terça-feira, 5 de março de 2013

O PRAZER DA LEITURA


*Jô Drumond
Há quem culpe a Internet pela evasão dos leitores, mas é provável que se leia mais, hoje em dia, no mundo virtual, mesmo que seja em “internetês”, pois a língua escrita é largamente usada nesse tipo de comunicação.
Na Europa, é usual que cada cidadão tenha sempre em mãos um livro, uma revista, um jornal ou algo similar, nas mais diversas circunstâncias do cotidiano, seja em transportes coletivos, salas de espera, cafeterias ou  praças públicas. O fato é que cada um carrega consigo algo escrito para momentos ociosos.
 Recentemente, cenas inusitadas, envolvendo leitores, atraíram minha atenção. No desembarque, em Munique, o operador da ponte móvel, após o término de sua tarefa, abriu um livro e pôs-se a ler, atentamente, de pé, indiferente ao fluxo dos passageiros. Era como se o entorno não existisse para ele.
Em Paris, presenciei uma cena curiosa, ao flanar sob os arcos da rua Rivoli. Um mendigo, deitado placidamente no passeio público, indiferente aos passantes, parecia usufruir da leitura de um bom  livro. Seu boné fora colocado displicentemente ao lado, para eventuais óbolos. Todavia, as misérias da vida não lhe diziam respeito. Absorto no tempo e no espaço, parecia não se dar conta do constante tilintar de moedas. Seu estratagema era duplamente eficaz: primeiramente porque, sendo ou não leitor voraz, a encenação poderia render bons proventos, considerando que os amantes da leitura (que são muitos na Europa) não deixariam de dar um adjutório àquele infortunado com quem aparentemente teriam alguma afinidade.
Em segundo lugar, porque para o esmoler, talvez seja mais cômodo fazer uma boa ação livre do constrangimento da abordagem “face à face”. Percebe-se que os passantes quase sempre evitam o olhar dos desvalidos. Não se sabe se por comiseração, por pressa, por desprazer... talvez pela incoerente fusão de sentimentos difusos, ou até mesmo pela sensação de impotência diante das dores do mundo. De qualquer forma, aquele pedinte (que não pedia) se fazia merecedor de ajuda, tanto pelo provável gosto da leitura quanto pela perspicácia da mendicância.
Citando Fernando Pessoa, “o mito é o nada que é tudo”.  Realmente, a ficção, muitas vezes, pode ser mais verossímil que a realidade. Embrenhando-se nas aventuras de um bom livro, o leitor escapa da faina do cotidiano e do tempo cronológico. Ao entrar no tempo mítico, pode vislumbrar novos horizontes, conhecer novos mundos, viver outras vidas... enfim, driblar as agruras, as tristezas e os desamores que porventura surjam no dia-a-dia.

*Jô Drumond é  membro da: 

AEL (Academia Espírito-santense de Letras).
AFESL (Academia Feminina Espírito-santense de Letras)
AFEMIL (Academia Feminina Mineira de Letras)
IHGES (Instituto Histórico e Geográfico do ES).

sexta-feira, 1 de março de 2013

Jô lança mais dois livros em vitória, ES

Jô Drumond é escritora, Membro da Academia 
Feminina Mineira de Letras, Membro da Academia 
Feminina Espírito-santense de Letras e "Membro
 do Instituto Histórico e Geográfico do ES".

