Considerando-se
como “diálogo das formas” o contraste entre estilos artísticos de diferentes
épocas dentro de um mesmo espaço, percebe-se que a interferência do moderno em
contraposição ao antigo pode dar excelente resultado, ou não.
Há quem
diga que a beleza não se encontra na obra de arte, mas na visão de quem a
observa. Há obras consideradas lindíssimas por alguns, e sem beleza alguma por
outros. O gosto estético é pessoal e intransferível. Há quem aprecie a arte
acadêmica e também quem a abomine. Acontece o mesmo com a arte moderna.
Seguem
abaixo algumas ponderações de cunho pessoal a respeito de alguns contrastes arquitetônicos parisienses,
(des)agradáveis aos meus olhos.
No
centro histórico, muitas vezes, o visitante se surpreende com a brusca mudança
do estilo arquitetônico. Por exemplo, ao chegar-se ao famoso museu do Louvre,
passando pelo pequeno arco do triunfo de Constantino, perfeitamente integrado à
paisagem urbana, depara-se com a Pirâmide de Cristal, que hoje se presta como
principal entrada do museu.
Trata-se
de um choque visual de rara beleza. Na época de sua construção, houve acirrada
polêmica e debates acalorados pela televisão. Grande parte da população era
radicalmente contra. Apesar da oposição, o projeto foi em frente. Hoje em dia,
mesmo aqueles que eram contra apreciam o monumento. A Pirâmide de Cristal
tornou-se a terceira obra mais apreciada do museu do Louvre, depois do quadro
da Joconda (Monalisa) e da escultura de Vênus de Milo. Realmente, a falsa leveza
(de 95 toneladas) do metal, associada à transparência do cristal, em oposição
ao entorno, forma um conjunto lindo de se ver.
A PIRÂMIDE DO LOUVRE |
Bem
pertinho dali, no pátio interno do Palais Royal (Palácio Real), construído para
residência do Cardeal Richelieu, em 1633, há uma interferência modernosa,
datada de1986, que não me agrada. As 260 colunas de Büren, listradas em preto e
branco, com alturas diferenciadas, não foram uma feliz ideia. Essa
interferência paisagística causou também grande polêmica e quase foi destruída
por diversas vezes, por ordem da prefeitura e da Secretaria de Cultura, mas
conseguiu se manter. A meu ver, um
simples jardim no local daria melhor resultado. Como disse anteriormente, essa
é uma opinião estritamente pessoal. Certamente há quem goste dessa
interferência nos jardins do palácio.
PALAIS ROYAL COLUNAS DO BUREN |
A Ópera
(ou Palácio) Garnier, em estilo eclético, foi construída por Charles Garnier no
século XIX. Na década de 60 do século XX, o pintor Marc Chagall foi convidado a
substituir os afrescos existentes no teto dessa Ópera. Sua obra pictórica
causou escândalo na época, tendo em vista as cores fortes e o estilo do pintor,
em total dissintonia com a suntuosidade do palácio. Nesse caso, faço coro com
os que se escandalizaram pela discrepância. Sua obra ficaria muito bem em salas
modernas, mas não na Garnier. Não
discuto a importância, nem o valor do que foi pintado diretamente por ele no
teto do teatro, mas, como já disse, o diálogo das formas entre estilos de
diferentes épocas nem sempre é louvável. Esta é, a meu ver, uma tentativa que
não deu certo. Veja a magnificência do interior da ópera.
Outra
interferência moderna que desagrada a muitos pela quebra do estilo
arquitetônico da Cidade Luz, no bairro
mais antigo de Paris, o Marais, foi a construção do Centro Cultural
Georges Pompidou, conhecido também como Beaubourg. Trata-se de um complexo arquitetônico
extremamente arrojado, do final do século XX. Ele é considerado marco do início
da pós-modernidade nas artes.
É um dos principais exemplos de arquitetura higt tech, de inegável importância devido ao inovador projeto de sustentação e também devido às tubulações aparentes. Esse Centro Cultural, apesar de ser um dos locais mais visitados de Paris, não é esteticamente agradável a meus olhos, pelo fato de ter interferido enormemente na paisagem urbana do Marais. Seu porte é desproporcional ao espaço ocupado; sua aparência não coaduna com as construções antigas do entorno. Minha filha, que é arquiteta, caiu de amores por essa geringonça. A seu ver, o Beaubourg é o mais lindo projeto arquitetônico da cidade.
É um dos principais exemplos de arquitetura higt tech, de inegável importância devido ao inovador projeto de sustentação e também devido às tubulações aparentes. Esse Centro Cultural, apesar de ser um dos locais mais visitados de Paris, não é esteticamente agradável a meus olhos, pelo fato de ter interferido enormemente na paisagem urbana do Marais. Seu porte é desproporcional ao espaço ocupado; sua aparência não coaduna com as construções antigas do entorno. Minha filha, que é arquiteta, caiu de amores por essa geringonça. A seu ver, o Beaubourg é o mais lindo projeto arquitetônico da cidade.
Bem
próximo desse centro cultural, há o atual centro comercial Les Halles, que
muito me agrada, ocupando parte do grande espaço do antigo mercado de
atacadistas de alimentos frescos. Realmente gosto não se explica.
A Ópera
Bastille, com modernas curvas vitrificadas, construída na Praça da Bastilha,
nem de longe lembra a antiga prisão da Bastilha, situada antigamente na mesma
praça. Porém trata-se de uma bela construção que, apesar de não se adequar ao
entorno, é agradável de se admirar.
