Jô Drumond |
A
vinda do sumo pontífice em julho de 2013 ao Brasil deverá redespertar a fé nos
católicos relapsos e incrementar princípios religiosos na promissora juventude
engajada nas Comunidades Eclesiais de Base (CEB). Ultimamente houve um
significativo aumento de CEBs e, por conseguinte, uma efetiva prestação de serviços
comunitários junto à população carente. Espera-se muito do recém-ungido
Francisco, que se autodenomina “O papa do fim do mundo”. Ele se mostra mais aberto
que seus antecessores em face de assuntos polêmicos. Para arrebanhar ovelhas
desgarradas, terá que agir com muita diplomacia na abordagem de temas delicados
tais como pedofilia dentro do clero, celibato clerical, ordenação feminina,
união homo afetiva, contracepção, entre outros.
Segundo o IBGE, entre 2000 e 2010, dois
milhões e meio de jovens dissidentes da igreja católica, migraram para igrejas
evangélicas ou deixaram de ter religião. Segundo pesquisa de mobilidade
religiosa feita pelo Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais
(Ceris), e publicada pela revista Veja (ano 39 nº 27), nas últimas décadas, a
Igreja Católica brasileira vem perdendo milhões de fieis. A grande migração do
catolicismo para o protestantismo é assaz intrigante. Segundo consta, as igrejas pentecostais e
neopentecostais cujo objetivo é o de encontrar a felicidade aqui e agora foram
incrementadas pelos novos líderes evangélicos com técnicas de autoajuda.
Conforme estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas, em poucos anos, milhões de
brasileiros aderiram a essas correntes evangélicas, que representam hoje o
grupo que mais cresce no Brasil.
Papa Francisco |
Para cada ramificação há um diferente
perfil de pastor. Nas diversas correntes, o tempo de preparo do pastor está
inversamente proporcional ao volume de ovelhas arrebanhadas. Isso é deveras
preocupante. A título de comparação, na Igreja Católica, a formação de um padre
inclui, pelo menos, dois diplomas de graduação: um em teologia e outro na área
de ciências humanas, num processo demorado, de cerca de 10 anos.
Dados extraídos da matéria intitulada
“Os novos pastores” mostram que entre os evangélicos históricos, originários da
reforma seiscentista, (Igreja luterana, presbiteriana, metodista e batista) a
formação de um pastor dura, no mínimo, cerca de 5 anos. Além da graduação em
teologia, o aspirante passa por um estágio preparatório de um ano, sob a
supervisão de um ministro. Há, nessas igrejas, grande incidência de pastores
com Mestrado e Doutorado.
Nas correntes pentecostais, surgidas no século
passado (Assembleia de Deus, Congregação Cristã no Brasil e Deus é Amor), a
formação dura cerca de 3 ou 4 anos; os pastores têm curso de teologia, mas não
necessariamente de nível superior.
Já nas correntes que mais crescem
atualmente, as neopentecostais, surgidas em 1970 (Universal do Reino de Deus, Renascer em
Cristo, Internacional da Graça de Deus e Sara Nossa Terra), a formação dura de
6 meses a 2 anos. Ela pode ser feita por meio de cursos práticos, ministrados
na própria igreja, voltados para a mídia eletrônica. Esses cursos dão primazia
à oratória, a técnicas de apresentação em rádio e televisão, ao gerenciamento
financeiro de templos, à liderança e até mesmo à etiqueta. O grande crescimento
do rebanho exige rapidez na formação dos pastores e ocasiona um sério problema.
Há igrejas que se veem na contingência de agilizar o processo e, por
conseguinte, de reduzir o tempo na preparação de novos líderes.
Segundo consta, atualmente, certos
fatores, como o sucesso da doutrina, as facilidades de comunicação com os fiéis
e a eficiência na gestão das igrejas favorecem tais migrações. O discurso atual de muitas igrejas é mais
voltado para o pragmatismo, para o racionalismo e para a pró-atividade do fiel,
do que para o sobrenatural. Isso talvez explique a evasão daqueles que optam
por algo mais em sintonia com os novos tempos. Destarte, conclui-se que,
postulações retrógradas, quaisquer que sejam, prognosticam o esvaziamento
progressivo dos templos. Com o engajamento social do novo papado, espera-se que
novos ares mudem o rumo dessas estatísticas.
Jô Drumond
(Josina Nunes Drumond)
Membro de 3 Academias de
Letras (AFEMIL, AEL, AFESL) e do Instituto Histórico (IHGES)