segunda-feira, 14 de setembro de 2020

O FRUTO PROIBIDO

 


Há poucos dias, soube de uma história um tanto inverossímil, em que a pessoa envolvida passou a acreditar piamente no acontecido, após uma coincidência aleatória. Há mais de meio século, certa mãe, tendo uma criança enferma, já desenganada pelos médicos, apegou-se ao poder curativo da maçã. Disseram-lhe que essa fruta milagrosa curaria seu filho. Como ele teve uma cura inexplicada, o mito se transformou em verdade para ela. Essa história remeteu-me à infância. Lembro-me de que, quando criança, não se cultivava maçã no Brasil. Era uma fruta rara e cara, mas era de praxe levar maçã na visita a um enfermo no hospital. Por que maçã? Por que não laranja? Eu não conseguia entender. Ninguém da família sabia me explicar a razão da escolha. Tal fruta, importada, era por demais onerosa para o cardápio de famílias numerosas como a minha. Eu tinha vontade de ficar doente, de ir para o hospital, só para comer maçãs.

Não há dúvidas quanto às qualidades nutricionais1 dessa fruta. Bastam alguns cliques e o internauta terá, diante de si, um enorme leque de seus poderes curativos. O ditado inglês “uma única maçã por dia mantém o médico longe” tem respaldo científico. Pesquisas comprovam que seu consumo diário reduz o risco de diversas doenças.

Surge então uma pergunta que não quer calar: se a maçã é uma fruta tão benéfica, tão salutar, por que foi escolhida como fruto proibido, na mitologia religiosa? A tradição popular a considera fruto do pecado, embora não haja especificação do tipo do fruto da Árvore do conhecimento no Livro do Gênesis. De qualquer forma não poderia ter sido maçã, pois tal fruta inexistia na época da criação do mundo. Ela surgiu bem depois de Adão e Eva, no Cazaquistão e na Turquia. Seus frutos foram melhorados com técnicas de cultivo ao longo dos tempos. A mitologia diz que o diabo, em forma de serpente, induziu Adão e Eva a comerem do único fruto proibido. Por isso foram expulsos do paraíso. Os humoristas de plantão dizem que um pedaço de maçã ficou entalado na garganta de Adão. Por isso os homens têm uma proeminência laríngea, logo abaixo da garganta, o popular gogó, que se chama “pomo de Adão”.

O interessante é que a maçã pode simbolizar, por um lado, o mal, o pecado, a escolha errada, e, por outro lado, a escolha certa, a liberdade, a sabedoria. Ao ingerir o fruto da árvore proibida, Adão e Eva perderam as facilidades do paraíso, mas ganharam a busca do conhecimento do bem e do mal. Perderam o farto e gratuito cardápio edênico e, como castigo, tiveram que trabalhar para ganhar “o pão cotidiano”. Donde se conclui que o trabalho não é uma oração, como se ensina no catecismo: é um castigo. Conclui-se também que a serpente não prestou nenhum desserviço à humanidade. Pelo contrário, abriu-lhe os horizontes do conhecimento.

Eu sempre me perguntei por que o imaginário humano teria configurado a maçã como fruta do mal? Encontrei duas explicações plausíveis: segundo pesquisadores, os tradutores da Bíblia podem ter optado por “pomum”  (no francês pomme = maçã) talvez por influência das línguas modernas, mas poderiam ter  traduzido por pera, figo ou qualquer fruta com formato semelhante ao da maçã. Uma outra versão, teria advindo também de um problema de tradução: um quiproquó entre as palavras malus - do latim  (mal)  e malum - do grego antigo (maçã). Nunca saberemos ao certo, mas mito que se preze prescinde de comprovação.

Além de vasta simbologia,2 há diversas curiosidades a respeito dessa fruta. Vejamos algumas delas: consta, embora sem comprovação, que Newton, sentado sob uma macieira, descobriu a lei da gravidade, quando uma das maçãs lhe caiu sobre a cabeça.

Dizem que a mordida da maçã foi acrescentada no design da marca Apple para que  não fosse confundida com uma cereja. Dizem também que o nome Macintosh é inspirado no tipo de maçã McIntosk Red, variedade comum nos Estados Unidos.

