Desde que vim morar na Ilha de Vitória, encantei-me com o visual da procissão marítima, no dia de São Pedro*. Uma miríade de barcos decorados com bandeirinhas, flores, peixes e outros ornamentos multicoloridos enfeitam a baía de Vitória. Um espetáculo lindo de se ver no dia dedicado ao santo protetor dos pescadores. A festa em Vitória é celebrada, em grande estilo, há quase um século. Ela engloba programações gastronômicas, culturais e musicais. O cortejo terrestre é feito logo após a missa das oito da manhã, na paróquia de São Pedro. A procissão vai do templo até à Capitania dos Portos, onde começa a procissão marítima, às dez horas, no Píer dos Pescadores. À frente do cortejo, segue uma embarcação com capacidade para 30 pessoas, entre as quais padres sacristãos e coroinhas devidamente paramentados, levando uma imagem do padroeiro.
A procissão marítima é acompanhada também, em terra, pela população, que se posta na avenida Beira-mar para apreciar o cortejo. As embarcações com decorações mais originais e criativas podem ser premiadas pela Prefeitura da cidade. Isso faz com que a procissão fique mais bonita e colorida. Ela se inicia com grande queima de fogos, que acompanha esporadicamente o percurso, e termina com outra grande queima, na Praça do Papa, onde acontece o ponto alto do evento, junto à Cruz: a Bênção dos Anzóis. Nesse momento, é abençoado o anzol do mais antigo pescador de Vitória.
Como sempre acontece em quase todas as festividades religiosas, o sacro e o profano andam pari passu. Após a devoção, a diversão. Em terra, feira gastronômica, música e entretenimentos. No mar, diversas embarcações alongam a festividade durante todo o dia.
Ancoramos nossa embarcação em águas mansas, próximo à Ilha do Frade, diante de um visual esplendoroso, com direito a mergulhos, churrasco e pôr do sol. Uma inesquecível jornada familiar de confraternização entre avós, filhos e netos, festejando a vida com boa música, dança e muita alegria.
*São Pedro
Seu nome original era Simão ou Simeão, foi pescador, assim como seu pai Jonas e seu irmão, o apóstolo André. Conheceu Jesus, por intermédio de André, graças a uma indicação de João Batista. Desde o primeiro dia foi nomeado Pedro (kepha = pedra em aramaico) pelo Mestre. Acabou se tornando um dos discípulos mais íntimos. Sua liderança carismática se acentuou, após a morte de Jesus. Em seu primeiro sermão, no dia de Pentecostes, conseguiu fazer com que cerca de três mil pessoas recebessem o batismo. Seu trabalho missionário era itinerante. Acabou preso e encaminhado a Roma, onde fundou e presidiu uma comunidade cristã, motivo pelo qual acabou crucificado, por ordem de Nero. Fato interessante é que foi crucificado de cabeça para baixo, em atenção a um pedido seu. Não se sentia digno de ser crucificado na mesma posição de seu Mestre.