segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

A FORÇA DA ONOMÁSTICA

Segundo uma crendice de longa data, a nominação do espírito do Mal deve ser evitada para não atrair sua presença. Isso explica a extensa sinonímia existente em torno do demônio, na cultura popular. No livro Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, há cerca de uma centena de eufemismos de origem supersticiosa, referente ao demônio. Vejamos alguma delas: o Austero; o Severo-mor; o Morcegão; o Dos-fins; o Sempre-sério;   o Pau-da-mentira; o Pai-do-Mal; o Tendeiro; o Que-não-ri; o Cujo; o Cão; o Capeta; o Capiroto; o Cramulhão; o Arrenegado; o Maligno; o Tinhoso, o Bode-preto; o Das-trevas; o De-preto... e por aí vai.

Minha mãe, nascida e criada no sertão de Minas, aparentada a tal escritor, descendente também dos Guimarães, assim como Rosa, acreditava nessa crendice.

Ela tinha pavor de certa doença maligna, da qual nunca mencionava o nome. Sempre dizia: “aquela doença”. Rezava todas as noites, pedindo ao bom Deus que ninguém de sua família a contraísse. Ao final de sua vida, já no CTI, com diagnóstico de falência múltipla de órgãos, chamou o médico responsável e lhe disse: –  Doutor, seja franco. Diga-me a verdade. Eu tenho “aquela doença? – E ele respondeu:  – Fique tranquila, dona Tunica. A senhora tem tudo, menos aquela doença. – Ah! Que bom! –  Respirou aliviada. Naquele mesmo dia ela partiu para uma viagem sem volta, feliz da vida por não estar com câncer.

Engana-se quem pensa que tal crendice só acontece nos rincões do país e nas classes mais populares. Há poucos dias, em conversa com um grande intelectual capixaba, percebi que ele nunca citava os nomes dos desafetos. Sempre se referia a eles lançando mão de epítetos caricaturais, de modo que eu percebia perfeitamente de quem se tratava. A crendice sertaneja não ficaria bem em uma pessoa de grande projeção social e de “suma doutoração”, como diria Guimarães Rosa. Não contive a curiosidade. Perguntei-lhe por que nunca mencionava os nomes daquelas pessoas. Usou a mesma argumentação sertaneja: – Para não atrair o Mal (aqui representado por pessoas indesejáveis).

Deixemos de lado os sertanejos de ontem, os citadinos de hoje e passemos à Grécia antiga. Um dos diálogos de Platão, intitulado Crátilo, aborda a questão da justeza dos nomes. Nessa obra, Sócrates é inquirido por Crátilo e Hermógenes. Eles questionam se os nomes das pessoas e das coisas são “convencionais” (um sistema de símbolos arbitrários) ou “naturais” (relação intrínseca dos nomes com o que é nominado). Em outras palavras, Crátilo e Hermógenes discutem se o os nomes guardam relação com a coisa representada. Segundo Platão, em alguns casos os nomes refletem a natureza das coisas; em outros, trata-se apenas de uma convenção. A seu ver, a coordenação entre os elementos da linguagem e a essência das coisas não pode ser alcançada, mas apenas idealizada como uma possibilidade.

Mal sabia minha avó paterna, sertaneja de pouca instrução, que, quatrocentos anos antes de Cristo, alguns filósofos discutiam os mesmos questionamentos que a afligiam. A seu ver, cada pessoa já nascia com um nome predestinado. A cada neto que nascia ela tentava impingir um nome. Na maioria das vezes era contrariada pelos pais das crianças.

Quando nasci, ela procurou minha mãe, com a ladainha de sempre: “cada criança já nasce com um nome”. No entanto frisou que seria inútil dizer o nome a mim destinado. Ninguém lhe dava ouvidos.

Minha família tinha por hábito, por devoção ou por falta de imaginação colocar sempre no recém-nascido o nome do santo do dia. Não sei se o calendário dos santos se encontrava em algum almanaque ou na tradicional “Folhinha Mariana”. Nasci no dia de Nossa Senhora do Carmo. Portanto meu nome deveria ser Maria do Carmo.

–  Essa criança nasceu para ter o nome do avô: Josino – afirmou minha avó categoricamente. Como, no meu caso, se tratava de uma menina, trocou-se o “o” pela “a”. Surpreendentemente, minha mãe fez uma concessão, para agradar à sogra.