A banda The Beatles escolheu a maçã como o ícone de seu selo discográfico. Muitos anos depois, um relançamento da discografia da banda foi colocado em um pen drive em forma de maçã.

Na mitologia, Hércules colhe três maçãs de ouro na Árvore da Vida, no jardim das Hespérides, após ter matado o dragão de cem cabeças que o guardava.

Na história de Robin Hood, uma pequena maçã é colocada sobre a cabeça de um amigo fiel de Robin. Com os olhos vendados, o arqueiro a divide ao meio com uma flechada.

Na obra do pintor Magritte, intitulada “O Filho do Homem”, considerada uma das obras mais importantes do surrealismo, o elemento principal é a maçã, posta na frente do rosto de um homem pintado em óleo sobre tela.

Na Literatura infantil, ela surge como fruto enfeitiçado pela bruxa, que faz com que Branca de Neve adormeça até ser despertada pelo beijo de um príncipe.

Há um romance de meu conterrâneo e contemporâneo, José Roberto Amorim,  intitulado “O vermelho da maçã”. No prólogo ele diz o seguinte: “O prazer é vermelho [... como a maçã...] mas ao cortá-lo em partes, descobrimos que, ao contrário da fruta de Adão e Eva, as metades são diferentes: uma metade é o amor e a outra é o desejo.”

Na contemporaneidade, surgiu também um livro intitulado “Minha pátria era um caroço de maçã” da romena Herta Müller, prêmio Nobel de Literatura (2009). Título deveras estranho, considerando que a autora aborda a destruição de vidas e de sonhos pela ditadura comunista romena. Ela registra lembranças dos sucessivos interrogatórios a que foi submetida, dos desaparecimentos de estudantes, dos suicídios forjados dos opositores ao regime... enfim, o caroço da maçã simbolizaria algo nefasto. Isso aguçou minha curiosidade. Por que teria ela usado, com conotação negativa, o caroço de uma fruta tão saudável e tão apreciada? Soube que as sementes dessa fruta devem ser descartadas, pois contêm cianeto e podem causar mal-estar e, em casos mais raros, até a morte por envenenamento. Em pequena quantidade não causa problema aos humanos, mas pode matar pássaros. Talvez isso explique o motivo (que desconheço) da escolha do insólito título da obra.

Como vimos, a maçã tem, em si, o dom de vida e morte, assim como a mandioca, alimento bem popular no Brasil. Apesar de ser mansa e saudável, pode se transformar em mandioca brava e matar. O fato é que o bem e o mal coexistem pacificamente (ou não), em tudo e em todos.

“Somos a vida e a morte. O tudo e também o nada [..] Maldosos ou bondosos - no tempo exato [...] O ponto de encontro está em cada um de nós. Encontrar-se é o desafio.” (Santo Agostinho)

PÉ DE PÁGINA

Qualidades nutricionais:1 Sabe-se que a maçã regula os níveis de colesterol, previne problemas cardíacos, intestinais, obesidade, reumatismo, gota, diabetes, arteriosclerose, enfermidades da pele, do sistema nervoso e possui muitos outros poderes curativos. É provado cientificamente que seu consumo reduz o risco do câncer de cólon, de próstata e de pulmão. Pouca gente sabe que a casca também deve ser ingerida, pelo fato de conter vitamina C, cálcio, fósforo, potássio, além de fibras e de ser poderoso antioxidante.

Simbologia:² A maçã simboliza a vida, o amor, a imortalidade, a fecundidade, a juventude, a sedução, a liberdade, a magia, a paz, o conhecimento, o desejo, a amizade. Seu formato esférico representa o símbolo do mundo. Para os celtas, a maçã é um símbolo da magia, da ciência, da revelação, do além e da espiritualidade. Para os gregos, a maçã representa o símbolo do amor (associada à Afrodite, deusa do amor, da beleza e da sexualidade).

domingo, 16 de agosto de 2020

Na crônica postada anteriormente, “Da palmatória à redenção”, aborda-se a violência dos professores contra alunos, em tempos idos. Nos tempos atuais, houve uma reviravolta. Antes do início da pandemia, ou seja, antes do advento das aulas virtuais, vez ou outra viam-se na mídia, notícias de violência de alunos contra professores, chegando ao extremo de homicídio em sala de aula. Isso me remeteu ao final da década de 1960, época em que assumi a regência de classe em uma escola pública.

