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*Jô Drumond |

Como
era bem mais ágil que o réptil, poderia se safar com facilidade, saltar para
outros galhos, para outras árvores. Mas, não o fez. Manteve-se inquieto, como se
estivesse encurralado, de olhos fixos na aproximação daquela que avançava
serenamente, segura do êxito de sua caçada. Os voyeurs, estáticos, já
aguardavam o bote certeiro, quanto algo inesperado aconteceu. O pequeno animal
atacou a serpente e com ela se atracou ferozmente. Ambos caíram das alturas.
Num piscar de olhos, o animalzinho subiu pelo tronco e voltou a manter a guarda
de seu espaço.
Sua bravura relacionava-se certamente à sobrevivência de
indefesos filhotes. Uma morada nas alturas seria a única explicação plausível
para tamanha audácia.
A serpente, aturdida com a petulância da pretensa presa, e
certamente envergonhada por ter literalmente caído do galho, partiu resvalando
entre folhagens, em busca de caça menos traiçoeira.
Esse incidente, presenciado por amigos meus, remeteu-me a
uma reportagem televisiva, levada ao ar recentemente.
Uma emissora de TV apresentou fatos da vida real, em
situações de alto risco, que demonstram o altruísmo e a força física quase
sobrenatural de mães, no afã de salvar seus rebentos.
Uma delas, sem saber nadar, lutou bravamente contra a
correnteza de um rio, num acidente automobilístico. Poucos momentos antes, ela
havia quebrado o pára-brisa do carro com o próprio punho, e tirado os filhos do
veículo, já em vias de afundamento.
Durante um incêndio, uma franzina senhora, apesar da frágil
compleição, conseguiu arrancar uma grade de ferro chumbada à parede. Ao ser
entrevistada, rodeada pelos filhos, mostrou, toda garbosa, a grade arrancada e
os buracos do arrombamento nos quadrantes da janela.
Outra imagem mostrou uma mãe que tinha se jogado contra um
rolo compressor, para evitar o esmagamento de seu filho.
De outra feita, ouvi num noticiário, que, imbuída de uma
força descomunal, uma mãe fora capaz de suspender um carro cuja roda esmagava
seu filhinho.
Outra cena inusitada foi amplamente veiculada pela mídia, há
algum tempo. Num zoológico dos Estados Unidos, um garoto caiu no fosso que
envolvia o espaço destinado aos gorilas. Um gorila-mãe, imbuída de instinto
materno, mais que depressa pegou nos braços a criança desmaiada, para evitar
que ela fosse morta por seus colegas. Conduziu-a até o local onde o tratador
colocava os alimentos, colocou-a delicadamente no solo, e ficou de guarda até
que a criança fosse resgatada.
Dizem que o instinto mais forte nos viventes, é o da própria
sobrevivência. Entretanto, esses e muitos outros casos registrados na mídia e
na memória popular, levam-nos a crer que o instinto materno é mais forte que o
da autopreservação. Incidentes, nos quais a vida do filho se torna mais
importante que a própria, já foram presenciados inúmeras vezes em momentos
cruciais de tragédias, as mais diversas.
O pai, tanto quanto a mãe, é capaz de ações mirabolantes,
para salvar um filho. Não se pode, de modo algum, subestimar a pujança do amor
paterno.
No entanto, o fato de conceber, gerar e dar a luz desenvolve
na genitora um vínculo não apenas de sangue. Trata-se de uma experiência
restrita apenas às mulheres, ou melhor, às fêmeas, que tiveram o privilégio da
maternidade. São detentoras de uma força biológica que atua de modo
inconsciente, de um impulso espontâneo, alheio à razão, independente de
qualquer tipo de aprendizado.
Deve ter sido esse instinto que, no seio da Mata Atlântica,
fez com que a corajosa fêmea resguardasse sua cria.
*Jô Drumond é membro
da:
AEL (Academia
Espírito-santense de Letras)
AFESL (Academia
Feminina Espírito-santense de Letras)
AFEMIL (Academia
Feminina Mineira de Letras)
IHGES (Instituto
Histórico e Geográfico do ES)