Nunca gostei dessa escolha, mas tampouco gostaria de me chamar Maria “de alguma coisa” ou Maria “de algum lugar”. A criança não pode escolher seu próprio nome, mas o adulto pode adotar o pseudônimo que lhe aprouver. Por isso, nem Josina, nem Maria: simplesmente Jô, com mucho gusto.

Há um ensaio-crítico de Ana Maria Machado, ex presidente da Academia Brasileira de Letras, intitulado “O recado do nome” sobre a antroponímia roseana na obra Grande sertão:veredas. Entre outros, ela demonstra, por exemplo, o espírito bélico de Zé Bebelo, que vivia para o prazer de guerrear; demonstra também a ambiguidade de Diadorim (di=dois), conotando a dubiedade de um personagem enigmático, nebuloso, indefinível... que é, ao mesmo tempo, anjo e demônio; donzela e jagunço. A terminação “im”, muito comum no sertão de Minas, acentua a indefinição sexual do personagem, cuja beleza andrógena provoca certo fascínio. Para o protagonista, Riobaldo, o autor reservou o que se chama de polinomásia, ou seja, multiplicidade de nomes. Ele não tem nome fixo. Seu apelativo varia de acordo com cada etapa de sua vida. Na juventude, dá aulas a um fazendeiro e é, portanto, conhecido como professor. Ao se tornar jagunço, passou a ser chamado de Cerzidor, graças à rapidez do tiro. Mais tarde, considerando-se sua destreza no manejo de armas de fogo, passou a chamar-se Tatarana (lagarta de fogo). Ao se tornar chefe do bando, foi batizado de Urutu-branco (cobra-voadora), devido à valentia e à capacidade de liderança.

No conto “Desenredo”, do mesmo autor, há uma personagem que tem três  nomes: Livíria, Rivília e Irvília. Trata-se de uma mulher que “pisa em três estribos”: tem um marido e dois amantes. Um dia o marido dá um flagrante, mata um deles e posteriormente morre de tifo. O terceiro resolve se casar com ela. Acontece o mesmo com ele. Pisava ela num quarto estribo. Ganhou um quarto nome: Vilíria. Diferentemente de Riobaldo, sua mudança de nome é quase imperceptível. Ela se dá sub-repticiamente, em sintonia com a personalidade volúvel da nomeada.

Na Literatura, uma infinidade de nomes próprios sugere o caráter dos personagens.  Às vezes o próprio título da obra leva o nome do protagonista e traça seu perfil psicológico, como em Cândido, de Voltaire, em Inocência, de Visconde de Taunay... Poderíamos citar uma infinidade de exemplos, mas toda crônica carece de ponto final. Le voilà.

Jô Drumond

18 de janeiro de 2021

domingo, 20 de dezembro de 2020

SIMBOLOGIA TRIÁDICA

 


 (As Três Graças, de Botticelli)

A última crônica, postada neste blog no dia seis de dezembro, intitulada “Natal 2020”, referente à charge sobre os Reis Magos, suscitou a seguinte questão: Por que três reis? Por que não 2 ou 4? Isso me levou a refletir sobre a incidência do número três na mitologia religiosa, na literatura infantil, nos ditos populares...

Comecei a fazer mentalmente um levantamento da recorrência dele no cristianismo: Santíssima Trindade;1 Ressurreição de Cristo (no terceiro dia); o três é o número das moradas do Além, na mitologia católica (céu, inferno e purgatório); as três cruzes no Calvário; as três virtudes teologais (Fé, Esperança e Caridade); o apóstolo Pedro renegou Jesus três vezes no jardim das Oliveiras... Quanto às Três Marias alinhadas no céu estrelado, cada cultura lhes dá um diferente significado. Na tradição cristã, podem estar associadas tanto às três mulheres que visitaram o túmulo de Jesus, na ressurreição, quanto aos Reis Magos, a caminho de Belém.

Em nosso imaginário, o “três” é sedimentado desde tenra idade, por meio de historinhas infantis. É intrigante a incidência dele nos Contos de Fadas: Os três porquinhos tentam escapar do lobo; Chapeuzinho Vermelho faz três perguntas ao lobo que queria devorá-la; o gênio da lâmpada de Aladim permite-lhe satisfazer três desejos; a bruxa faz três tentativas para matar Branca de Neve; os mosqueteiros (um por todos; todos por um) eram também em número de três.

Além das historinhas, nossos ouvidos infantis foram habituados a ouvir certos provérbios concernentes ao número três: "Um é pouco, dois é bom, três é demais"; "Três vezes na cadeia é sinal de forca"; "O hóspede e o peixe aos três dias aborrecem"; "Fortuna de lobo três dias dura"; "Três coisas mudam o homem: Vinho, estudo e mulher"; "Quem vai à festa três dias não presta." ... pode-se encontrar um extenso rol de ditos desse tipo.