Não guardo boas lembranças de minha fracassada entrada para o mercado de trabalho. Aos 18 anos, recebi o diploma de Normalista pela Escola Normal de Patos de Minas, após três anos de estudos com intensa preparação didática, metodológica, psicológica e com estágios pedagógicos, sob a severa orientação de Dona Filomena de Macedo Mello. As normalistas atuavam nas quatro séries iniciantes do Ensino Fundamental, chamadas, na época, de Curso Primário. Logo após minha formatura, mudei-me Belo Horizonte. Em 1969, cheia de idealismo e entusiasmo, assumi a regência de classe em uma escola pública, na periferia da capital mineira. Morava no Alto Sion, no extremo oposto do local de trabalho. Fazia um trajeto de 30 a 40 minutos até o centro da cidade, de lotação, atravessava o centro a pé e pegava outro coletivo na Av. Paraná. Após 40 minutos de sacolejos, parava no ponto final de um bairro periférico e subia, a pé, um longo morro, ainda sem habitações, até chegar a uma casinha pequenina, transformada em escola. A casa e a aparência dos alunos indiciavam pobreza absoluta. Fui brindada com uma turma muito especial. Tão especial que estava repetindo o primeiro ano pela quinta vez e, pelo que me disseram, seriam mantidos indefinidamente na primeira série primária. Como a classe era pequena, fomos instalados no menor cômodo da casa, a antiga cozinha, sem janelas, com apenas uma báscula no alto de uma parede, sem ventilação alguma. Os alunos não tinham uniforme. Suponho que eles iam para a escola com a mesma roupa com as quais dormiam e nas quais faziam o pipi noturno. Tinham um cheiro nauseabundo. Era inútil insistir que se lavassem e se trocassem antes de se dirigir à escola.

Não havia instalações sanitárias no estabelecimento de ensino. Foi construído, no quintal, um pequeno cômodo sobre uma fossa, com piso de madeira, tendo um orifício no meio, para as necessidades fisiológicas. Esse WC se chamava “casinha”. O cheiro era insuportável. Para entrar naquele fétido cubículo, o usuário tinha que pedir licença às moscas, que infestavam o ambiente.

Todos os meus alunos tinham algum tipo de deficiência mental. Tive que jogar para o alto meu idealismo de alfabetizadora e encarar a realidade. Preparava muito material didático, visando mais o lado lúdico que o pedagógico. O objetivo não era ensinar a ler e escrever, mas passar o tempo de forma agradável e proveitosa.

As crianças não tinham noção do certo / errado. Eu tinha que ficar atenta o tempo todo. Lembro-me
que, na época, não se usava apontador. Todos levavam de casa uma lâmina velha, de barbear, que era chamada pelo nome da marca: Gilette. Com elas apontavam-se os lápis e, eventualmente, agrediam os colegas. No primeiro mês de aula, um menino deu um talhe no braço do que estava a seu lado. Eu o repreendi energicamente, mas sem tocá-lo. No dia seguinte, durante a aula, alguém veio me advertir que não saísse da escola porque o pai do aluno ofendido por mim estava do lado de fora, armado, à minha espera, para me matar. Disseram-me isso calmamente, como se fosse algo trivial. Do alto dos meus inexperientes dezoito aninhos, nunca havia me imaginado em uma situação dessas. Fiquei o dia todo dentro da escola, até que o fulano se afastasse temporariamente, talvez para resolver alguma necessidade básica. Naquele momento, avisaram-me para botar o pé na estrada, o quanto antes. Saí receosa, olhando para os lados, certificando-me de não estar sendo seguida. Desci a ladeira quase voando com a firme intenção de jamais botar os pés naquele lugar. Desisti então do ensino de alfabetização e entrei para a faculdade.

