O livro Problemas e curiosidades da Língua portuguesa, do
Dr. José Augusto Carvalho, deveria fazer parte de todas as bibliotecas
públicas, privadas e particulares. Deveria também ser livro de cabeceira dos
estudantes, dos que utilizam a palavra como ferramenta de trabalho, como
jornalistas e advogados, assim como dos escritores e poetas, que se comprazem
em trabalhar com palavras, para deleite próprio ou para o de seus leitores.
Trata-se de uma obra abrangente, destinada a um público amplo e heterogêneo, cujo
idioma vernáculo é a “última flor do Lácio, inculta e bela”.
A maioria dos artigos nela contidos foi publicada numa
coluna semanal do Jornal A Gazeta, entre 2006 e 2009.
O renomado autor dispensa apresentação, mas faz-se mister
ressaltar sua atuação como professor da Ufes (por mais de meio século), como
incansável pesquisador, e como ensaísta,
cronista, contista, romancista e tradutor. Doutor em Letras pela USP,
dedicou sua vida ao ensino da língua pátria no Estado do Espírito Santo, onde reside há mais de
sessenta anos, oriundo de Minas Gerais.
Publicou 2 romances,
3 livros de crônicas, 3 de contos 4 sobre a língua portuguesa. Publicou
também inúmeros artigos sobre língua e literatura em jornais e revistas
especializadas. Traduziu vinte livros (do italiano, do francês e do inglês)
para as editoras Record, Bom Texto e Cátedra.
O livro em questão, Problemas e curiosidades da íngua
portuguesa, contém cerca de quatrocentas páginas, que são verdadeiras lições do
vernáculo, propícias a todos os brasileiros e aos lusófonos em geral. Além de
tirar dúvidas recorrentes, apresenta inúmeras curiosidades de nossa língua, de
modo interessante e bem–humorado. Trata-se de um imprescindível livro de
consultas, com leitura leve e agradável.
O autor aborda a importância da língua culta como
instrumento de ascensão social, as normas em documentos, a nova ortografia, a
redação escolar... Dá diversas dicas para quem escreve, aponta erros generalizados e/ou
interessantes, equívocos vocabulares e “cochilos” de quem escreve.
Em “Erros generalizados”, descobrimos que é incorreto dizer “vou sair às dez para as
nove”. Deve-se dizer “vou sair aos dez para as nove” (aos dez minutos). Segundo ele, há formas inadequadas tão
habituais, que estranhamos ao ouvir a forma certa. A partícula de exclusão ou advérbio “sequer”,
significa “ao menos” ou “pelo menos”. Ex.: faria o trabalho, se me dessem
sequer uma oportunidade. É incorreto dizer “ele sequer pagou o almoço”, no
sentido negativo. O correto seria “ele nem sequer pagou o almoço”. A locução
adverbial “nem sequer” forma a negação.
Em “Equívocos vocabulares”, ele cita a locução conjuntiva
“posto que” (sentido concessivo =embora), usada erroneamente, sobretudo em
textos jurídicos, no sentido causal (porque). Outro equívoco: festas juninas
(de junho), realizadas em julho deveriam ser festas “julianas” e não “julinas”,
como têm sido chamadas, por analogia a junina.
Quanto aos “Cochilos de quem escreve”, o autor alerta aos
profissionais da palavra , a fim de que releiam atentamente seus textos, para
evitar deslizes tais como nestes avisos paroquiais: “... começará a catequese
para meninos e meninas de ambos os sexos”; “o coro de maiores de sessenta vai
ser suspenso durante o verão, com o agradecimento de toda a paróquia”; “estimadas paroquianas: não esqueçais da
beneficência! É uma boa altura para vos livrardes de coisas inúteis que tendes
em casa. Trazei vossos maridos”.
Um ponto forte da obra concerne às particularidades
linguísticas. O autor explica detalhadamente o emprego de locuções que sempre
confundem a todos: Em vez de / ao invés de; há cerca de / acerca de / a cerca
de; ao encontro de / de encontro a / a
par de / ao par de; a fim de /
afim; através de / por meio de; na medida em que / à medida que; se não / senão; tampouco / tão pouco; a princípio / em princípio; abaixo / a
baixo; próximo a / próximo de, entre
outras.
Aficionado à origem das palavras, José Augusto focaliza
etimologias interessantes, como a de “forrobodó”, falsas, como a de “esculpido
e encarnado / esculpido e escarrado, improváveis, como a do termo
“religião”, atribuída seja ao verbo
religar, seja ao verbo reler, e etimologias populares, sem respaldo científico:
“Sam” (de tio Sam); “etiqueta”; “carnaval”...
Nesta concisa demonstração da amplitude e da relevância
dessa obra, é impossível enumerar os importantes e/ou interessantes
ensinamentos nela registrados. Cabe ao leitor descobri-los a seu bel prazer.
*O livro só pode ser encontrado no site da editora
editor@thesaurus.com.br - www.thesaurus.com.br
Jô Drumond é escritora e membro da: AEL (Academia
Espírito-santense de Letras). AFESL (Academia Feminina Espírito-santense de
Letras) AFEMIL (Academia Feminina Mineira de Letras) IHGES (Instituto Histórico
e Geográfico do ES).