Os jovens nem imaginam que os primeiros computadores eram tão grandes que os usuários trabalhavam dentro deles. O primeiro computador, em 1946, tinha 180 m2 de área construída, pesava 30 toneladas e possuía apenas 200 bits de memória RAM. Thomas Edson criou a primeira a lâmpada em 1879. Karl Benz criou o primeiro automóvel moderno em 1886. Santos Dumont fez o primeiro voo, com decolagem, permanência no ar e pouso, em 1906. Ernst Alexanderson conseguiu a primeira transmissão de TV, muito rudimentar, em 1928.
“Vivemos no melhor dos mundos possíveis”, mas basta que um dos segmentos de nossa vida gregária entre em disfunção, para que haja transtorno e até mesmo comoção coletiva. Tomemos como exemplo o recente caso da greve dos caminhoneiros. Inicialmente, tratava-se apenas de uma notícia a mais nos jornais impressos, televisivos e virtuais. A vida continuava seu curso normal. Alguns dias após o início da greve, devido ao desabastecimento de combustíveis, todos nós fomos diretamente afetados. Ônibus, coletivos e táxis foram se escasseando, até a parada completa. O mesmo aconteceu com os carros particulares. Até então, não havia grandes problemas. Quem não podia se dirigir ao trabalho, por falta de condução, aproveitava as férias compulsórias, muito bem-vindas, para ver televisão, ouvir música ou tirar um cochilo no meio da tarde.
No entanto, o bem-estar do feriadão remunerado durou pouco. Nos hospitais, atendimento precário por falta de pessoal. Supermercados e padarias fechados, por falta de atendentes. As escolas fecharam suas portas, assim como quase todo o comércio. Caso uma mercearia ou padaria arriscasse funcionar precariamente, era invadida por uma horda de compradores vorazes, no afã de adquirir tudo que encontrassem pela frente, capazes de ir às últimas consequências pela disputa de algum produto escasso. O temor da permanência da crise despertou nos cidadãos o instinto da disputa pela sobrevivência. Bastou a paralisação de um segmento social para causar colapso, temor e desolação.
Um outro exemplo menos perturbador, mas também com grande poder de transtorno é a falta prolongada de energia elétrica. Inicialmente, pessoas distraídas se veem em situações hílares no dia a dia, pela falta de hábito de viver sem eletricidade. Pude experimentar uma situação deveras cômica. Sem energia, tive que parar o trabalho no computador, porque a bateria havia expirado. Sem poder trabalhar, resolvi ver televisão. Impossível. Enquanto esperava a volta da energia, decidi tomar uma ducha. Água gelada. Deixei o banho para mais tarde. Decidi então ir para a cozinha, preparar alguns quitutes no fogão a gás. Felizmente não dispunha de fogão elétrico. Porém eu havia me esquecido de que o acendimento do fogão era automático. Só funcionava com energia elétrica. Há tempos não tocava em um palito de fósforos, coisa de museu. Pensei em telefonar para a Companhia de Força e Luz, mas os telefones tampouco funcionavam sem energia. Como não havia nada a fazer, resolvi sair para passear no parque com os netos. Fui até à portaria do prédio onde moravam. Elevador parado. Como subir mais de vinte andares? Passeio adiado.
Inicialmente, deparamos apenas com percalços domésticos de pequena grandeza, como esses, mas, caso o desabastecimento persistisse, a situação se agravaria. Todos os alimentos perecíveis que necessitam de resfriamento ou congelamento deveriam ser descartados. As noites sem iluminação pública proporcionariam ambiente propício para toda sorte de malfeitores. Quanto mais tempo sem energia, maiores seriam os problemas a serem enfrentados pela sociedade e pelo poder público.
Em tempos de paz, mais cedo ou mais tarde, tudo se resolve a contento. Entretanto, em períodos bélicos, nós, citadinos, somos presas extremamente fáceis de encurralar e abater. Basta que o inimigo faça o cerco à cidade, corte os meios de comunicação e a energia elétrica e envenene a água. Não mais que isso. Êxito garantido, sem violência, sem sangue e sem bombas. A morte coletiva seria gradual pela escassez de víveres, e natural, por inanição. Vitória simples, fácil e pouco dispendiosa. Viveríamos no pior dos mundos possíveis, um mundo extremamente vulnerável.
Esta frase bastante conhecida, “Vivemos no melhor dos mundos possíveis”, é de um alemão, filósofo, cientista, matemático e diplomata, Gottfrield Leibniz.(1646/1716).
Segundo ele, sendo Deus um ser sumamente bom e onisciente, só poderia colocar os humanos no melhor dos mundos possíveis.
O filósofo iluminista francês, Voltaire (1694/1778) vai de encontro à concepção aristocrata de Leibniz. Em sua obra Candide ou l’optimisme, ele faz uma sátira veemente ao otimismo leibniziano. O nome do protagonista, Cândido, já indica a ingenuidade de um jovem, de déu em déu, à mercê de um mundo perverso. Ao longo dos capítulos, há uma desastrosa sequência de fatos na vida de Cândido, com cenários de guerra, catástrofes naturais, violência política, canibalismo, banditismo e corrupção.