Após o término da graduação em Letras, minha primeira experiência como professora não foi tampouco auspiciosa. Dava aulas em um grande colégio noturno, em um bairro afastado de Belo Horizonte. As instalações eram ótimas, mas o material humano deixava a desejar. No final do primeiro semestre, o diretor me chamou a seu gabinete para me solicitar algo incorreto. Queria que eu melhorasse as notas de um rapaz, para que ele não se submetesse às provas finais. Tal aluno pretendia se mudar para a Bahia antes do final do ano e queria ser aprovado sem provas. Como não se tratava de um bom estudante, recusei prontamente o pedido do diretor. Disse-lhe que daria as notas merecidas. Caberia a ele, como diretor, alterá-las, se fizesse questão de ajudar o aluno. Ele não ousou fazer isso. No dia seguinte, ao sair da sala de aula, durante um intervalo, alguns adolescentes me cercaram, dizendo que iam fazer minha proteção. Disse-lhes que não precisava de proteção alguma. Advertiram-me que aquele que queria ser aprovando indevidamente andava espalhando, no colégio, que ia me brindar com uma sessão de porradas para que eu deixasse de ser inflexível. Fiquei encabulada com aquilo, sobretudo porque minha posição era muito vulnerável. Saía do colégio a pé, cerca de onze horas da noite, sozinha, para me dirigir a um ponto de ônibus. Era presa fácil. Naquela noite, durante um dos intervalos, ao me aproximar da cantina, dei de cara com o grandão que estava me ameaçando. Num ímpeto de “cara de pau”, fingindo coragem (porque estava escoltada) parei diante dele, olhei para cima (ele era bem mais alto) e lhe perguntei. É você que quer me espancar? Pode começar. O rapaz ficou branco e pasmo, sem saber o que fazer, nem o que dizer. Não disse nada. Ficou desarmado, com minha ousadia. Qualquer coisa que acontecesse comigo, a partir de então, seria o suspeito número um. Temerosa, continuei meu trabalho até o final do semestre e encerrei minha carreira como professora de ensino fundamental e médio.

Depois disso, como monitora do Mestrado em Letras, fui convidada a dar aulas na Universidade Federal do Espírito Santo. Ofereceram-me uma turma de Literatura francesa, outra de língua francesa e uma terceira de produção escrita em Língua portuguesa. As turmas, a meu ver, eram numerosas (cerca de 30 alunos). Eu estava habituada a dar aulas Alliance Française Internationale, desde a década de 70, onde as turmas eram diminutas (de 6 a 12 alunos). Na Aliança, conhecia muito bem cada aluno e suas específicas dificuldades. Na Universidade, diferentemente de alguns professores, eu conhecia todos os alunos pelo nome, pela força do hábito. Minhas aulas eram sempre interativas. Para mim, seria impossível trabalhar sem conhecer cada aluno. Pois bem. No final do terceiro mês do semestre letivo, que durava apenas 4 meses (de março a junho), apareceu em sala uma moça muito bem apessoada e cheia de poses, dizendo-me.

- Professora, sou “fulana de tal”. Quero saber quantas faltas eu tenho.

- Você tem todas - Respondi-lhe.

- Como assim? Eu sempre estou por aqui.

- Pode ser, mas não em minha sala de aula. É a primeira vez que a vejo. Certamente já perdeu por frequência.

- Mas que absurdo! Não vou aceitar uma coisa dessas! Se estiver pensando que vai me reprovar, está muito enganada.

Saiu esbravejando, gesticulando, e permaneceu algum tempo no corredor tentando fazer um levante contra a professora, em vão. Ninguém a apoiou.

Como disse na crônica anterior, na era digital, os alunos não são mais ingênuos, medrosos e respeitosos como os de antigamente. Eles dispõem de uma carga muito grande de informações. Por conseguinte, são mais inquiridores, até mesmo desafiadores. É louvável que tenham perdido o antigo medo dos professores, mas de roldão perderam também o respeito.