Uma
paisagem urbana moderníssima, linda e de agradável vivência, é o bairro La
Défense, onde a presença do vidro é
preponderante na leveza das construções. Arranha-céus brotam do chão, numa
floresta de vidro, em contraste com o peso das construções neoclássicas,
predominantes na maior parte da cidade. La Défense é a Paris moderna, de
aspecto prático e futurista. Esse bairro, iniciado na década de sessenta do
século passado, foi inspirado na arquitetura norte-americana. Há turistas que o
amam, outros que o odeiam.
Alguns deles se negam a visitá-lo, o que é uma pena.
É um lugar amplo, belo, agradabilíssimo de percorrer, com belas construções em
estruturas metálicas. Trata-se de um audacioso projeto de urbanização, que deu
certo, visitado anualmente por mais de oito milhões de turistas. Ali moram
vinte mil parisienses e ali trabalham duzentas mil pessoas. O Shopping Le
Quatre-Temps, ao lado do Arco, é o
maior centro comercial da região parisiense.
O Arco
(retangular) da Défense, que se vê na foto, faz contraponto ao famoso Arco do
Triunfo, construído por Napoleão na Praça da Estrela.
Esse
novo arco faz eixo com os principais pontos turísticos parisienses. Partindo da
direção contrária, ou seja, do museu do Louvre, estende-se o Jardin des
Tuilleries, até a Place de la Concorde, onde há um antigo obelisco egípcio e
onde se pode visitar o museu Orangerie, em
cujas paredes Monet pintou suas famosas ninfeias. Na sequência, entra-se na
Avenida Champs Élysées, a mais famosa do mundo, com suas construções
magnificentes, jardins e palácios. Do lado esquerdo veem-se o Grand-Palais e o Petit-Palais, dois palácios
colossais, onde há eventos culturais, assim como exposições artísticas fixas e
temporárias.
Tal avenida termina na Praça da Estrela, na qual 12 ruas se cruzam
formando uma estrela, em cujo centro se encontra o famoso Arco de Triunfo, construído
por Napoleão Bonaparte. A partir dessa praça, a mesma avenida muda de nome.
Passa a se chamar Av. de La Grande Armée e,
que vai dar no novo bairro La Défense, exatamente na praça, em que há a réplica
moderna do arco. Nas proximidades, há uma torre de vidro, arredondada, em
contraponto à Torre Eiffel. A sequência dessa avenida vai até o aeroporto
internacional Charles de Gaulle.
Em
Paris, há muitas outras construções modernas, como a sala de concertos
inaugurada recentemente, La Seine Musicale, ao lado do rio Sena, num bairro
afastado, chamado Boulogne-Billancourt, ou como a Philharmonie de Paris, a
maior de todas as salas de concertos da cidade, situada no Parque de la Vilette.
Tais construções, de grande impacto arquitetônico, estão fora do Centro Histórico e
se integram ao entorno.
Na
Cidade Luz, uma das mais cosmopolitas do mundo, o “diálogo das formas” pode
impactar positivamente ou negativamente os visitantes, (des)agradando
simultaneamente milhões de turistas que ali circulam, sem cessar. A diversidade
de nacionalidades, de etnias e de credos pode ser pacífica, ou não, assim como
a diversidade estética.
Jô Drumond
Josina Nunes Drumond
Pós doutora em Literatura Comparada, pela UFMG,Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP e Mestre em Estudos Literários, pela UFES. É Pós-graduada (latu sensu) em Arte e Cultura Barroca pela Universidade Federal de Ouro Preto e em Literatura de Língua Portuguesa, pela UFES. Tem três graduações: Letras pela UFMG, Lingua, Literatura e Civilização Francesas, pela Université de Nancy (França) e Artes Plásticas pela UFES.
Autora de vários livros, Jô Drumond tem artigos, contos, crônicas, poemas e ensaios publicados em antologias, jornais, revistas de pós graduação, anais de congressos e na internet.
É tradutora juramentada do Estado do Espírito Santo. Membro da diretoria da Academia ES de Letras e da Academia Feminina de Letras do ES. É membro também do Instituto Histórico e Geográfico do espírito Santo, da Academia Feminina Mineira de Letras, do Conselho Estadual de Cultura e do Comitê da Aliança Francesa de Vitória.
Jô Drumond
Josina Nunes Drumond
Pós doutora em Literatura Comparada, pela UFMG,Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP e Mestre em Estudos Literários, pela UFES. É Pós-graduada (latu sensu) em Arte e Cultura Barroca pela Universidade Federal de Ouro Preto e em Literatura de Língua Portuguesa, pela UFES. Tem três graduações: Letras pela UFMG, Lingua, Literatura e Civilização Francesas, pela Université de Nancy (França) e Artes Plásticas pela UFES.
Autora de vários livros, Jô Drumond tem artigos, contos, crônicas, poemas e ensaios publicados em antologias, jornais, revistas de pós graduação, anais de congressos e na internet.
É tradutora juramentada do Estado do Espírito Santo. Membro da diretoria da Academia ES de Letras e da Academia Feminina de Letras do ES. É membro também do Instituto Histórico e Geográfico do espírito Santo, da Academia Feminina Mineira de Letras, do Conselho Estadual de Cultura e do Comitê da Aliança Francesa de Vitória.