O acesso à internet mudou totalmente os
hábitos dos cidadãos. Prescinde-se hoje de ir ao correio para postar
correspondências. A comunicação se faz em questão de segundos, via satélite,
nos quatro cantos do mundo. O jornal impresso é quase obsoleto. Tornou-se
uma espécie “re-vista”, pois não apresenta nada mais em primeira mão. A
internet traduz, automaticamente, notícias de qualquer idioma para a língua
materna do leitor. Evidentemente, não se trata de boa tradução, mas eficiente
na divulgação de informações importantes, em tempo real.
Antigamente, se alguém dissesse
que, no futuro, se poderia, ao mesmo tempo, visualizar e falar com um ente
querido que se encontrasse do outro lado do planeta, arriscar-se-ia a ser
condenado à fogueira. Sabe-se que em 1633, preso pelas garras da inquisição, o
grande matemático, físico, astrônomo e filósofo Galileu Galilei teve que
“desdizer” o resultado de suas pesquisas para evitar a morte. Obrigado a se
retratar, na questão do heliocentrismo, ele se viu na contingência de afirmar,
durante o julgamento, que a Terra não girava em torno do Sol. Mas murmurou a
seus botões: “eppur si muove” (e, no entanto, ela se move).
Nos dias de hoje, o poder
constituído se sente perdido, sem saber como controlar o vento que sopra em
diversas direções. A classe política se encontra (ou se perde) nos dédalos do
labirinto virtual. O povo, mais informado, está mais atento ao que se passa nos
bastidores do governo. A turba deixou de ser apática e passiva, facilmente
forjada pelos poderosos. Atualmente a opinião pública pode ser manipulada em
tempo recorde, é verdade, mas o povo está aprendendo, a duras penas, a “separar
o joio do trigo”.
Nossa geração, nascida em meados do
século passado, criada antes do advento da revolução tecnológica, tem sofrido
substanciais interferências em seu way of life, adaptando-se ao
novo modus vivendi. Os pais, muitas vezes, se sentem indefesos
e impotentes para controlar os filhos que têm acesso a uma infinidade de
informações, boas ou nefastas, que podem interferir na sua formação. Atualmente
há, por exemplo, um jogo de desafios que acontece na calada da noite, longe da
vigilância paterna. Os jovens postam os desafios aos quais são submetidos. No
jogo da Baleia Azul, o último desafio, como se sabe, é o suicídio, filmado e
divulgado virtualmente, em tempo real, uma espécie de “Big Brother” macabro. É
difícil impedir o acesso à internet à nova geração. O que fazer para
salvaguardar nossos filhos e netos? Essa questão está sendo amplamente debatida
nos dias de hoje.
Por outro lado, as redes sociais
proporcionam momentos de grande contentamento e nostalgia, uma espécie de
retorno ao passado, por meio de grupos de ex-colegas que se reencontram décadas
após a formatura e que relembram com saudosismo os anos de juventude sem
televisão, sem telefone “sem lenço, sem documento”. As redes sociais resgatam
antigas amizades, antigos amores e possibilitam novos relacionamentos. Os
idosos e as pessoas que moram sozinhas, tendo o mundo diante de si, sentem
menos o peso da solidão. Expressam-se quando bem entendem, com retorno
instantâneo de seus interlocutores.
Parece um contrassenso ter
saudades da falta de conforto, da falta de rádio e televisão, da falta de
celular, da falta de computador, da falta da internet... No entanto, isso
acontece. Durante a juventude de nossos avós, não havia carro, avião, nem
energia elétrica. Eu mesma me lembro com nostalgia das rodas de contação de
histórias, à luz de lamparina, na fazenda onde fui criada, numa época em que
não existia eletrificação rural. O que se fazia, naquelas noitadas míticas, era
a genuína literatura oral. Depois, numa cidade de interior, onde estudei,
faziam-se rodas de vizinhos, à noite, com cadeiras na calçada, para
brincadeiras típicas da época, com a criançada, ou para um dedo de prosa,
enquanto não vinha o sono.
Deve ser impensável para as futuras
gerações uma vida sem acesso à tecnologia. Nossos netos e demais descendentes
só saberão de nossa história de vida, se alguém se dispuser a registrar os usos
e costumes de nossa época. Eles terão, certamente, outros divertimentos mais
interessantes, que talvez não propiciem a convivialidade de antes, cada vez
mais escassa em nossos dias. Cada um se diverte sozinho, diante do laptop ou
tendo às mãos um smartphone conectado com o mundo.
No futuro, com o devido distanciamento
crítico, muitos estudiosos, sobretudo os sociólogos, se debruçarão em pesquisas
sobre a mudança dos aspectos consuetudinários de nossa geração. Conhecemos
ambas as faces da moeda e vivenciamos o “antes” e o “depois” dos recursos
advindos com as novas tecnologias.
Aconteceu recentemente, num grupo de
whatsApp do qual participo, algo que se presta a reflexões desses
especialistas, quanto ao comportamento atual do ser humano. Trata-se de um
grupo numeroso, com uma postagem diária próxima a uma centena de mensagens.
Certo dia, tal grupo parou de funcionar espontaneamente, sem nenhum consenso
prévio. Nenhuma mensagem durante todo o dia. Silêncio. Branco total. Naquele
dia um dos integrantes do grupo cometera suicídio. Estranhamente, em vez de
usarem a rápida e eficiente ferramenta de comunicação de que dispunham, para a
divulgação da notícia, os usuários optaram por ligações telefônicas, relegadas,
há muito tempo, a segundo plano. O branco na caixa de mensagens foi uma espécie
de luto, em respeito à dor dos que ficaram e à decisão de quem optou pela
partida.
Há pessoas mais conservadoras que
resistem tenazmente à adesão às novas tecnologias da comunicação. Em breve, não
haverá mais analfabetos digitais. A internet veio para ficar. Não se pode mais
viver sem a praticidade, a facilidade e a agilidade desse tipo de comunicação.
Evidentemente, como tudo neste mundo, ele comporta aspectos positivos e
negativos. Cabe a cada usuário escolher e trilhar seu caminho virtual, como
melhor lhe convier.
Jô Drumond 06-05-2017