Nos dias de hoje, tem havido inúmeros casos de agressão de alunos contra mestres. Há quem diga que desde que o mundo é mundo, a violência impera no reino animal, ao qual pertencemos. Maldade e bondade são inerentes ao ser humano. Segundo o humorista Millôr Fernandes, na época de Caim e Abel era pior. Um matou o outro. Portanto, havia 50% de violência.


COMENTÁRIOS DOS LEITORES


DENISE -ES
Infelizmente houve uma inversão de valores nas últimas décadas.  O desrespeito ao professor, que antes tinha autoridade e era respeitado na sala de aula.
Os bons princípios vêm de casa.  Professores ensinam e pais educam.
Os alunos que revolucionaram e se rebelaram na década de 70,  hoje são pais e avós desses desordeiros.
Se os pais e professores se dessem as mãos,  a educação não estaria deteriorada e,  priorizariam  a educação, ora sem qualidade, devido à tantos alunos evadidos na escola pública  e a  ordem  para aprová-los.  
Eu já lecionei e sei bem o que se passa.

O fato é que alunos chegam a Universidade  semianalfabetos.
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FRANCISCA (MG)
Parabéns, Jô! É sempre um prazer ler seus textos!
Tanto esta crônica, como a anterior, “Da Palmatória à Redenção - ...”, evidenciando problemas da educação em diferentes épocas, mostram bem sua incrível capacidade de resgatar memórias. Suas preciosas lembranças, à partir de fatos e experiências particulares, trazem à luz com naturalidade, importantes referências, refletindo valores e costumes que compõem a realidade social de cada época, deixando evidente que o alicerce é e sempre será a educação. Tanto a chamada educação de berço, quanto a educação escolar.
Francisca
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FRANCISCO BRANT – MG
Que relato inacreditável sobre o estado de nossas escolas públicas. Possivelmente, piorou o quadro nos anos mais recentes e  atualmente. Por isso, pode-se entender porque nessa pandemia muita gente não dá a menor importância ao problema e às formas de prevenção. Muitas escolas talvez não consigam ensinar os alunos nem a lavar as mãos.
Assim, no Brasil se inverte a celebre frase de Vitor Hugo, segundo a qual “cada escola que se abre é uma prisão que se fecha”. 
Aqui, infelizmente, a história que você conta sobre seus apuros em tentar ser professora, que devem prosseguir com milhares de mestras pelo país afora, a nova versão da frase do genial escritor francês  seria infelizmente esta: 
"Cada arremedo de 'escola' que se abre para os pobres  é mais uma cela que se enche nas prisões".

ADRIANA MACHADO (SP)
Jô! Inspiradora como descreve os percalços e desafios se transformarem em trampolim para sua carreira. 
Em muitos momentos da vida me vejo em sua crônica: idealista, encabulada, ousada, correta, vulnerável, diante de uma realidade nauseabunda...
Como aluna sempre amei e respeitei meus professores. Tenho boas lembranças do dia em que voltei a escola pública para entregar o convite de formatura em medicina para minha professora do primário... Agora sou mãe e tive como critério de escolha para minha filha uma escola em que o trabalho do professor é realmente valorizado. 
Sua crônica trouxe a reflexão... Seria a violência contra a criança diferente da violência contra o professor? Ou seriam faces de uma mesma violência social? Racismo? Feminicídio? Homicídio? Assédio moral? Concluo que a violência perpassa toda a trama social. 
E para nos consolar uma referência hilária: hoje a taxa de homicídio é bem menor que no tempo de Caim e Abel!!! Brilhante!
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LÔLA (ES)
Ei Jô, boa noite!
Que inicio difícil o seu, realmente ser mestre nesse país é bem complicado, é uma área totalmente insalubre em minha opinião.
A grande maioria quer um diploma, nada mais!
A violência é grande não apenas com os mestres e colegas de turma. 
Eles fazem uma violência contra o patrimônio: destroem, picham, quebram tudo.
Não têm o menor zelo.
Que mundo é esse? Os professores deveriam ganhar os melhores salários, sem eles não existiriam todas as profissões.
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PENHA - ES
Ei  Jo. Seus textos são deliciosos de ler. Você  'conduz' nossa mente abrindo assim nossa percepção para realidades muito nossas - ou pelo menos minhas - tal e qual numa linguagem simples e  espontânea. Muito bom.
Mas devo dizer q o texto Da Palmatória à  Redenção- Infância  de Ontem e Hoje , teve um quê mais literário,  ou ....não sei.... Você usou um linguajar que amei.
Ambas são muito interessantes. Sou fã de seu trabalho. 