Você que acessou o blog agora poderá ler a síntese dos livros a serem lançados pela Jô Drumond no próximo dia 13, em Vitória, ES.
TRANCELIM (Contos e crônicas)
Trancelim é dividido em três partes de dez textos cada, a saber: “Minudências da vida”, com contos variados, focalizando tanto a vida rural quanto a urbana; “Minudências de viagem”, contendo flashes culturais de diferentes nações; “Minudências do cotidiano”, com cenas do dia-a-dia.
O livro se abre com um denso conto, “Simplesmente Maria”, que obteve o 1º lugar num concurso interno da Academia Feminina Mineira de Letras; a segunda parte se descortina com uma incursão pelos meândricos igapós e igarapés, na Amazônia inundada; a terceira se inicia com uma flânerie poética pela praia de Camburi, alternando mergulhos do olhar na imensidão azul, e registro das belezas locais, no fervilhante cenário capixaba. O livro se fecha com uma leve crônica de relembramentos de infância. Tais minudências correspondem a retratos da vida tirados aqui, ali e acolá, tendo como pano de fundo os mais diversos cenários, e como temática um colorido leque de acontecências.
AS TRILHAS DA DERRISÃO (ensaio literário)
Este livro é o resultado de uma pesquisa dos mecanismos do Riso em obras de Molière, o maior comediógrafo francês de todos os tempos, e de Martins Pena, o fundador da comédia nacional, considerado por alguns “o Molière brasileiro”. Inicia-se com uma visão panorâmica do Riso através dos séculos, e da Comédia desde seus primórdios. Em seguida, faz-se o levantamento dos aspectos consuetudinários e da sátira social no conjunto da obra de ambos os autores. Num segundo momento, faz-se uma abordagem comparativa dos aspectos estruturais e da proposta musical em O burguês Fidalgo, de Molière, e O Diletante, de Martins Pena, tendo como suporte teórico a teoria Bergsoniana do Riso no que se refere ao risível dos caracteres, das situações e das palavras em ambas as peças.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

"ATENÇÃO! VOCÊ ESTÁ SENDO FILMADO"

Na época da repressão política, exasperado com tantas proibições, o compositor baiano Caetano Veloso apresentou a canção “É proibido proibir”, no III Festival Internacional da Canção, em São Paulo, acompanhado pela banda musical Os Mutantes.
Nesse festival anual, aconteciam as mais inusitadas reações tanto por parte da plateia quanto dos concorrentes. Em 1968, aos primeiros acordes da música de Caetano, em meio a vaias, a plateia começou a atirar ovos, tomates e objetos em direção ao palco, em acintoso desrespeito. Caetano, sem deixar por menos, fez uma entrada provocativa, com um meneio erótico de quadris, ostentando uma indumentária brilhante e muito exótica para a época. A plateia, indignada, deu as costas para o palco. Por sua vez, Os Mutantes, deram as costas para o público, sem parar de tocar.
Minha geração, a mesma de Caetano, passou a juventude sob o signo da interdição, no período ditatorial. Ao entrar num coletivo, lia-se: “É proibido falar com o motorista”; “É proibido assentar-se sobre o capô do motor”; “É proibido atravancar a porta”; “É proibido fumar”; “É proibido transportar animais”; É proibido saltar a roleta” ... e outras tantas proibições. Ao visitar um zoológico, viam-se por toda parte tabuletas proibitórias: “É proibido pisar na grama”; “É proibido dar comida aos animais”; “É proibido inclinar-se no fosso dos animais”, “É proibido jogar papel no chão”... e mais uma infinidade de interdições.
Com o passar do tempo, tais dizeres tornaram-se menos acintosos. A utilização de eufemismos foi suavizando ou minimizando o peso das palavras. O repressivo “é proibido fumar”, e o imperativo “não fume”, deram lugar a uma solicitação: “pede-se a gentileza de não fumar”; a um agradecimento: “obrigado por não fumar”, ou a uma simples advertência: “o tabaco é prejudicial à saúde”.
Nos atuais tempos de democracia, nossa liberdade se ampliou, mas surgiram outras restrições oriundas do aumento da violência. Para disfarçar a ultrajante falta de privacidade do cidadão, constantemente sob vigilância eletrônica, lê-se por toda parte: “Sorria, você está sendo filmado”. É lamentável, porém necessário, que se perca a liberdade, em nome da segurança pública. Certo dia, fui visitar um museu temporário instalado no parque do Ibirapuera, em São Paulo, no qual se expunham renomadas obras oriundas do museu do Louvre, de Paris. O local estava cercado de grande aparato de segurança, devido ao alto valor das obras. Ao final da visita, resolvi passar pelo toalete, antes de enfrentar o trânsito paulistano. Um painel luminoso, dentro do banheiro, anunciava o cúmulo da falta de privacidade: “você está sendo filmado em todos os ambientes”. Dei meia volta e saí indignada.


Jô Drumond 
Escritora, Membro da Academia Feminina Mineira de Letras, 
Membro da Academia Feminina Espírito-santense de Letras 
e "Membro do Instituto Histórico e Geográfico do ES".