Simples coincidência ou não?  Tal incidência na religião, na literatura infantil e nos ditos populares incitou minha curiosidade e levou-me a uma pequena incursão pelas trilhas dessa simbologia triádica.

Sabe-se que as pirâmides do Egito eram projetadas a partir de uma base triangular. Tais construções com o vértice para o alto podiam simbolizar a ascensão e a conexão com o divino.

Três eram as classes básicas da sociedade – clero, nobreza e povo; três é também o número chave da democracia. Para se tomar uma decisão em grupo, são necessárias, no mínimo, três pessoas. Nesse regime, há os três poderes (executivo legislativo e judiciário).

Existe um código mundial de três elementos, para pedido de socorro. Basta fazer, por exemplo, três fogueiras no deserto ou em qualquer lugar para que o SOS (3 letras) seja captado.

Antigamente, na Índia, na Grécia e em Roma, o “três” representava o órgão genital feminino. Havia também uma ligação da figura da mulher com esse número. Simbolicamente, a trindade feminina podia representar manhã, tarde e noite, assim como nascer, amadurecer e morrer.

Na cabala, o número três faz referência à comunicação, à criatividade, à expansão e à expressão. Ele representa o movimento de sociabilização.

Para o filósofo e matemático Pitágoras, ele representa a perfeição, pelo fato de ser a soma do um, que significa unidade, e do dois, que significa diversidade.

As três graças, filhas de Zeus, na mitologia grega, lindamente pintadas por Botticelli, eram cultuadas como deusas do encantamento, da beleza, da natureza e da fertilidade.

 O triângulo equilátero, simples figura geométrica de três lados, além de simbolizar a perfeição e a unidade, tem uma enorme gama de significados, tais como início, meio e fim; corpo, alma e espírito; homem, mulher e criança, entre outras. No cristianismo, tal figura, acrescida de um olho em seu interior, simboliza o “olho de Deus”, aquele que tudo vê. Lembro-me de que, na infância, isso me apavorava.  Além de estar em todas as partes, já que Ele era onipresente, tinha também ciência de tudo: era onisciente. Sabia até mesmo o que se passava em nossos pensamentos. Eu me sentia espionada o tempo todo, como se estivesse participando do “big brother”. 

       (O olho que tudo vê)

Minha mãe era quituteira de mão cheia. Em uma das prateleiras da despensa da fazenda onde morávamos, havia grandes latas enfileiradas, contendo apetitosas guloseimas. Em cada uma delas, uma especialidade: Chimanguinhos, pães de queijo, cascudos, biscoitos de goma, broas, bolos, roscas, cajuzinhos, bolinhas de queijo cristalizadas... Essas delícias eram reservadas para a merenda, servida entre o almoço e o jantar. Minha voracidade infantil muitas vezes sofria com a longa espera. Eu entrava sorrateiramente na despensa para afanar alguma gulodice, mas me lembrava do “olho de Deus” vigiando meus passos. Saía de lá como havia entrado: com fome. Desolada, assentava em uma banqueta próxima à despensa, aguardava a lerdeza do passar do tempo e aguentava o clamor do estômago.

O triângulo se faz presente em diferentes circunstâncias e em diversas culturas. Sabe-se que cada um dos elementos da natureza é representado por um triângulo equilátero:

FOGO (vértice para cima)

AR, (vértice para cima, cortado horizontalmente)

ÁGUA (vértice para baixo)

TERRA (vértice para baixo, cortado horizontalmente)

 

Ele é também um símbolo significativo para a Maçonaria. O tridente, objeto de três pontas, considerado símbolo solar e mágico de poder e de força foi muito utilizado por gladiadores na Antiguidade. A Igreja católica distorceu sua simbologia, colocando-o na mão de Lúcifer, como arma do mal, do satanismo.


 

(Psi)

O tridente está também presente no símbolo da Psicologia representado pela vigésima terceira letra do alfabeto grego denominada “Psi”. Na concepção de Freud (1856-1939), o significado do tridente remete a forças do inconsciente, que representam a tríade: id (inconsciente), ego (pré-consciente) e superego (consciente). Há quem diga que as pontas do tridente representam as três principais teorias da psicologia: comportamentalismo, humanismo e psicanálise, assim como as três pulsões humanas: sexualidade, autoconservação e espiritualidade.