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VALENTINA - ES

Olá Jô ... muito interessante suas lembranças da escola tanto como aluna como professora... eu tive uma experiência traumática dando aulas de inglês num curso em Jardim da Penha...ninguém merece...parabéns pelos dois contos... sensacional!!!

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LOURDINHA -  DF
Escola e familia....jogando num  mesmo  tabuleiro... De quem é  a CULPA!!!!!
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MATTEDI - ES
Mais uma vez a autora nos surpreende com uma bela e convidativa crônica, realista e pungente. Por fim, faço coro à sua visão sobre os tempos difíceis de ensino.
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SÔNIA (PIAUÍ)
Sempre foi muito complicada a situação do professor. Se avaliarmos os acontecimentos em cada época por nós vivida, chegamos à conclusão que tudo tem a ver com a família. É lá que está a razão de tudo. Os valores são de uma importância imensurável na vida do ser humano. A família passa seus valores por meio de atitudes. Basta que olhemos filhos de pessoas prepotentes, arrogantes, que identificaremos os pais. Parece ficar no sangue. Só com o tempo o mundo ensina...ou não!
Muito triste você chegar ao final de um curso com as melhores intenções, cheia de ideais e ser desestimulada por quem mais deveria aproveitar.
Tenho uma filha que tbm que desistiu, por causa de alunos, da escolha  profissional feita com muito orgulho e interesse.
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MARIA JOSÉ NUNES (MG)
Li as duas etapas, que você  passou como professora. A primeira, muito jovem, sem experiência,  foi trabalhar num ambiente muito difícil, de extrema pobreza. Depois, você se preparou para trabalhar no Ensino Fundamental, numa escola mais bem localizada. Decepcionou-se porque a criançada  não  correspondia às suas expectativas. Resumindo, no século  XX, os pais assumiam seu papel de corresponsável, dando aos professores inteira liberdade de conseguir algum interesse dos alunos. Hoje com a novas tecnologias, na falta de tempo do “corre-corre” cotidiano, os pais deixaram seu papel para que que a escola o faça. Os jovens não têm o menor respeito pelos professores. Há agressões verbais e físicas. Infelizmente, o problema se encontra no desajuste familiar. A educação deve começar em casa.
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MÔNICA - DF

Jô, essa  convivência é cruel e doentia, pois em um mundo que valoriza o mérito, os que vivem flutuando à margem da sociedade em condições inapropriadas parecem ser o problema. 
Contudo, nossa sociedade precisa de uma revolução educacional e sócio econômica para colocar ambas as partes em pé de igualdade numa relação baseada na troca e no respeito mútuo.
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REGINA -GOIÂNIA
Estava agora lendo esse último link e percebi o quanto foi difícil sua trajetória, definitivamente nada é fácil, mas a luta é constante. Te admiro ainda mais conhecendo melhor sua história que com muita luta te fez vencedora. Estou sempre te acompanhando. Gosto muito de suas histórias.
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VALENTINA  - ES

Olá Jo ... muito interessante suas lembranças da escola tanto como aluna como professora... eu tive-a experiência traumática dando aulas de inglês num curso...ninguém merece...parabéns pelos dois contos... sensacional!!!


sábado, 15 de agosto de 2020

ATÉ QUANDO ?


Em agosto de 2020, o gráfico do luto registra mais de cem mil mortes no Brasil, pelo vírus corona. Durante a pandemia, o bordão mais repetido, a título de consolação, é: “TUDO PASSA.” A questão repetida incessantemente dentro de cada um de nós é: “ATÉ QUANDO?” Estaremos vivos para presenciar a euforia do período pós-pandêmico? O medo, a insegurança, a falta de perspectiva, a prisão domiciliar compulsória e o distanciamento social não ajudam em nada a melhoria dos ânimos, sobretudo nas pessoas com tendências depressivas, que mais sofrem nessa situação. Felizmente a “santa internet” afugenta, de certa forma, a ameaça da solidão. Podemos contatar parentes e amigos nos quatro cantos do mundo. Todavia não podemos sentir seu calor nem seu cheiro no aconchego de um abraço. Menos mal.

