terça-feira, 18 de junho de 2013

A SUICIDA ARREPENDIDA

(baseado em fato real)
    Para dar cabo à enfadonha existência, Mariana teve a ideia de se lançar do alto da ponte no rio Parnaíba, em Teresina, na época das cheias.  Sem saber nadar, seria morte certa, devido ao volume de água e à correnteza. Dito e feito. Escolheu um vestido domingueiro, penteou-se longamente, com olhar absorto, diante do espelho. Era a última vez que sua imagem estaria ali refletida. Antes de sair, deu uma última olhada no álbum de família (certo tipo de adeus), atendo-se mais longamente nas fotos dos entes queridos. Pensou na repercussão da notícia. Seus parentes ficariam chocados, num primeiro momento. Certamente diriam, durante o velório: ─ Que desatino! Pobre moça! Era uma boa pessoa! ─ intimamente se diriam ─ Já vai tarde! Nunca “bateu bem da cachola”! Só dava desgosto à família!
     Logo após o velório, cada um se ocuparia de sua própria vida, e ela seria relegada ao esquecimento. Com certeza, não faria falta a ninguém.
     Com o firme propósito de dar o salto fatal, bateu a porta e  dirigiu-se a pé até à ponte. Chegando a seu destino, verificou se não havia nenhum intruso por perto para tentar dissuadi-la.  Espaço deserto. Subiu rapidamente no parapeito, fechou os olhos e saltou.
      Sua determinação suicida durou pouco. Antes de bater na água já havia mudado de ideia. Tarde demais! Foi direto ao fundo do leito, deu um impulso e voltou à tona. Agarrou-se a algo flutuante, provavelmente um tronco caído, e lá se foi, correnteza abaixo, abraçada àquela “tábua de salvação”, única esperança de vida. A força das águas a embarcou numa viagem insólita, do meio-dia ao anoitecer. Durante longas horas, ao sabor da correnteza, pensou e repensou seu ato insano. No lusco-fusco do dia, próximo à cidade de União, alguns pescadores a avistaram e pensaram logo em assombração. Fugiram assustados, temerosos das coisas do outro mundo. Porém um deles, mais corajoso, esperou a aproximação do fantasma e, ao ouvir gritos de socorro, deu-se conta de que se tratava de um vivente. Tratou de resgatar a suicida arrependida. Salva das águas, nunca mais quis saber de estripulias mortíferas. Até hoje aguarda, sem pressa, “sua vez e sua hora”.


*Jô Drumond é membro da:
AEL (Academia Espírito-santense de Letras)
AFESL (Academia Feminina Espírito-santense de Letras)
AFEMIL (Academia Feminina Mineira de Letras)
IHGES (Instituto Histórico e Geográfico do ES)