a tivéssemos, tudo seria tão simples! Viveríamos por viver, sem filosofices, sem crendices, como as plantas e os animais “ditos” irracionais. O poeta Fernando Pessoa (1888/1935), em um de seus poemas, demonstra o desejo de ser como as flores: “Elas existem porque existem”, sem questionamento algum.

O ser questionador, segundo Albert Camus (1913/1960), é o “homem absurdo”. Na filosofia do absurdo, Camus focaliza exatamente o conflito entre a tendência humana de buscar significado inerente à vida e a inabilidade para encontrá-lo em um universo caótico, desconexo e ininteligível.

Temos ciência de que o empenho em postergar a morte é comum a todos, com raras exceções, como no caso dos suicidas. Há um longo poema de Drummond (1902/1987), no qual ele dialoga com a morte e aceita ser levado por ela... “mas que não seja agora”.. Todas as estrofes terminam com esse bordão mostrando claramente o que se passa com cada um de nós. Sabemos que a morte virá um dia. Não há como evitá-la, mas tentamos postergá-la por todos os meios. Acometido por uma doença qualquer, lançamos mão de toda sorte de medicamentos, chás, “benzeções“ e até mesmo de cirurgias. No afã de salvar vidas, os médicos trabalham na contramão dos desígnios da Divina Providência. Esta envia a doença ou convoca alguém para a morada eterna, aqueles tentam a cura e/ou o adiamento da partida. Mais cedo ou mais tarde, sem pedir licença, ela cruza o caminho de todos nós. Como dizia meu avô, “depois de certa idade a gente vive tapeando a morte”.

Para o fechamento destas lúgubres elucubrações, versos do Grande poeta português Fernando Pessoa sobre o mesmo tema. 

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma...

Jô Drumond

01-03-2021

 

RETORNO DA CRÔNICA  ‘ENGANANDO A MORTE’

 JOSÉ EDUARDO DE OLIVEIRA – PATOS DE MINAS - MG

Paradoxalmente, a vida é bela porque a morte é feia e certa. E citando ainda, Pessoa, não me venham com conclusões, a única conclusão é morrer!


SAMUEL MALHEIROS – VITÓRIA - ES

Jô acabo de ler sua crônica. Inspirada reflexão sobre tema que vem desde sempre intrigando os humanos. Exemplo de como tornar leve a leitura sobre realidades tão pesadas.

Uma observação Jô se me permite: Penso que o grande problema do Sapiens não é a cognição mas a consciência. Essa é a criadora de todos os problemas.


JEAN-LOUIS BOSSAVIT – MONBAZILLAC - FRANÇA

Cara Jô

Merci pour ce texte qui a l'habileté d'être pris entre les mots de Drumond et ceux de mon Frère Fernando Pessoa, qui sont bien apaisants. Bien sûr la réflexion autour de la mort est présente dans l'esprit de tous dans cette période terrible. Je pense aussi que notre société, au sens le plus général d'Humanité, avait aussi peut être besoin de réfléchir sur cette question que toute notre civilisation a tendance à oublier, ou à  laisser de côté ou à faire croire qu'elle n'existe pas. Le cheminement de l'Histoire du monde avec ses intervalles de guerres, de catastrophes naturelles et d'épidémies, nous renvoie régulièrement  à ce qui est inexorable et c'est bien ainsi .

Ceci me fait penser à ce fameux conte persan, que je me risque à résumer dans le portugais écrit qui me reste!

Lembramos a história deste vizir do califa de Bagdá que, uma manhã, nas ruas da sua cidade, vê a Morte, que fixa o olhar nele. Muito perturbado, o vizir pede ao califa para fugir da cidade, pegando seu cavalo mais ligeiro para se refugiar esta mesma noite,  em Samarcanda. O califa aceitou e depois,  quanto a seu hábito, decidiu caminhar incógnito pelas ruas da cidade. Ele encontrou a Morte e perguntou: "Por que você aterrorizou meu joven vizir esta manhã, olhando para ele? ameaçadora? " A Morte respondeu: "Não era um olhar ameaçador, mas só um olhar surpreso  porque eu não esperava vê-lo aqui em Bagdá esta manhã. Tenho um encontro com ele,   esta noite, em Samarcanda ".