Nestes tempos pandêmicos, optei pelo confinamento no Viveiro do Silêncio, condomínio rural onde plantei minha “Charneca”, há quase duas décadas. Trata-se de um silente recanto da Mata Atlântica, nas montanhas capixabas, onde só se ouvem as vozes da natureza. Água límpida e cristalina (de nascente própria), poluição zero, clima de montanha, sossego absoluto, conforto citadino, incluindo conexão digital.

Nas caminhadas matutinas mata adentro, pode-se cruzar com tatus, gambás, jaguatiricas, veados, bichos-preguiça, serpentes, preás... toda sorte de animais típicos dessa Mata. Diferentemente de nós, eles existem por existir, sem angústias existenciais, sem questionamentos metafísicos nem ontológicos, em sintonia com o meio ambiente, mas eles também são vítimas de epidemias. Os macacos, aqui encontrados em grande quantidade dois anos atrás, antes da nova epidemia da febre amarela, praticamente desapareceram. Sobraram parcos remanescentes para perpetuar a espécie. Os pequenos macacos-prego estão começando a voltar, em bandos, mas continuam desaparecidos os grandes macacos-bugios, que sempre nos visitavam para apanhar frutas no pomar e para afanar quaisquer comestíveis que encontrassem do lado de fora da casa. Sinto falta dos meus audaciosos larápios de estimação.

Esse refúgio serrano, longe do  corona vírus e dos riscos de contágio, seria um paraíso tropical se não fosse compulsório. A permanência indefinida, sem previsão de retorno, é entediante. Um lugar como esse, propício ao descanso da faina cotidiana e salutar para feriados prolongados, torna-se fastidioso, nesse caso. A privação da liberdade é dolorosa em quaisquer circunstâncias.

Cada visitante oriundo da cidade é motivo de alegria, para uma boa prosa e, ao mesmo tempo, é motivo de apreensão: será mais um contaminado assintomático? Estes, sim, representam real perigo. Até mesmo uma criancinha pode repassar o vírus para os pais, avós, bisavós e dizimar as gerações imediatamente anteriores à sua, mais vulneráveis à covid 19. O perigo a todos ronda, o tempo todo.

Concordo que é mais agradável viver tendo uma espessa mata verdejante que tendo espigões no entorno. No entanto quem desfruta do sossego da floresta, sendo habituado à vida urbana, sente falta justamente do que abomina no dia a dia metropolitano: barulhos, ronco de motores de automóveis, aviões cruzando os céus, filas, festas, aglomerações, burburinhos... e pode sentir falta até mesmo  do detestável pó de minério oriundo das chaminés das duas grandes usinas siderúrgicas da capital capixaba.

Até quando permaneceremos sem poder circular livremente, sem viajar, sem rever amigos e sem abraçar os familiares?  Continuamos de luto, na luta. Temos que nos adaptar e preencher de alguma forma coerente e equilibrada o “hiato” que estamos vivenciando. Na visão de Santo Agostinho,

Somos viajantes do tempo [...] Somos o próprio reflexo que vemos no espelho e além dele. Somos a vida e a morte. O tudo e também o nada. Somos idealizadores. Sonhadores. Propagadores. Feitos de inocência num mundo de regras. Maldosos ou bondosos - no tempo exato...  Ora oferecemos riscos, ora somos a mais perfeita das ternuras. O ponto de encontro está em cada um de nós. Encontrar-se é o desafio.”

Destarte, entre o ponto de partida e o de chegada, entre o início e o fim da pandemia, entre a vida e a morte, tudo passa... Durante essa passagem, é mister que cada um encontre seu ponto de equilíbrio. Como dizem os franceses,  “il faut trouver le juste milieu”.