Para o filósofo alemão Ernst Cassirer (1874-1945), o ser humano é, antes de tudo, um animal simbólico. Em vez de perceber o mundo por meio dos instintos, como os outros animais, sua percepção da realidade (linguagem, mito, religião e ciência) acontece por meio de um universo simbólico, criado por ele mesmo.

Como se vê, a charge dos Reis Magos rendeu “pano pra manga” e renderá muito mais aos pesquisadores que porventura enveredarem pelas sendas dessa tríade numérica. Deixamos aqui registradas apenas algumas curiosidades dessa extensa simbologia que certamente perdurará per omnia saecula saeculorum nas diversas culturas.

 

NOTAS

 

1 - SANTÍSSIMAS TRINDADES:

A Santíssima Trindade para os cristãos (Pai, Filho e Espírito Santo)

A Trindade hindu: Brahma, Vishnu e Shiva.

A Trindade egípcia: Ísis, Osíris e Hórus.

As Trindades greco-romanas: Júpiter e Netuno, Plutão e Zeus, Poseidon e Hades, respectivamente.

 

2 - O OLHO DE DEUS

No cristianismo, o olho que tudo vê ou o “Olho da Providência” ou “Olho de Hórus” tem sido usado como símbolo desde cerca do século 16. O olho, dentro de um triângulo, é cercado por raios de luz. Trata-se do olho do criador cuidando de sua criação.

O olho de Hórus era um dos amuletos mais importantes no Egito Antigo, usado como representação de força, vigor, segurança e saúde. Hórus era o Deus egípcio do sol nascente.

 

                                                                        Jô Drumond   /  Dezembro 2020 

domingo, 6 de dezembro de 2020

NATAL 2020


A célebre frase do poeta americano Ezra Pound, “os artistas são a antena da raça”, aplica-se perfeitamente aos chargistas. Eles têm uma capacidade ímpar de captar o que se passa e de registrar numa charge o fato de forma perspicaz e bem-humorada. Até mesmo as tragédias são retratadas comicamente. Cultivo profunda admiração por esse tipo de criação artística. Estamos chegando ao fim de 2020, ano totalmente atípico, devido à avassaladora pandemia mundial. A charge acima demonstra exatamente isso. Quase tudo está de ponta-cabeça. Por que não uma menina no local da Natividade?

Essa charge, que circula anonimamente pelas redes sociais, retrata bem os transtornos vividos neste ano. Enquanto durar o pandemônio causado pela covid, nada será como antes. Até pouco tempo, caso alguém entrasse mascarado em um banco, os agentes de segurança seriam acionados. Hoje, ao contrário, eles podem ser acionados caso alguém entre no recinto sem máscara. Usuais manifestações de afeto podem se transformar em sentença de morte. Todos estão infectados até que se prove o contrário. As palavras mais corriqueiras são “quarentena”, “confinamento” e “distanciamento social”. Por meio da  internet, grande aliada dos confinados, pode-se fazer quase tudo virtualmente, na medida do possível. Entretanto o possível nem sempre é o bastante. Não se pode saborear a ceia de Natal virtualmente, a não ser por sinestesia, prelibando seus odores e sabores apenas com o olhar. A pergunta mais ouvida neste início de dezembro é: como será a confraternização de Natal, sem reunião familiar, sem abraços, sem presentes e sem comilança? Tudo pode acontecer. Até mesmo surgir no presépio uma menina em vez do menino-Jesus.

Na primeira mirada da charge, o espectador ri ou gargalha, dependendo do impacto. Repare as fisionomias de espanto dos Reis Magos. Exaustos pela longa caminhada, seguindo a estrela-guia para adorar e presentear simbolicamente o menino-Deus com ouro, incenso e mirra, o que encontram? Uma menina! Que desolação!

Sabe-se que, na criação artística, fazer rir é bem mais difícil que fazer chorar. Para provocar o choro há mecanismos infalíveis, como os utilizados nos dramalhões mexicanos. O riso, apesar de banal e corriqueiro, é de grande complexidade para os teóricos. O que provoca a derrisão a alguém, pode causar tristeza e até mesmo choro a outrem. Há diversos tipos de riso: o inocente, o diabólico, o satírico ou zombador, o irônico, o triunfante, o regenerador, o exultante...  às vezes torna-se difícil aos estudiosos o desbravamento de suas sendas.