Très amicalement

Jean Louis


JOSÉ HUMBERTO FAGUNDES – PRETÓRIA – ÁFRICA DO SUL

Não há como discordar de Pessoa nos versos que encerram seu texto. Aliás, que acrescenta significado ao postergamento. Lições, dear Jô, que lembram que a vida sempre vale a pena quando a “alma não é pequena”. Obrigado!


ABEL FARIA - BRASÍLIA - DF

Boa tarde Jô!!! Tudo de bom!!

Pois então!!! Fez me lembrar prontamente versos do poeta Augusto dos Anjos que viveu 30 anos e abominou o destino da morte para toda a humanidade, considerado o poeta triste.

E também os belos versos do Manoel de Barros, poeta da insignificância das coisas, que mais se aproxima em viver enquanto vivo e aceitar que é assim mesmo pela própria natureza.

Confesso a você que às vezes me encontro absorto e espantado com a vida tênue de todos nós.

Com a pandemia, houve um acordar de muitas pessoas, do significado dessa nossa "morada ligeira"" como disse o Clênio Pereira, outro amigo poeta que viveu 27 anos.

Kkk... Chega. !!

Parabéns, outra crônica de registro desse tempo atual.

Bom final de semana. Abraço!


CHANTAL RABY – MONBAZILLAC - FRANÇA

bonjour jo

je viens de lire ta longue réflexion sur la mort. Comme tu le dis, des la naissance, nous entamons le chemin vers la mort. Il ne faut pas avoir peur de la mort. Elle fait partie de la vie mais comme le dit très justement le poète "pas maintenant". Parce qu'en chacun de nous il y a l'amour de la vie (voir comment quelqu'un qui écrit ses dernières volontés et demande à mourir sans acharnement pour le maintenir en vie, et bien au final cette personne se bat jusqu'au bout pour ne pas mourir "maintenant")

J'ai fait la paix avec l'idée de la mort. D'abord dans la première moitié de ma vie, j'ai considéré que j'étais jeune et cette idée n'était pas pour moi. Ensuite je l'ai frôlée a plusieurs reprises mais je me suis battue pour que ce ne soit pas "maintenant ". Et dans ma tête ça ne pouvait pas être "maintenant". Puis, vers les 70 ans donc troisième âge, je lui ai fait de l'œil un jour aux urgences, au point de supplier mon mari de dire aux enfants combien je les avais aimés. Et puis, miracle, ce ne fut pas "maintenant". Et depuis je sais que je vais mourir mais je ne sais pas quand ; alors je goute chaque instant comme un cadeau, je range mes affaires, je classe mes photos, je peins et je distribue mes tableaux à ma nombreuse famille, j'écris des textes humoristiques à mes amis sur ma façon de voir la vie. Je vais t'en envoyer quelques-uns ; je fabrique des objets, je peins des meubles pour les uns ou les autres. Je mets à jour les recettes de cuisine qui ont fait le bonheur des enfants. Bref, je tente de laisser mon empreinte, et je transmets tout ce que je peux. Curieusement je n'ai pas encore eu envie, maintenant, de planter un arbre fruitier. C'est trop long et je n'en verrai jamais les premiers fruits. Quoique ......je me plais à imaginer parfois vivre jusqu'à 95 ans, qui sait ......Verrai je les jumelles de Sophie "namorar". Déjà je garde chez moi mes arrières petites filles. Chaque matin j'ai mal quelque part, mais jamais au même endroit. Chaque matin je me dis qu'il faut que je fasse ceci ou celà; je mesure mes projets à court terme suivant leur faisabilité .

