*Jô Drumond
Em meados do século XIX, no Brasil, acreditava-se que mãe de família não precisava saber muito. Bastava ler, escrever, contar e ter prendas domésticas. Havia até mesmo um ditado popular que dizia o seguinte: “Uma mulher já é bastante instruída, quando lê correntemente suas orações e sabe escrever a receita de goiabada. Mais do que isso seria um perigo para o lar.” Esse preconceito, trazido de Portugal, era oriundo da herança deixada ao povo lusitano pelas invasões mouriscas, na Idade Média. Exigia-se submissão total da mulher, dos filhos e dos escravos. Porém, bem antes, na França, desde o final do século XVII, já havia uma reação contra esse preconceito da inferioridade mental do sexo feminino.
A atuação da mulher brasileira na sociedade, assim como seu
desempenho não eram devidamente valorizados. No entanto, ela sempre exerceu
representativa influência na cultura e na economia. Abarcava laboriosamente
diversos tipos de tarefas, como: tecelagem, costura, cerâmica, horticultura,
cozinha, educação dos filhos (muitas vezes a alfabetização), e também
atividades campesinas consideradas leves, como: colheita, seleção e limpeza do
café, limpeza de pasto, colheita e manufatura do algodão, apicultura, além de
certos plantios, na lavoura.
Aos poucos, esse conceito foi mudando, sobretudo nas
cidades. Em 1869, fundou-se em Vitória um Instituto Feminino Secundário, com
uma só professora, vinda de Minas Gerais, onde eram ministrados todos os
conhecimentos considerados indispensáveis às filhas da burguesia: gramática
portuguesa, aritmética, sistema métrico, música e tocar piano, e todos os
trabalhos de agulha, além de francês, geografia e história Toda moça de família
devia saber tocar piano, mesmo que não tivesse nenhum pendor musical. Nos
saraus, revezavam-se donzelas ao piano. Intercalavam-se valsas, polcas e
minuetos, para os rodopios dos jovens casais, costume herdado evidentemente da
Europa, que ditava a moda referente aos tecidos, vestido, penteados e chapéus.
Nesses saraus brotavam namoros, noivados e desposórios. Tal
costume perdurou em grande parte do século XX, com as tradicionais reuniões
dançantes, para jovens, em casas de família.
Houve época em que famílias mais abastadas eventualmente
enclausuravam suas meninas nos conventos de Portugal, Espanha e Itália. Muitas
delas jamais voltavam. Posteriormente, criaram-se educandários com internato,
sob a responsabilidade de Irmãs de Caridade, sobretudo na Bahia e no Rio de
Janeiro.
Literatura era coisa de homem. Mulher não devia escrever
prosa, muito menos poesia. Era-lhe permitido, no máximo, decorar alguns versos
a serem declamados nos colégios ou em reuniões familiares. A poesia era
produzida estritamente pelo sexo masculino. Existia até mesmo um chiste jocoso,
dirigido às mulheres, que dizia o seguinte:
Estude a Geografia
Leia alguma boa história
Mas não se atire à poesia
Porque mulher que se faz poeta
Põe o marido pateta
Na década de 70, no século XIX, a Rússia abriu as portas da
Faculdade de Medicina às mulheres. A Itália, apesar dos protestos masculinos,
passou a conferir toga, nos tribunais, a mulheres da Corporação de Advogados.
Enquanto isso, no Brasil persistia a proibição do acesso de mulheres aos cursos
superiores. Nesse mesmo período a primeira brasileira a estudar medicina, foi
para os Estados Unidos em 1875, onde se formou, em 1881.
O século XX, chamado de “século da mulher”, assistiu ao
desabrochar do dito “sexo frágil” nos vários segmentos sociais e nos diversos
ramos do conhecimento. A mulher conquistou setores predominantemente masculinos
tais como o da aviação e o das profissões liberais. Foi na terceira década
desse século que conseguiu um grande salto, ao obter cidadania, com a aprovação
do voto feminino pelo Código Eleitoral, em 1932, durante o governo Getúlio
Vargas. A caminhada rumo à dignidade da condição feminina é lenta, sobretudo no
Oriente, mas progressiva. Ainda há muito que fazer para a completa emancipação
feminina.
Jô Drumond
Viveiro do Silêncio
15/08/2016
*Jô Drumond (Josina Nunes Drumond) Membro de 3 Academias
de Letras (AFEMIL, AEL, AFESL) e do Instituto Histórico (IHGE
de Letras (AFEMIL, AEL, AFESL) e do Instituto Histórico (IHGE