Por que essa charge provoca a derrisão? A meu ver, o riso pode estar aqui associado a algo inesperado, mas também a um desacordo entre conceito e realidade, causado pelo automatismo inconsciente. O menino, salvador da humanidade, sempre foi representado como sendo do sexo masculino. Subitamente, contrassenso e inversão podem desencadear o riso fragoroso. Sub-repticiamente, podem desencadear também o riso irônico ou o sarcástico, devido à zombaria ao sagrado.

Jesus, “filho de Deus feito homem”, misto de personagem histórica e mítica era do sexo masculino. Daí surge a pergunta que não se quer calar: Quem definiu o gênero e o sexo de Deus? Sabe-se que a iconografia da mitologia religiosa, ao longo dos séculos, foi criada por artistas do sexo masculino, já que o universo da mulher era restrito ao âmbito familiar. Evidentemente tais artistas retrataram a divindade pretensiosamente “à sua imagem e semelhança”, relegando a mulher a um plano inferior.

Talvez seja resquício do patriarcado, iniciado há cerca de seis milênios, no qual o varão sempre tinha preponderância absoluta em todas as circunstâncias. Infelizmente o cristianismo adotou a mesma linha de exclusão do feminino. O representante de Deus na terra, o Papa, é do sexo masculino, assim como toda a hierarquia clerical: patriarca, cardeal, primaz, arcebispo, bispo, presbítero, padre, diácono...

Aproveitando a sutileza do chargista sobre o Natal 2020, faz-se mister repensar a condição feminina de inferioridade e de submissão, na sociedade, desde priscas eras.

Nota-se um misto de   espanto e incredibilidade na expressão do primeiro rei Mago, que, dois mil anos atrás, exclama. É menina! E nós, mulheres do século XXI, atuantes em todos os setores da sociedade, após termos tido a permissão de acesso ao ensino formal, podemos perguntar, sem petulância.  Por que não uma menina?

Jô Drumond

Dezembro/2020


RETORNO DOS LEITORES – CRÔNICA “NATAL 2020”

 

DENISE MORAES - VITÓRIA ES

Essa charge é muito pertinente aos tempos e me traz uma lembrança pouco agradável do meu pai.  Ele queria filho homem. Até a terceira gestação da minha mãe, nasceram três meninas.  Eu sou a segunda.   Que tristeza ouvir sempre, da parte dele, que éramos três estorvos. Ainda crianças, isso nos causava grande tristeza. Éramos ignoradas. Finalmente, nasceu um lindo menino loiro, levado por Deus no décimo mês de vida.   A morte do filho o fez mudar visivelmente, mas continuava a aguardar a chegada de um filho varão.  Enfim, veio outra menina.   –  Menina de novo!!!? – exclamou ele.

Que crueldade para com minha mãe. Ela preparava um lindo enxoval, com tanto esmero! Em seus olhos, quanta decepção! O marido mal queria ver a menina que nascera.  

Parece-me que a morte de meu irmão serviu de lição ou pesou na consciência de meu pai. Ele se apegou à última menina nascida e a mimou até seus últimos dias de vida.

Mais tarde, graças a Deus, minha mãe cumpriu a missão de gerar filhos homens. Teve três meninos consecutivamente, mas meu pai continuou tendo olhos somente para minha irmã.

Nós, as mais velhas, éramos tão amadas pelo avô materno e pelas tias, que nem sentíamos mais o fato de sermos ignoradas pelo pai.

Excelente crônica, você cria com uma propriedade surpreendente.

Parabéns, Jô.

 

LOLA BELGA – VITÓRIA - ES

Ei Jô, bom dia.

Incrível esse texto, vai dar um nó na cabeça de muita gente!

Só te digo uma coisa. O que seria do mundo se não fossem as mulheres?

A meu ver, o homem só ganha em força física. As mulheres têm atuado e se saído muito bem em praticamente todos os ramos do conhecimento e em todos os setores da sociedade. Cada vez mais, elas têm ocupado posições que antes eram um privilégio masculino.

Mas não podemos deixar de comentar que um completa o outro, desde que  haja respeito, compaixão e empatia!

Te confesso que nunca passou pela minha cabeça...e se Jesus fosse mulher!

 PENHA -MATHILDE -ES

Jô, admiro a criatividade dos chargistas tanto quanto a sua pois descortinam, de forma prazerosa e com riqueza de informações, diversas nuanças dos desafios vividos por nós nestes tempos esquisitos, aos quais muitas vezes não prestamos a devida atenção. E você discorre com muita espiritualidade bom humor. Pra mim você enquanto escritora, está incluída na máxima de Pound: " Os artistas são as antenas da raça ".

