*Jô Drumond
No pequeno galinheiro de Aldemar, em
Patos de Minas, há apenas galinhas poedeiras, para o consumo familiar. Todos os
dias, no mesmo horário, ele alimenta as aves e recolhe os ovos. Como não há
interesse em aumentar a população do galinheiro, dispensa-se a presença de
galo.
Certo dia, sua mulher lhe perguntou se ele havia comprando ovos
caipiras. Mediante resposta negativa, ela lhe perguntou se ele havia colocado
galo no galinheiro. Mediante segunda resposta negativa, ela ficou bastante
intrigada. Algum galo estava pulando a cerca do quintal, ou seu marido estava
mentindo.
O fato é que os ovos estavam todos galados. Aldemar não acreditou.
Pensou que fosse invencionice de sua mulher. Ela lhe provou que estava certa.
Os ovos poderiam ser chocados. A partir de então, ele passou mais tempo
observando o galinheiro, na esperança de flagrar algum galo pulador de cerca.
Para seu espanto percebeu que uma das galinhas fazia a corte às demais e com
elas copulava. Observou com mais atenção a dita galinha. Percebeu que ela tinha
a cabeça um pouco maior e o pescoço um pouco mais grosso que o normal.
Tratava-se de um macho, num corpo de fêmea, fato raro, mas já ocorrido em
outros quintais.
Essa questão pode nos remeter ao
homossexualismo, ao bissexualismo, ao transexualismo, e a outros “ismos” que
porventura possam existir, referentes ao sexo nos humanos. Tudo o que os
moralistas consideram imoral e que os religiosos consideram pecado nada mais é
que fato orgânico, fisiológico, natural.
Desde sempre a humanidade conviveu com
diferentes preferências sexuais lícitas ou ilícitas, segundo as convenções
sociais de cada época. Na Grécia antiga, por exemplo, a homossexualidade
masculina era vista com naturalidade.
Nota-se que a homo afetividade nos
humanos se apresenta em diferentes graus. Há os que não aparentam nenhum traço
distintivo; outros têm discretos trejeitos ou leve impostação vocal, que não
chegam a ser notórios; há ainda os que são facilmente identificáveis pelo
andar, pelo modo de sentar, pelos gestos, pela voz, pelo olhar, enfim, pelo
jeito de ser. Há também os que têm aparência explícita, mesmo estando estáticos
ou silenciosos. Por mais que disfarçassem, jamais conseguiriam esconder sua
homossexualidade.
Donde se pode inferir que o grau de feminilidade masculina assim como o
de masculinidade feminina dependem simplesmente da dosagem hormonal
em cada organismo. Faz parte da natureza. Portanto é natural. A galinha não age
como galo por opção própria, mas devido à sua condição orgânica.
Assim, em vez de condenar os “homo-bi-transexuais”, os moralistas e os
preconceituosos devem respeitar o modo ser de cada um e aceitar o fato
com naturalidade.
*Jô Drumond (Josina Nunes Drumond)
Membro de 3 Academias de Letras (AFEMIL, AEL, AFESL)e do Instituto Histórico (IHGE