Tout ça, c'était jusqu'à l'an dernier

Puis est arrivée cette foutue pandémie. J'ai appliqué les mesures très strictes de prudence dès le début et suis restée "confinée" une année entière, sans recevoir ni aller chez personne, sans embrasser ni voir aucun de mes enfants et petits-enfants. Ce fut une année entière de vie perdue. Mais enfin la vaccination est arrivée en commençant par les vieux de plus de 75 ans ; Ce fut une délivrance absolue mais à quoi cela sert vraiment si les autres ne sont pas encore vaccinés ? donc nous nous battons pour convaincre les indécis. Car bizarrement jo, en France, ce sont maintenant les soignants, les personnels de santé, beaucoup de médecins, et une partie des gens, qui sont les contaminateurs. Malheur à toi si tu as besoin d'entrer à l’hôpital pour tout autre chose, tu risques d'être contaminé par ton infirmière ; Seulement un tiers de tout le personnel médical français accepte de se faire vacciner ! Nous avons eu cette semaine un million de doses d’Astra Zenica qui sont restées dans les frigos faute de personnes à vacciner dans les personnels de santé, puisque c'étaient leurs doses... Vous avez votre scandale au Brésil, nous avons le nôtre. Heureusement, Macron n'est pas Bolsonaro et on se demande comment les brésiliens vont s'en sortir avec un pareil idiot ; Ici il est question de rendre le vaccin obligatoire pour le personnel soignant. On ne peut pas encore le rendre obligatoire pour la population parce que la France qui a une tradition de liberté démocratique, ne l'accepterait pas. 

Donc oui, cette fois ci tout le monde a vu la mort de près. Mais souvent sans en avoir eu conscience. je comprends ce que tu racontes au début de ta nouvelle ; mais a l’âge que tu avais, on ne sait pas ce que c'est que la mort .

Bon écoute Jo, lire en français est un exercice parfois difficile parce que nous avons des expressions et des mots peu employés. Je t'enverrai si tu le souhaites des récits humoristiques que je fais de temps en temps pour mes amis…

je t'embrasse

Chantal


SANDRO DECOTIGNIES - DUNQUERQUE -FRANÇA

Em tempos de necropolítica, nada mais necessário que uma reflexão sobre aquela que vamos todos encontrar...


NILDA NUNES – PATOS DE MINAS - MG

Boa tarde, tia Jô! Gostei muito do texto. Apesar do tema, ele nos mostra tranquilidade ao mexer e remexer com as palavras pra colorir o texto. Mostra que a escritora é muito culta e pesquisa com determinação pra informar o leitor sobre o tema. Muito obrigada por nos informar e formar nossas mentes na leitura. Bjos


MARIA JOSÉ NUNES – PATOS DE MINAS - MG

Como sempre, adoro o que escreve.

Não achei lúgubre.

Gosto de filmes policiais em que o bem vence o mal. Foi uma pena, a danada da morte enganar Antonius no confessionário, acabando por levá-lo.

Quanto ao filme, deve ser muito interessante. A verdade é que, à medida em que os anos vão passando, normalmente ela chega, querendo ou não. Enquanto pudermos prolongar a vida usaremos de todos os artifícios ao nosso alcance.

Discordo de Fernando Pessoa ao escrever que sente alegria em saber que a morte dele não fará falta a ninguém.

Nós, humanos, temos raízes. Quando morre seu pai, mãe, irmão vc continua a viver mas aquela pessoa deixa em nosso coração uma saudade. Acostumamos com a ausência, mas a falta fica. Que saudade sinto dos meus. Minha mãe me faz falta nos conselhos, nas conversas.

Enfim, acabei escrevendo mais que a autora. Parabéns. Adorei. Beijos


ROSANE MORCEF – VITÓRIA - ES

Jô, infelizmente não estamos preparados para o que seria uma coisa tão natural (a morte).

O sentimento de perder uma pessoa querida, amada, companheira nos deixa como se um buraco se abrisse e você não pode fazer nada.

Mas, muito confiante no amor que sinto por Deus e graças às correntes de orações me sentia mais confortada, quando estive infectada pelo coronavírus. Nunca, em momento algum, perdi as esperanças.