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 MARIA MARTA RODRIGUES – PATOS DE MINAS - MG

Oi Jô, bom dia!! Que artigo fabuloso!! Você retratou, com uma elegância ímpar, o culto machista. Eu nunca havia pensado em um Cristo assexuado!!! Você tem toda razão. Mesmo sendo Cristo um ser humano, Ele retrata a imagem de Deus e Esse, transcende a aparência masculina ou feminina. Outro estereótipo que sempre caracterizou a Igreja Católica, é a cor de pele: branca!! Adorei o artigo. Me fez questionar coisas com as quais eu nunca havia me preocupado. Simplesmente aceitava como dogma!!! Parabéns!!

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 JOSÉ ROBERTO SANTOS NEVES – VILA VELHA - ES

Bom dia, Jô! Obrigado por compartilhar esta bela e precisa crônica! Parabéns pela sensibilidade e pelo olhar crítico diante das questões do nosso cotidiano! Afinal a crônica é um gênero literário que se situa no limiar entre a literatura e o jornalismo, e vc capturou essa relação entre as palavras e o tempo com rara precisão e leveza. Abraço!

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 FRANCISCO BRANT - BH - MG

Tbm acho, Jô, que uma boa charge tem um forte poder de humor, comunicação e síntese.

Aqui, em BH, temos há algum tempo o excepcional Duke, do jornal O Tempo, e que merecia ser conhecido em todo o país.

Mas essa charge inusitada que lhe inspirou a crônica traduz mesmo uma percepção aguda dos tempos de pandemia e da capacidade dela em nos surpreender, acostumados que estamos à "mesmice" que havia e que já não sabemos como será substituída.

Ela de fato nos provoca com a pergunta que você faz no final: por que não uma menina, o bebê Jesus/Deus?

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 EMANUELE NUNES – PATOS DE MINAS - MG

Esse texto é maravilhoso! 😍

A minha reação à charge foi de "nossa, como não pensei nisso antes, que incrível seria se fosse menina!" 😃

Costumo dizer que "se o mundo não fosse tão machista, não precisaria ser feminista". Realmente a mulher costuma ser sempre colocada como frágil, voltada para a família. O que é um absurdo, pois nós, mulheres, conseguimos desempenhar com maestria qualquer trabalho ao qual nos propusermos fazer. Conseguimos ser engenheiras, escritoras, médicas, advogadas, terapeutas, professoras, administradoras de empresas, juízas, excelentes motoristas e tantas outras profissões. Além de tudo isso, ainda lidamos com o nosso emocional, que pode ter o tamanho de um oceano. Não acho justo sermos tratadas como sexo frágil, pois tem que ser muito forte para lidar com tanta coisa de uma só vez.

Sobre a ceia de Natal, estou um pouco triste de não poder ter aquela ceia com a família reunida, e eu não sei se vai dar para passar o Natal com a minha mãe, mas vamos torcer ️ Espero que o seu Natal seja de muita saúde e alegria! 💕🍹🥂😃🙏🏻

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 REGINA MENEZES  -VITÓRIA - ES

Li com atenção sua publicação. Como sempre, seus textos são tão bons e o conteúdo tão claro e ao mesmo tempo profundo que me instiga e sempre me leva à reflexão.

Aprecio também a Charge e não conheço outra que retrate tão bem este nosso momento. Nesta sua citação, “relegando a mulher a um plano inferior” e nesta “Talvez seja resquício do patriarcado, iniciado há cerca de seis milênios, no qual o varão sempre tinha preponderância absoluta em todas as circunstâncias” realmente é um fato.

Infelizmente o cristianismo adotou a mesma linha de exclusão, digo eu, do diferente.

Quando eu estudava no colégio do Carmo, eu era ainda uma menina.

Vitória não era nem de longe a VITORÍSSIMA de hoje.

Imagine o quanto sofri por ser mulher e toda mulher era criada para o lar, porque minha família era de classe média (funcionário público). Eu guardava toda a inquietação e padecia pelo bullying que sofria.

Além destes preconceitos que citei, havia a discriminação do canhoto. Acho que o canhoto era discriminado por causa da seguinte passagem do evangelho:

Jesus foi crucificado entre dois ladrões, mas só o da Sua direita se arrependeu e subiu aos céus.

O da esquerda pagou no inferno.

A discriminação surge também no Credo: “... subiu aos céus e está sentado à direita do Pai...”