É mister frisar que Voltaire defendia a liberdade de expressão e criticava constantemente a Inquisição, a intolerância, o fanatismo religioso, a escravidão, a superstição... (iluminismo versus obscurantismo). Ele era também contra a concepção leibniziana de que “tudo possui uma razão ou princípio fundamental para acontecer”.
Por meio de seu ingênuo e simpático personagem, Candide, Voltaire tenta demonstrar que, se este fosse o melhor dos mundos, não gostaríamos de conhecer o pior. A seu ver, como não podemos mudar o mundo de forma imediata, que cada um cuide, pelo menos, de seu pequeno jardim. Um de seus lemas era: “Il faut cultiver notre jardin”.
No entanto, o bem-estar do feriadão remunerado durou pouco. Nos hospitais, atendimento precário por falta de pessoal. Supermercados e padarias fechados, por falta de atendentes. As escolas fecharam suas portas, assim como quase todo o comércio. Caso uma mercearia ou padaria arriscasse funcionar precariamente, era invadida por uma horda de compradores vorazes, no afã de adquirir tudo que encontrassem pela frente, capazes de ir às últimas consequências pela disputa de algum produto escasso. O temor da permanência da crise despertou nos cidadãos o instinto da disputa pela sobrevivência. Bastou a paralisação de um segmento social para causar colapso, temor e desolação.
Um outro exemplo menos perturbador, mas também com grande poder de transtorno é a falta prolongada de energia elétrica. Inicialmente, pessoas distraídas se veem em situações hílares no dia a dia, pela falta de hábito de viver sem eletricidade. Pude experimentar uma situação deveras cômica. Sem energia, tive que parar o trabalho no computador, porque a bateria havia expirado. Sem poder trabalhar, resolvi ver televisão. Impossível. Enquanto esperava a volta da energia, decidi tomar uma ducha. Água gelada. Deixei o banho para mais tarde. Decidi então ir para a cozinha, preparar alguns quitutes no fogão a gás. Felizmente não dispunha de fogão elétrico. Porém eu havia me esquecido de que o acendimento do fogão era automático. Só funcionava com energia elétrica. Há tempos não tocava em um palito de fósforos, coisa de museu. Pensei em telefonar para a Companhia de Força e Luz, mas os telefones tampouco funcionavam sem energia. Como não havia nada a fazer, resolvi sair para passear no parque com os netos. Fui até à portaria do prédio onde moravam. Elevador parado. Como subir mais de vinte andares? Passeio adiado.
Inicialmente, deparamos apenas com percalços domésticos de pequena grandeza, como esses, mas, caso o desabastecimento persistisse, a situação se agravaria. Todos os alimentos perecíveis que necessitam de resfriamento ou congelamento deveriam ser descartados. As noites sem iluminação pública proporcionariam ambiente propício para toda sorte de malfeitores. Quanto mais tempo sem energia, maiores seriam os problemas a serem enfrentados pela sociedade e pelo poder público.
Em tempos de paz, mais cedo ou mais tarde, tudo se resolve a contento. Entretanto, em períodos bélicos, nós, citadinos, somos presas extremamente fáceis de encurralar e abater. Basta que o inimigo faça o cerco à cidade, corte os meios de comunicação e a energia elétrica e envenene a água. Não mais que isso. Êxito garantido, sem violência, sem sangue e sem bombas. A morte coletiva seria gradual pela escassez de víveres, e natural, por inanição. Vitória simples, fácil e pouco dispendiosa. Viveríamos no pior dos mundos possíveis, um mundo extremamente vulnerável.
Esta frase bastante conhecida, “Vivemos no melhor dos mundos possíveis”, é de um alemão, filósofo, cientista, matemático e diplomata, Gottfrield Leibniz.(1646/1716).
Segundo ele, sendo Deus um ser sumamente bom e onisciente, só poderia colocar os humanos no melhor dos mundos possíveis.
O filósofo iluminista francês, Voltaire (1694/1778) vai de encontro à concepção aristocrata de Leibniz. Em sua obra Candide ou l’optimisme, ele faz uma sátira veemente ao otimismo leibniziano. O nome do protagonista, Cândido, já indica a ingenuidade de um jovem, de déu em déu, à mercê de um mundo perverso. Ao longo dos capítulos, há uma desastrosa sequência de fatos na vida de Cândido, com cenários de guerra, catástrofes naturais, violência política, canibalismo, banditismo e corrupção.
É mister frisar que Voltaire defendia a liberdade de expressão e criticava constantemente a Inquisição, a intolerância, o fanatismo religioso, a escravidão, a superstição... (iluminismo versus obscurantismo). Ele era também contra a concepção leibniziana de que “tudo possui uma razão ou princípio fundamental para acontecer”.
Por meio de seu ingênuo e simpático personagem, Candide, Voltaire tenta demonstrar que, se este fosse o melhor dos mundos, não gostaríamos de conhecer o pior. A seu ver, como não podemos mudar o mundo de forma imediata, que cada um cuide, pelo menos, de seu pequeno jardim. Um de seus lemas era: “Il faut cultiver notre jardin”.