MARIA DA PENHA – MATHILDE - ES

Jo seu texto é interessante pra valer! riquíssimo, criativo, informativo carregado de nuanças que brincam com nosso imaginário nos levando aonde você quer. E , olha isso... parte de vivências suas. Que riqueza. Fico a pensar como você consegue... Muito bom, amiga.


ZILCA – VITÓRIA - ES

Este tema me faz pensar em um livro de José Saramago: As Intermitências da Morte.

É apaixonante, apesar do tema.

Postei no Facebook


TEREZINHA BICHARA – VITÓRIA - ES

Pensei no livro do Saramago, leitura inesquecível quando a morte se apaixona pela pessoa que devia levar. Jô querida, fala oportuna, perfeita para registro do momento que estamos vivendo. bjs


ANAXIMANDRO – VITÓRIA - ES

Top!

Precisamos mesmo falar da "indesejada das gentes", sem rodeios.

Nada melhor que a arte.

Esta, não morre.

Adorei o texto!


LÉA FURTADO – VITÓRIA-  ES

Jô!  Adorei o texto!

Superinteressante, apesar de lúgubre, como você mesma diz, às vezes engraçado !

Gostei muito dos diálogos dos violinos.

Lembrei também da oração de Santo Agostinho quando ele diz :

" _ A morte não é nada!"

que é apenas uma passagem para o outro lado do mundo!

Esta pandemia, às vezes, nos dá a impressão de que a morte ficou " banalizada"!

Só que ninguém quer que a fila prossiga e sim a vida.

Sabemos que estamos aqui de passagem, isto não se pode negar.

Parabéns pelos seu texto abordando um tema tão complexo que é a morte!

  

ANA LÚCIA CASTRO NOTINI – BELO HORIZONTE - MG

Gostei muito, apesar de "meio lúgubre", muito apropriado pelo período atual.

Além do mais, nossa visão hoje, mais madura e consciente, nos faz refletir, concluir e concordar com Fernando Pessoa.

Adorei. Obrigada. Bjs.


MARIA INEZ NASCIMENTO - BELO HORIZONTE - MG

Excelente texto Jô, afiadíssimo, com várias citações interessantes e pertinentes. Muito culta, esta minha amiga.

Quanto à morte em si, não me apavora. Bjs


MARIA TERESA ROCHA – BRASÍLIA - DF

Muito bom! 👏🏻👏🏻👏🏻

Parabéns Jô, sempre nos surpreendendo !


SUMAN GAETNER – VITÓRIA - ES

Há muitos anos minha família estava indo de carro para o sul do Brasil, quando meu pai, que dirigia, dormiu ao volante e rolamos em uma ribanceira. Eu estava dormindo com a cabeça no colo da minha mãe. Acordei sobressaltada e perguntei: "mãe, nós morremos?" Eu vi o símbolo da morte: a mulher de preto com a foice na mão. Muito mais tarde pensei que Jung tinha razão sobre o inconsciente coletivo. Sabemos como ela é, sabemos que virá e essa angústia nos persegue desde sempre, mas hoje parece cada vez mais próxima. É o assunto da hora junto, claro, à crítica a este governo inconsequente, despreparado, genocida.


CHICO BRANT – BELO HORIZONTE - MG

Legal, Jô. Interessante a semelhança da fábula do Prequeté e a história do filme do Bergman.

No caso do Brasil, agora, depois da sua crônica, já sabemos quem é a ceifadora. Disfarçada, está todos os dias na mídia a zombar de nós, mortais. Abraços!


HILDA MUNIZ - VITÓRIA - ES

Oi Jô!

Acabei de ler agora seus dois últimos contos. Penso que o isolamento tem contribuído para aumentar a sua inspiração. Os dois temas são propícios para o momento atual e foram, como sempre, muito bem desenvolvidos por você. Parabéns!!! 👏🏼


DALVA - PATOS DE MINAS - MG

Jô , Enganando a Morte , é realmente o que estamos passando nesse momento. Muitas vidas sendo ceifadas e ainda muitas irão.

Li "pra aprender a enganar a morte ".

Ví que é impossível.