Novamente o lado direito sendo privilegiado em detrimento do esquerdo.

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 JOSÉ EDUARDO OLIVEIRA - PATOS DE MINAS - MG

Uma boa crônica, uma boa pergunta ao final. Mas a coisa já foi contada e escrita e recontar uma mentira com outra mentira para quê? Entretanto daqui para frente só Deus - se é que ele há - sabe o que pode acontecer, porque pelo visto, muito em breve, não haverá mais nem menino e nem menina. Só alguma cousa sem gênero.

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 ÍTALO CAMPOS  - VITÓRIA - ES

Belíssima reflexão e desgaste histórico, passando pela análise do cômico, do riso, do chiste (ver Freud sobre este assunto).

A questão feminista, não disse feminina, disse feminista é evidente no texto e vale ser pensada.

Houve o tempo do matriarcado, foi um momento civilizatório ultrapassado pelo patriarcado agora questionado, atacado. O que virá no futuro e que constituição psíquica será daí derivada?

Muito bom, o texto

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 RENATA BONFIM – VITÓRIA - ES

Boas reflexões. Ruben Dario falou: poetas, para-raios celestes". Definitivamente o mundo não está preparado para reconhecer que a sua salvação vem da aceitação do feminino, da lanternagem uns dos outros e do cuidado... há uma menina na manjedoura, mas ninguém vê.

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 FLÁVIA MACHADO - CUIABÁ - MT

Genial! Porque não uma menina ocupando os espaços historicamente destinados aos homens.... o preconceito de gênero ainda está muito arraigado. Aqui em Cuiabá, prestadores de serviço não escutam as mulheres. Nem levam em consideração nossas sugestões, que muitas vezes são mais acertadas do que as soluções dadas por eles.

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DARCÍLIA MOYSÉS VITÓRIA ES

Perfeita, Jô, sua análise! A questão feminina emerge escancaradamente da fala do Rei Mago!! Amei!!!

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JANICE – VITÓRIA - ES

Jo Drumond, vc sempre nos surpreende para o bem! Bjs, saudades e feliz natal! ❤️

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 JOSÉ HUMBERTO FAGUNDES – Pretória – África do Sul

Dear Jô,  divina leitura! Tbem me pergunto: pq não uma menina?

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 VERA MÁRCIA-VITÓRIA - ES

Muito legal o texto, Jô!! Muito arguto!!👍👍😍😍

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 ARNALDO – VITÓRIA – ES

Bem espirituosa, Jô. Parabéns!

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 NILDETE GOMES – MANGUINHOS -  ES

Muito bom!!! Amei e divulguei, Jô! 🤩🤩🤩

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 SIMONE NUNES - LIMEIRA - SP

Esse ano está de ponta cabeça. Tudo o contrário como na charge. Só faltava isso, menina em vez de menino.😂😂😂😂

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 ELIANE REIS E SILVA- NATAL - RN

Muito bom! Te admiro muito, Jô, você escreve muito bem.👏👏👏👏Bjão querida

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 FÁTIMA TERTO  - BARRAS - PIAUÍ

De fato, o patriarcado e algo intrínseco, onde nós mulheres temos que estar sempre num patamar  abaixo, nunca igualado. Até a cor do céu é masculina. Quem disse!? Bjsss

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 SAMUEL DUARTE - VITÓRIA - ES

Jô, como sempre um belo texto: inspirado, criativo e gostoso de ler.

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 GERALDO PAIXÃO - IPATINGA - MG

Simplesmente impossível não ler até o fim.

Parabéns Jo!! Muito bom!

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 NEUSA JORDEM - VITÓRIA - ES

Jô, maravilhosa Crônica!!! Por que não uma menina???💖

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 MARIA DO SOCORRO  REIS- TERESINA - PIAUÍ

Muito bom texto, como sempre bem escrito. E porque não uma menina ? A mulher é mais sábia........kkkkk. Feliz Natal minha grande amiga! Bjs

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 MARINEZ SILVA – PATROCÍNIO -  MG

Adorei! Realmente, a igreja católica é muito machista

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 FARIA - BRASÍLIA - DF

Olá Jô, bom dia.!!

Excelente texto..!!

Grande abraço e vamos nos cuidando e vivendo em paz, com alegria.!!

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 LUÍS ANDRÉ NEPOMUCENO - PATOS DE MINAS - MG

Muito bom, Jô. A começar pela charge e finalizando com o texto. Os chargistas são mesmo geniais. Sim: por que não uma menina? Gostei da reflexão! 😊

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 MARIA INÊS CAIXETA BELO HORIZONTE MG

E porque não uma menina?

