sábado, 11 de maio de 2013

A FORÇA DO INSTINTO MATERNO



*Jô Drumond
Outro dia, amigos meus, sitiantes na Mata Atlântica, depararam com uma cena inusitada, ao flanarem pelas trilhas sombreadas de uma reserva ecológica. No cimo de uma árvore alta e de pouca copa, um animal escuro, de pequeno porte, pulava nervosamente de galho em galho. Uma grossa serpente, nas grimpas da árvore, deslizava suavemente, em sua direção. Não era possível identificar o tipo de serpente, nem o tipo de animal, devido à distância. Supunha-se um esquilo, um gambá, um mico.... O fato é que o corajoso bichinho, em momento algum, cogitava em fugir, diante do iminente perigo. 

Como era bem mais ágil que o réptil, poderia se safar com facilidade, saltar para outros galhos, para outras árvores. Mas, não o fez. Manteve-se inquieto, como se estivesse encurralado, de olhos fixos na aproximação daquela que avançava serenamente, segura do êxito de sua caçada. Os voyeurs, estáticos, já aguardavam o bote certeiro, quanto algo inesperado aconteceu. O pequeno animal atacou a serpente e com ela se atracou ferozmente. Ambos caíram das alturas. Num piscar de olhos, o animalzinho subiu pelo tronco e voltou a manter a guarda de seu espaço.

Sua bravura relacionava-se certamente à sobrevivência de indefesos filhotes. Uma morada nas alturas seria a única explicação plausível para tamanha audácia.
A serpente, aturdida com a petulância da pretensa presa, e certamente envergonhada por ter literalmente caído do galho, partiu resvalando entre folhagens, em busca de caça menos traiçoeira.
Esse incidente, presenciado por amigos meus, remeteu-me a uma reportagem televisiva, levada ao ar recentemente.
Uma emissora de TV apresentou fatos da vida real, em situações de alto risco, que demonstram o altruísmo e a força física quase sobrenatural de mães, no afã de salvar seus rebentos.

Uma delas, sem saber nadar, lutou bravamente contra a correnteza de um rio, num acidente automobilístico. Poucos momentos antes, ela havia quebrado o pára-brisa do carro com o próprio punho, e tirado os filhos do veículo, já em vias de afundamento.
Durante um incêndio, uma franzina senhora, apesar da frágil compleição, conseguiu arrancar uma grade de ferro chumbada à parede. Ao ser entrevistada, rodeada pelos filhos, mostrou, toda garbosa, a grade arrancada e os buracos do arrombamento nos quadrantes da janela.
Outra imagem mostrou uma mãe que tinha se jogado contra um rolo compressor, para evitar o esmagamento de seu filho.

De outra feita, ouvi num noticiário, que, imbuída de uma força descomunal, uma mãe fora capaz de suspender um carro cuja roda esmagava seu filhinho.
Outra cena inusitada foi amplamente veiculada pela mídia, há algum tempo. Num zoológico dos Estados Unidos, um garoto caiu no fosso que envolvia o espaço destinado aos gorilas. Um gorila-mãe, imbuída de instinto materno, mais que depressa pegou nos braços a criança desmaiada, para evitar que ela fosse morta por seus colegas. Conduziu-a até o local onde o tratador colocava os alimentos, colocou-a delicadamente no solo, e ficou de guarda até que a criança fosse resgatada.

Dizem que o instinto mais forte nos viventes, é o da própria sobrevivência. Entretanto, esses e muitos outros casos registrados na mídia e na memória popular, levam-nos a crer que o instinto materno é mais forte que o da autopreservação. Incidentes, nos quais a vida do filho se torna mais importante que a própria, já foram presenciados inúmeras vezes em momentos cruciais de tragédias, as mais diversas.

O pai, tanto quanto a mãe, é capaz de ações mirabolantes, para salvar um filho. Não se pode, de modo algum, subestimar a pujança do amor paterno.
No entanto, o fato de conceber, gerar e dar a luz desenvolve na genitora um vínculo não apenas de sangue. Trata-se de uma experiência restrita apenas às mulheres, ou melhor, às fêmeas, que tiveram o privilégio da maternidade. São detentoras de uma força biológica que atua de modo inconsciente, de um impulso espontâneo, alheio à razão, independente de qualquer tipo de aprendizado.

Deve ter sido esse instinto que, no seio da Mata Atlântica, fez com que a corajosa fêmea resguardasse sua cria.

*Jô Drumond é membro da:
AEL (Academia Espírito-santense de Letras)
AFESL (Academia Feminina Espírito-santense de Letras)
AFEMIL (Academia Feminina Mineira de Letras)
IHGES (Instituto Histórico e Geográfico do ES)