Muito bom!

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 DULCE  - PATOS DE MINAS -  MG

Vc e demais . Tem inspiração para elaborar textos lindos. Continue assim a cada dia dando alegria aos leitores. Faça um livro com tantos textos que vc já fez . Vai arrasar

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 SARA HANNEBURGH - NEW YORK - NY

Muito bom, Jô! Porque não, mesmo? Adorei. Obrigada.

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 AILSE CYPRESTE Vitória - ES

Adorei o texto e a charge. Ainda não li o outro. Bjs.

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 REGGIANI PIMENTEL - BRASÍLIA - ES

Boa noite! Como sempre maravilhoso 👏👏👏👏😘💓

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 GRAÇA LOBINO

Bom dia. Se me permite chamá-la de professora. Perfeito. Magnífica interpretação da inteligente charge. Irei compartilhar com meus pares e educandos. É possível que alguns a usem como ponto de partida para trabalhar diferentes temáticas contemporâneas. Bjs

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 MARIA JOSÉ NUNES -  PATOS DE MINAS - MG

Para uma artista das palavras, torna-se fácil escrever sobre uma charge, um espanto enorme!!!!

Uma menina!!!

Como sempre adoro ler o que escreve. Parabéns pelo dom.

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 LÍLIA  - VITÓRIA - ES

Oi Jô você sempre me surpreende e me provoca com suas escritas. Kkkkk . Estou a repensar sobre o assunto.

🙏🤗 😘

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 JOCSà - PATOS DE MINAS -  MG

Oi tia Jô, agora deu certo de abrir o link. Minha internet está muito lenta. Realmente o texto é muito lindo. Amei. Lindas palavras. Muito obrigada tia Jô. Te amo muito. Saudades. Beijos.

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 VÍVIAM MACHADO - BELO HORIZONTE - MG

Muito bom texto. Obrigada por compartilhar.

Depois Que me tornei virei mãe ficou ainda mais claro o estigma da mulher de cuidar da casa e dos filhos na sociedade.

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 KATIA BOBBIO – VITÓRIA - ES

 Como sempre, seus escritos são de muita sensibilidade. Li e reli diversos deles. “O fruto proibido”, “Súplica esculpida”, “O Clamor do Amor” e “Natal” 2020. Parabéns!!!!!

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 NILSE NUNES - PATOS DE MINAS -  MG

Jô, perfeito, seu texto.

É este meu pensamento, mas, jamais conseguiria me expressar como você. Parabéns

Saudades.

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 NONA ROSTAGNO – VITÓRIA - ES

Como sempre, escrito com maestria como v sempre faz e se supera. Quanto a sexualidade, difícil discutir: menino ou menina; hoje temos nem menino, nem menina. O que mais veremos?

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 MARILDA DIAS  - PATOS DE MINAS - MG

Muito interessante. Gostei.

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 MATTEDI - VITÓRIA - ES

Seu texto traz fina ironia e é provocador. Reúne humor a partir da charge, sendo em seguida questionador. E pq não? Parabéns!

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 MARIA INEZ NASCIMENTO -  LAGOA SANTA - MG

Jô, gostei muito do seu texto, uma mistura bem humorada de religião, história e cultura. Fiquei só imaginando se Jesus fosse mulher, naquele contexto, não teria chegado ao calvário, mal sairia da estrebaria, você não acha?

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 ELIZAIDA -RIO DE JANEIRO - RJ

Você como sempre muito criativa. Adorei. Parabéns.

Bjnhos

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 NILDETE GOMES – MANGUINHOS - ES

Muito bom!!! Amei e divulguei Jô! 🤩🤩🤩

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 MÁRCIA - UBERABA - MG

Realmente: por que não uma menina?

Adorei seu texto ! 👏👏👏

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 JAÇANAN – VITÓRIA - ES

Sempre é um prazer ler tudo que você escreve! Ao ver essa charge, você pensa nesse texto tão interessante. Um abraço.🎄

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 GILSON TEIXEIRA – UBERABA- MG

Incrível como conseguiu juntar tudo o que se poderia dizer sobre. 

Parabéns. 👏👏👏👏👏👏

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FERNANDA HOTT – VITÓRIA - ES

Nossa, Jô! Perfeito. Confesso que não tinha visto a charge. O texto acompanha o que eu penso. Outro dia ouvi uma discussão sobre a energia da criação ser feminina. Faz todo o sentido.